A LBM em cartaz: Janeiro, Fevereiro e Março

Caríssim@s leitor@s,

Long time no see! O ano começou em meio a muitas correrias e a gente ficou como? Atolado de coisas para fazer! O que foi, Tim?

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Tá bom! Só viemos aqui correndo contar o que aconteceu nos últimos três meses. Vamos logo? 🙂

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JANEIRO

Janeiro foi um mês tranquilo de estreias lbmísticas. Contamos com “Dominação” nas telonas, uma parceria com a PlayArte Pictures. Para quem gosta do gênero terror trabalhado nas possessões, o filme traz características interessantes, como o queixo do Aaron Eckhart o exorcista “terapeuta” que entra na mente das pessoas para expulsar os demônios que lá fizeram suas casinhas. Essa abordagem afasta a narrativa da linha religiosa que filmes sobre possessão costumam tomar. Uma perspectiva interessante!

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Por que é tudo tão difícil com esses demonhos, sem or?

FEVEREIRO

Passando para fevereiro, apenas muito <3 no coração. Nossas duas estreias em parceria com a Diamond Films foram nada menos do que Oscar material.

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Diva Natalie Portman no papel de Jackie. Trejeitos exagerados e modo de falar peculiar da primeira-dama foram magistralmente reproduzidos pela atriz.

Começamos na primeira semana com “Jackie”, esse recorte espetacular sobre a morte do presidente Kennedy da perspectiva da primeira-dama. O filme é de ritmo tranquilo e falas espaçadas. No entanto, escondia muitos momentos em que a pesquisa de contexto foi crucial. O tradutor principal do filme, João Artur, nos escreveu alguns parágrafos detalhando momentos do seu processo de tradução:

Dentre os vários desafios, talvez o maior deles tenha sido com a pesquisa, afinal o filme é muito preciso e, principalmente, detalhista do ponto de vista histórico. Há muitos momentos em que pessoas, locais e acontecimentos relacionados à família Kennedy são citados superficialmente, às vezes numa única fala, mas que precisei estar seguro do que estava sendo tratado antes de tomar escolhas tradutórias.

Deixo aqui dois exemplos:

Ao ser orientada para desembarcar pela traseira do avião para evitar a imprensa, Jackie Kennedy diz ao médico pessoal do ex-presidente que não o faria, pois isso seria uma conquista para a Birch Society, grupo da direita conservadora que antes da visita de John Kennedy a Dallas, onde o presidente foi morto, organizou protestos e espalhou mais de 5 mil cartazes do tipo “Procura-se” com a foto do presidente, com todo o tipo de acusação, inclusive de ser “frouxo” com os comunistas. Foi uma decisão simples, então, a de sempre mencionar o nome completo do grupo, John Birch Society, para contextualizá-lo melhor para o público.

Mais tarde, pouco antes do funeral do presidente, seu irmão, o senador Bob Kennedy, diz que a família parece estar “administrando uma pousada” ao receber tantos convidados para o velório/funeral. E, em meio a sobrenomes de expressão na sociedade americana da época e ofertas de hospedagem em residências de verão e afins, ouvimos que “And Truman is at Blair House”. Uma leitura menos atenta num primeiro momento, propiciou uma legenda como “E o Truman está na casa dos Blair” ou “E o Truman está na casa da família Blair”. Porém, ao prestar mais atenção na preposição “at”, resolvi fazer uma pesquisa mais aprofundada e confirmei minha suspeita. A Blair House é uma residência oficial do governo americano, como a Casa Branca, mais especificamente um palácio em Washington destinado a receber convidados do presidente. E a versão ficou “Truman está hospedado na Blair House.”

Obrigada, Johnny 🙂

Tocando o barco para a última semana do mês, a estreia de “Moonlight – Sob a luz do luar” emocionou todos nós da LBM e, com certeza, todos que tiveram o privilégio de assistir a esse filme indescritivelmente fantástico. O filme já estreou por aqui dono de um Oscar novinho de Melhor Filme; maior sucesso, impossível. Não vamos estragar dando spoilerzinhos. Diremos apenas: assistam.

