O segredo do triunfo internacional de “Parasita”

Car@s amig@s do ratinho,

Retomo as postagens da nossa Toca hoje com uma mistura do Brasil com o Egito de temas apaixonantes: cinema, premiações e, por que não, legendas. Quem está ligado no mundo da sétima arte sabe que “Parasita” papou o Oscar de melhor filme na cerimônia da Academia este ano, sendo o primeiro filme estrangeiro e falado em língua estrangeira a ter essa honra na história da premiação. Isso sem contar todos os outros prêmios conquistados no último domingo: Melhor Diretor para Bong Joon-ho, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Roteiro Original.

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“Alguém perguntou a Bong Joon-ho por que ele decidiu fazer Parasita em coreano. Será que vão perguntar a todos os diretores americanos por que fazem seus filmes em inglês?”
Legenda (bem feita) está aí pra isso, gente!

Essa proeza já está rendendo muitas discussões sobre como o cinema será mudado para sempre e as novas possibilidades que se abrem para obras legendadas do mundo todo. Muito tem se falado também da admirável política implantada pela Coreia do Sul para exportar sua cultura e se tornar relevante em diversas áreas artísticas, tornando a economia criativa sua principal economia. O planejamento e execução dessa política admira porém não surpreende, especialmente se lembrarmos que a Coreia tem o alfabeto mais lógico e democrático dentre todas as línguas escritas, o Hangul. Ele foi criado no século 15 pelo Rei Sejong, o Grande (que homem!) como uma alternativa ao uso do chinês no país, tida como uma língua de elite e de difícil acesso para o povo. Vemos a importância que a língua, o mais importante elemento da cultura humana, tem na retomada social de um país. Mais ainda: para ser exportada com sucesso, uma cultura deve ser levada a sério (e consumida) internamente.

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Esse é o cara! Saiba tudo sobre o Rei Sejong e o Hangul nesta matéria super completa (em inglês).

Ainda assim, sabemos a resistência que muitas culturas (hello, America!) têm em assistir a filmes legendados, abrindo mão de uma grande quantidade de obras incríveis. Do outro lado desse espectro, nos perguntamos se, com toda a expansão do audiovisual que testemunhamos nos últimos anos, a tradução de obras audiovisuais é criteriosa o suficiente para transportar culturas de forma eficiente. Como colocado por Kim em entrevista para The Korea Herald, “não é o trabalho dos legendadores traduzir literalmente ou apenas transcrever as falas, mas sim identificar a mensagem que o diretor quer passar e ‘construir a linguagem’ para que os espectadores estrangeiros cheguem ao cerne da mensagem”. Ele continua: “É um ofício difícil, que requer conhecimento profissional tanto em cinematografia quanto em proficiência linguística” (leia a matéria completa em inglês aqui).

Bong Joon-ho não é nenhum estranho para a LBM! Em 2014, traduzimos o filme “Expresso do Amanhã” para exibição nos cinemas aqui no Brasil, com distribuição da PlayArte Pictures.

Kim diz ainda que, apesar de legendas serem “o início e a essência” do consumo dos filmes por públicos não-coreanos, ainda não há um padrão bem estabelecido para a execução desse trabalho. Com base na nossa experiência de décadas de tradução para cinema aqui na LBM, foram pouquíssimas as vezes em que filmes internacionais chegaram até nós com orientações de tradução, em especial ditados pelo diretor ou diretora da obra. Uma das exceções é o diretor Steven Soderbergh, que sempre envia considerações sobre traduções-chave de seus filmes e tem uma equipe dedicada a revisar as versões em todas as línguas. Há alguns anos, tivemos um acontecimento inusitado envolvendo a tradução de “Logan Lucky – Roubo em Família” – clique aqui para ler a matéria que escrevemos na época contando tudo!

Desde sua criação em 2014, o blog da LBM tem como seu principal objetivo trazer informações e discussões relevantes para nosso ofício de tradução audiovisual. Esses insights vêm do nosso dia a dia, de uma equipe que conta com pessoas de formações diversas, das Letras e Tradução ao Cinema. A discussão das obras que chegam até nós é uma parte vital e indispensável do trabalho que desenvolvemos em legendagem, acessibilidade e pós-produção.

