Caros quarentenados,
Neste domingo de Páscoa de isolamento, os ovos que trazemos são especiais! Você já ouvir falar em Easter eggs em obras audiovisuais?
São daqueles que você precisa encontrar como numa gincana: objetos ou imagens que fazem referência à cultura pop, ou que podem antecipar a trama do filme de alguma forma. Hoje vamos compartilhar alguns Easter eggs do segundo tipo, os que o diretor Ari Aster deixou escancarado em seu filme “Midsommar – O Mal Não Espera a Noite, de 2019”. Espera, seriam então… Aster eggs?
Nosso supervisor de pós-produção, especialista em roteiro e cinéfilo Ivan M. Franco descreve de forma bem-humorada todas surpresinhas que o filme traz para vocês (clique aqui para saber mais sobre a nossa equipe). Preparados?
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“Midsommar” é um filme surpreendente. Quer dizer, mais ou menos. Mas logo mais eu me explico!
Ele começa nos mostrando o difícil momento que Dani, a protagonista, está vivendo: um grande drama familiar, acompanhado de um namoro que não parece ir muito bem. Em plena luz do dia, os eventos mais chocantes se densenrolam e vamos ficando embasbacados com o rumo que as coisas tomam. E nos perguntamos se fomos ingênuos de acreditar que aquilo tudo não estava por vir. E a resposta é que sim, fomos muito ingênuos. Spoiler alert: se você não assistiu ao filme, é melhor não continuar!
Se “Midsommar” fosse um Kinder Ovo, a surpresa estaria estampada na embalagem. Isso porque o filme todo está logo na primeira cena, na forma de uma pintura. A pintura é o grande Aster egg do fime. Ela dura aproximadamente vinte segundos e é separada pelas quatro estações, explicadas no filme como as quatro etapas da vida. Aqui já temos a narrativa em que Dani estará inserida: a separação entre ela e sua família, começando com a morte no inverno; e um recomeço da sua história, terminando com a vida no meio do verão.
Seguindo na análise cronológica da pintura, vemos Dani conectada a seus pais por longos tubos. Os tubos antecipam a morte deles por asfixia junto da irmã com as mangueiras conectadas ao escapamento do carro no início do filme. Também temos uma caveira cortando o tubo que sai do umbigo de Dani, simbolizando a separação dela da família. O porque desse esqueletinho estar usando botas verdes, eu não sei. Mas está fofo.
A segunda parte mostra Pelle desenhando bem bonzinho, como se apenas observasse. Porém está do alto, revelando-o como alguém que tem controle das situações, tipo um títere. Nessa mesma parte, temos Christian consolando Dani pela morte de sua família, mas cruzando os dedos atrás das costas. Alguém com mais de seis anos conta pra ele que não funciona?
Em seguida, o grupo de amigos de Christian: Josh, carregando livros e representando o culto; e Mark, com chapéu de bobo da corte (The Fool). É interessante notar que, quando Mark pergunta do que as crianças estão brincando, respondem para ele “esfola-bobo” (skin the fool) e, não muito mais tarde, Mark tem seu rosto arrancado. Pelle aparece guiando o grupo enquanto toca uma flauta. Ele é o Flautista Mágico do conto, que encanta e leva embora todas as crianças da cidade de Hamelin.
Essa terceira parte se passa na vila de Hårga, onde mulheres ostentam taças e caveiras. Talvez exista a chance de fazer escolhas certas ou erradas, determinando seu destino na vila. No caso do nosso grupo de amigos, quanto azar! No alto, temos o trono no qual Dani se sentará quando se tornar a Rainha de Maio, além do casal de idosos que saltam do penhasco. Aqui é importante ressaltar que os rostos dos idosos são os mesmo que dos pais de Dani, uma alusão às várias vezes em que Dani alucina ver sua família na vila. Temos também a primeira (mas não única) aparição do urso que será sacrificado e usado para colocar Christian dentro. Se tem gente que achava que a vila do Chaves era na verdade o inferno, não conheceu Hårga!
A última parte da pintura mostra a dança em que Dani se torna a Rainha de Maio e pessoas sentadas à mesa para o ritual. Várias caveiras fofas também dançam aqui, representando os sacrifícios que serão feitos durante o festival, voluntários ou não. Mais para não.
A parte mais interessante aqui é o grande sol que aparece em oposição à caveira da primeira parte. Mas não é só isso: o filme termina com o rosto de Dani sorrindo, mesclado à construção amarela pegando fogo! Mais macabro que isso, só o sol dos Teletubbies!
Enfim, estes são os principais Aster eggs que encontramos referenciados na pintura que abre o filme. Não é a primeira vez que Ari faz isso em uma obra sua. Quem sabe na próxima vez a gente mostre os segredos escondidos em “Hereditário”? 😉
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