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O arrepiante azul que perpassa todo o filme.

Temos, no entanto, muito a dizer sobre a tradução desse filme. Um projeto trabalhoso, que contou com muitas estratégias de tradução, e muita sensibilidade também. Um filme delicado para o tradutor, pois o sotaque e o linguajar utilizado pelas personagens dificulta o trabalho até mesmo do mais proficiente dos ouvintes de inglês, colocando as legendas em destaque. Hora de jogar na retaguarda? Nada disso; hora de ousar muito. Felizmente, recebemos muitos elogios por esse trabalho, incluindo esta declaração pública de uma colega de profissão:

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Estamos preparando um post especial apenas sobre o “Moonlight”, para que possamos compartilhar mais informações e gerar mais discussão. Enquanto isso, deixo vocês com nossa legenda preferida do filme:

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Ainda dá pra ver toda essa beleza nos cinemas, o filme ainda está em cartaz em algumas poucas salas em Sampa e no Rio.

MARÇO

Seguindo na escadinha que está 2017, março veio com três estreias do ratinho. Começamos com “Personal Shopper”, nossa parceria com a chiquérrima Imovision. Esse drama meio apavorante, que nos deixou com a pulga atrás da orelha, chegou causando por onde passou e ganhou avaliação cinco estrelas de nada menos que The Guardian. Os adjetivos “captivating, bizarre, tense, fervently preposterous and almost unclassifiable” estão presentes na crítica da publicação (leia aqui). Vale a pena dar uma olhada nessas comprinhas, hein?

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Confesso que sou muito parcial a fotos em transporte público, são sempre as melhores.

Na mesma semana, “Versões de um Crime” foi para as telonas mostrar Keanu Reeves montado na elegância, de terno e muito cinismo. O suspense judicial se desenrola no tribunal, enquanto o ator, que interpreta um advogado um defesa, constrói seu caso sem saber todos os fatos, pois seu cliente se recusa a falar qualquer coisa a respeito. A tradução foi um baita trabalhão com todos os termos jurídicos e suas peculiaridades territoriais. Ao lidar com materiais internacionais que trazem conteúdo jurídico, é sempre MUITO importante consultar especialistas e material especializado para fazer as equivalências certas. No caso do nosso filme aqui, a LBM contou com a consultoria de dois advogados. Isso porque diferenças entre o direito brasileiro e o direito americano podem ocasionar uma série de besteiras na legenda, desde de termos traduzidos literalmente e neologismos mal-vindos (já vi uns “assassinatos de primeiro grau” por aí) até equívocos grosseiros na interpretação dos termos. Quem já teve que lidar com uma situação tradutória parecida sabe que a common law americana e a civil law brasileira são sistemas totalmente diferentes, cada qual seus termos e significados. Não se enganem, tradução é muito estudo!

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Garoto, desembucha.

“O Espaço Entre Nós”, da Diamond Films, fechou nosso primeiro trimestre. Seria o primeiro amor um sentimento extraterrestre? O filhote de ficção científica com romance adolescente traz essa metáfora em si e muitas reviravoltas. Para quem perdeu no cinema, o filme chega ao Netflix já já!

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Terra ou Marte? Fotografia capciosa!

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E agora? A gente volta ao trabalho! Logo logo tem mais 😉

Dos kung-fus e faroestes aos filmes pornôs

Caras e caros, voltamos para a segunda edição de guest posts. Desta vez,  ele, the one and only, sócio-pai, também conhecido como Claudio Fragano.

Como vocês já sabem, o sócio-pai já trabalha como tradutor para cinema há mais de 40 anos e tem muita história para contar. Para além de especificidades de tradução, ele é muito versado nos meandros da indústria cinematográfica. Sendo assim, ele consultou seu banco de dados de evidências anedóticas e nos escreveu um breve relato imperdível. Vamos lá?