Revisitando quase 6 anos de conteúdo, separamos abaixo alguns links para artigos escritos exclusivamente para ajudar tradutores, legendadores e intérpretes a ir mais a fundo no mundo da cinematografia e aprimorar seu trabalho com essa linguagem. Não deixe de nos contar o que vocês acharam!

1. Sobre entender melhor de cinema para traduzir:

Cinema para tradutores de AV: Os elementos cinematográficos

Cinema para tradutores de AV: O diálogo como elemento gráfico

2. Sobre ousar na hora de traduzir:

Daredevilish Subtlitling – quando o seguro não satisfaz a alma criativa

Daredevilish Subtitling II

Daredevilish Subtitling III – Especial Netflix

3. Sobre pensar a tradução:

Isso é um adianto – ou, Mais alguns motivos pelos quais é tão difícil trabalhar com legendagem

Tira esse tira daí: das escolhas de tradução

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Quer saber mais sobre o trabalho da Little Brown Mouse? Conheça nossos serviços!

A LBM em cartaz: Janeiro, Fevereiro e Março

Caríssim@s leitor@s,

Long time no see! O ano começou em meio a muitas correrias e a gente ficou como? Atolado de coisas para fazer! O que foi, Tim?

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Tá bom! Só viemos aqui correndo contar o que aconteceu nos últimos três meses. Vamos logo? 🙂

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JANEIRO

Janeiro foi um mês tranquilo de estreias lbmísticas. Contamos com “Dominação” nas telonas, uma parceria com a PlayArte Pictures. Para quem gosta do gênero terror trabalhado nas possessões, o filme traz características interessantes, como o queixo do Aaron Eckhart o exorcista “terapeuta” que entra na mente das pessoas para expulsar os demônios que lá fizeram suas casinhas. Essa abordagem afasta a narrativa da linha religiosa que filmes sobre possessão costumam tomar. Uma perspectiva interessante!

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Por que é tudo tão difícil com esses demonhos, sem or?

FEVEREIRO

Passando para fevereiro, apenas muito <3 no coração. Nossas duas estreias em parceria com a Diamond Films foram nada menos do que Oscar material.

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Diva Natalie Portman no papel de Jackie. Trejeitos exagerados e modo de falar peculiar da primeira-dama foram magistralmente reproduzidos pela atriz.

Começamos na primeira semana com “Jackie”, esse recorte espetacular sobre a morte do presidente Kennedy da perspectiva da primeira-dama. O filme é de ritmo tranquilo e falas espaçadas. No entanto, escondia muitos momentos em que a pesquisa de contexto foi crucial. O tradutor principal do filme, João Artur, nos escreveu alguns parágrafos detalhando momentos do seu processo de tradução:

Dentre os vários desafios, talvez o maior deles tenha sido com a pesquisa, afinal o filme é muito preciso e, principalmente, detalhista do ponto de vista histórico. Há muitos momentos em que pessoas, locais e acontecimentos relacionados à família Kennedy são citados superficialmente, às vezes numa única fala, mas que precisei estar seguro do que estava sendo tratado antes de tomar escolhas tradutórias.

Deixo aqui dois exemplos:

Ao ser orientada para desembarcar pela traseira do avião para evitar a imprensa, Jackie Kennedy diz ao médico pessoal do ex-presidente que não o faria, pois isso seria uma conquista para a Birch Society, grupo da direita conservadora que antes da visita de John Kennedy a Dallas, onde o presidente foi morto, organizou protestos e espalhou mais de 5 mil cartazes do tipo “Procura-se” com a foto do presidente, com todo o tipo de acusação, inclusive de ser “frouxo” com os comunistas. Foi uma decisão simples, então, a de sempre mencionar o nome completo do grupo, John Birch Society, para contextualizá-lo melhor para o público.

Mais tarde, pouco antes do funeral do presidente, seu irmão, o senador Bob Kennedy, diz que a família parece estar “administrando uma pousada” ao receber tantos convidados para o velório/funeral. E, em meio a sobrenomes de expressão na sociedade americana da época e ofertas de hospedagem em residências de verão e afins, ouvimos que “And Truman is at Blair House”. Uma leitura menos atenta num primeiro momento, propiciou uma legenda como “E o Truman está na casa dos Blair” ou “E o Truman está na casa da família Blair”. Porém, ao prestar mais atenção na preposição “at”, resolvi fazer uma pesquisa mais aprofundada e confirmei minha suspeita. A Blair House é uma residência oficial do governo americano, como a Casa Branca, mais especificamente um palácio em Washington destinado a receber convidados do presidente. E a versão ficou “Truman está hospedado na Blair House.”

Obrigada, Johnny 🙂

Tocando o barco para a última semana do mês, a estreia de “Moonlight – Sob a luz do luar” emocionou todos nós da LBM e, com certeza, todos que tiveram o privilégio de assistir a esse filme indescritivelmente fantástico. O filme já estreou por aqui dono de um Oscar novinho de Melhor Filme; maior sucesso, impossível. Não vamos estragar dando spoilerzinhos. Diremos apenas: assistam.

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O arrepiante azul que perpassa todo o filme.

Temos, no entanto, muito a dizer sobre a tradução desse filme. Um projeto trabalhoso, que contou com muitas estratégias de tradução, e muita sensibilidade também. Um filme delicado para o tradutor, pois o sotaque e o linguajar utilizado pelas personagens dificulta o trabalho até mesmo do mais proficiente dos ouvintes de inglês, colocando as legendas em destaque. Hora de jogar na retaguarda? Nada disso; hora de ousar muito. Felizmente, recebemos muitos elogios por esse trabalho, incluindo esta declaração pública de uma colega de profissão:

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Estamos preparando um post especial apenas sobre o “Moonlight”, para que possamos compartilhar mais informações e gerar mais discussão. Enquanto isso, deixo vocês com nossa legenda preferida do filme:

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Ainda dá pra ver toda essa beleza nos cinemas, o filme ainda está em cartaz em algumas poucas salas em Sampa e no Rio.

MARÇO

Seguindo na escadinha que está 2017, março veio com três estreias do ratinho. Começamos com “Personal Shopper”, nossa parceria com a chiquérrima Imovision. Esse drama meio apavorante, que nos deixou com a pulga atrás da orelha, chegou causando por onde passou e ganhou avaliação cinco estrelas de nada menos que The Guardian. Os adjetivos “captivating, bizarre, tense, fervently preposterous and almost unclassifiable” estão presentes na crítica da publicação (leia aqui). Vale a pena dar uma olhada nessas comprinhas, hein?

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Confesso que sou muito parcial a fotos em transporte público, são sempre as melhores.

Na mesma semana, “Versões de um Crime” foi para as telonas mostrar Keanu Reeves montado na elegância, de terno e muito cinismo. O suspense judicial se desenrola no tribunal, enquanto o ator, que interpreta um advogado um defesa, constrói seu caso sem saber todos os fatos, pois seu cliente se recusa a falar qualquer coisa a respeito. A tradução foi um baita trabalhão com todos os termos jurídicos e suas peculiaridades territoriais. Ao lidar com materiais internacionais que trazem conteúdo jurídico, é sempre MUITO importante consultar especialistas e material especializado para fazer as equivalências certas. No caso do nosso filme aqui, a LBM contou com a consultoria de dois advogados. Isso porque diferenças entre o direito brasileiro e o direito americano podem ocasionar uma série de besteiras na legenda, desde de termos traduzidos literalmente e neologismos mal-vindos (já vi uns “assassinatos de primeiro grau” por aí) até equívocos grosseiros na interpretação dos termos. Quem já teve que lidar com uma situação tradutória parecida sabe que a common law americana e a civil law brasileira são sistemas totalmente diferentes, cada qual seus termos e significados. Não se enganem, tradução é muito estudo!

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Garoto, desembucha.

“O Espaço Entre Nós”, da Diamond Films, fechou nosso primeiro trimestre. Seria o primeiro amor um sentimento extraterrestre? O filhote de ficção científica com romance adolescente traz essa metáfora em si e muitas reviravoltas. Para quem perdeu no cinema, o filme chega ao Netflix já já!

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Terra ou Marte? Fotografia capciosa!

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E agora? A gente volta ao trabalho! Logo logo tem mais 😉