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Voltando um pouco na minha trajetória como tradutor, lembro o período do fim da década de setenta e começo da década de oitenta, em que começaram a proliferar os filmes de faroeste e kung-fu. Foi um período fantástico em termos de produção, pois a quantidade desses filmes era muito grande e eram, em geral, muito pouco falados: a grande maioria dos faroestes era italiana, os chamados faroestes espaguete, e os filmes de kung-fu eram pura ação. Eram filmes bem diferentes dos de hoje, pois se passavam em aldeias, apesar da história girar invariavelmente em torno do mesmo tema: a vingança, assim como nos faroestes.

Saudades do Clint antes de entrar para o Partido Republicano.

O único problema era que quase todos os filmes de kung-fu eram falados em chinês, e vinham com lista de diálogos em inglês ou até mesmo sem lista. Naquela época, fazíamos a pietagem dos filmes em nossa moviola, ou seja, indicávamos para o laboratório a posição das legendas. Conseguimos na ocasião a inestimável colaboração do Liu que nos ajudava tanto na tradução dos filmes sem lista de diálogos como na marcação de todos eles. Uma breve pausa para falar sobre o Liu: ele era sobrinho de um chinês que também fazia importação de filmes chineses para o Brasil. Na verdade, a dele era a pintura, mas, por causa do conhecimento da língua, fizemos dele nosso colaborador. Percebíamos que muita coisa era “chutada” ou faltava alguma coisa, pois a mesma legenda ficava muito tempo na tela. Por isso a ajuda dele era tão bem-vinda. A verdade, no entanto, era que ninguém ligava muito para as falas nesses filmes. Mas, como tudo que é bom dura pouco, a onda passou.

Infelizmente, o sócio-pai não se lembra de nenhum título. Mas ele diz que era algo bem parecido com isto.

Mas eis que mamata semelhante volta a aparecer no fim dos anos oitenta e começo dos anos noventa. Chegam os filmes pornôs, cuja destinação são algumas salas específicas no centro da cidade. Dentre estas, a de maior destaque são as duas salas do Cine Art Palácio na Avenida São João. Antes de falar mais especificamente desse nicho, vale lembrar uma curiosidade. A princípio, a exibição desses filmes era proibida pela Censura (hoje denominada Classificação Indicativa), o que obrigava os distribuidores a entrar com a liminar para poder exibir tais filmes. Essas liminares costumavam ser concedidas e cassadas depois de algum tempo. Mas o tempo que ficavam em vigor era suficiente para que o filme cumprisse sua trajetória nas salas de exibição.

Hoje só tem igreja!

Nos primeiros tempos, a afluência de público era imensa, o que fez com que surgissem muitas distribuidoras que se dedicavam exclusivamente a esse segmento. Vinham filmes pornôs de diversos países, como Estados Unidos, Itália, França, Alemanha, etc. Por um bom tempo, ocuparam grande espaço em nossa lista de trabalho, pois além da grande quantidade de filmes, eram pouco falados e muito fáceis de se traduzir (por que será?), embora, como dá para imaginar, sempre muito repetitivos. Havia ainda pequenos distribuidores que se preocupavam com a qualidade da tradução de seus filmes. Lembro que numa visita a um desses pequenos distribuidores, na Rua do Triunfo, a quem haviam indicado meu nome para tradução, em determinado momento da entrevista, o distribuidor me perguntou: “Você tem a mente pornográfica?” Hilário.

Mas esse filão, apesar das tentativas de alguns produtores de romantizar mais as histórias, tinha seu tempo de vida contado e durou uns quatro ou cinco anos, para azar dos pequenos distribuidores que se dedicaram exclusivamente à importação desse gênero de filme, pois tiveram que fechar suas portas.

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A LBM nunca traduziu filme pornô, mas temos experiências com muitos outros gêneros cinematrográficos! Quer saber mais sobre nosso portfólio? Clique aqui!