A LBM em cartaz: “A Noiva” e “Um Perfil Para Dois”

E, com vocês, ele. O único, incomparável e indispensável gerente de projetos da LBM: Johnny.

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Semana passada o ratinho não deu as caras aqui, mas como vocês já sabem, isso só acontece quando ele está muito atarefado, aka trabalhando pra caramba, e não sobra um tempo digno pro blog. Mas não tem problema, hoje a gente se redime! Vamos falar de “A Noiva”, esse terrorzão medonho que estreou semana passada, no Dia de Finados (Paris Filmes, we see what you did you there, OK?), e “Um Perfil para Dois”, o romance francês que tem um pé na comédia e outro no drama, a receita perfeita pra deixar qualquer trama bem interessante. Duvida? Vem comigo! Tá na hora de falar de dois trabalhos bem diferentes e que foram feitos em momentos beeeem diferentes também.

Vai com calma, J!

“Um Perfil Para Dois” é um filme muito agradável, com uma narrativa bem construída e uma boa pedida para os menos habituados com o cinema francês fugirem dos blockbusters americanos… por que, né? Nem tudo é filme de herói. Vale a pena “arriscar” ver algo diferente de vez em quando! Não vou me alongar na trama do filme, mas posso dizer que quem assistiu gostou  e recomenda. Leia aqui a crítica da Bianca Zasso para o Papo de Cinema para saber um pouco mais.

Por incrível que pareça, o ratinho já trabalhou em “Um Perfil Para Dois” há alguns meses, afinal a película fez parte da programação do Festival Varilux, que ocorreu de 7 a 21 de junho em diversas cidades do país. Perdeu esse festivalzão lindo? Não chora! Ano que vem tem mais! Fica ligado no site e ativa todas as notificações possíveis.

Quando foi a última vez que você viu um filme francês? Amelie Poulain não conta!

O ratinho fez barba, cabelo e bigode e cuidou tanto da legendagem quanto da acessibilidade de “Um Perfil Para Dois”, e duas coisas chamaram a atenção da nossa equipe dessa vez. A leitura de diálogos e a preparação para a interpretação de Libras. “Um Perfil…” não conta com cópias dubladas nos cinemas, isso significa que, para tornar o filme completamente acessível ao público com deficiência visual, gravamos além da audiodescrição, a leitura dos diálogos, ou seja, um profissional que não pode ser o mesmo audiodescritor do filme, lê os diálogos dos personagens ao longo do filme.

Não decepcione o Pierre e vá ver o filme nas telonas antes que ele saia de cartaz.

Muita gente pode achar estranho ter uma única voz responsável pelas falas de todos os personagens, mas acreditem, é questão de costume e, com uma boa mixagem, fica bacana. O que está se convencionando chamar de leitura de diálogos aqui, na verdade, nada mais é do que o bom e velho voice-over, que desde sempre é a modalidade de tradução preferida de alguns países do leste europeu como a Polônia. Confiram aqui a Julia Roberts e o Hugh Grant trocando uma ideia com a mesma voz. Depois de alguns minutos, já estou curtindo o filme. Sem entender lhufas, é claro! kk

Em seguida, partimos para a janela de Libras, que foi um desafio à parte. Nos dias que antecederam a gravação, eu e a Paloma Bueno, nossa incansável e dedicadíssima intérprete, seguimos o protocolo para esse tipo de filme: uma decupagem simples do roteiro, com todo tipo de anotação pertinente para a interpretação. Paloma dá a letra sobre o processo:

Num primeiro momento, durante o estudo da obra, trabalhamos com base no arquivo de legenda em português, claro! Nosso gerente Johnny estava presente, esclarecendo e dando dicas do francês que não tenho, contribuindo com a tradução para a Libras.

Os três principais desafios foram: primeiro, decidir as expressões equivalentes para a Libras, considerando que isso não é tão explícito nos falantes do francês; a expressividade não é entonada se comparada ao português. O segundo foi decidir quando e como fazer indicações da trilha sonora, que acabamos indicando como “música”, e sons ambiente como “som de sirene de ambulância”; esse último relevante para a compreensão do contexto [ação-reação] em cena. Já o terceiro e não menos importante foi diferenciar “voz em off” quando uma imagem aparece. Decidimos por redução articulatória, uma forma equivalente para fazer narração discreta sem aparição de falante.

Ufa! Não parou por aí… na decupagem, identificados os personagens, partimos para a criação dos sinais com base na característica física mais marcante e permanente no decorrer do filme. Por fim, tivemos a alegria de compartilhar esse processo na XXXVI Semana do Tradutor/II Simpósio Internacional de Tradução e II Encontro do Setembro Azul em Campos do Jordão – Surdez e Acessibilidade.

Nem tudo é romance no Rio Sena e aventuras em Libras na vida do ratinho! Às vezes, ele se mete numa história de amor pra lá de macabra nos recônditos sombrios da Rússia. Em “A Noiva”, um fotógrafo descobre uma forma de perpetuar a presença de sua falecida esposa ao seu lado. (Terapia pra quê, migo?) Só que coisa boa não podia sair dessa situação, convenhamos. Mas meus posts são spoiler free, então paro por aqui.

A grande curiosidade de “A Noiva” ficou por conta de o filme, uma produção original russa, ter sido lançado no Brasil com o áudio dublado em inglês, o que fez muita gente torcer o nariz  e se perguntar: “Por que não deixar o áudio original?”. Além disso, optamos por manter os nomes dos personagens como no original, sem adaptações, da mesma forma que a dublagem americana fez. Tal adaptação seria motivada, principalmente, pelo nome do casal protagonista: Ele = Vanya e Ela = Nastya, o que poderia causar uma confusão para o espectador, mas resolvemos honrar a tradição de Tchekhov e esperamos que ele esteja orgulhoso da gente.

Calma, ninguém tá tentando matar a noiva, não. Ela já está morta!

Tem um comentário bacana? Uma curiosidade? Fala com o ratinho nos comentários ou no Facebook.. Ele adora trocar ideia. Até a próxima!

A LBM em cartaz: “Bingo – O Rei das Manhãs”

3, 2, 1… NO AR!

Hoje, “Bingo – O Rei das Manhãs” está estreando no circuito nacional e nós viemos contar para vocês como o ratinho anda de palhaçada com esse filme há um bom tempo.

Da legendagem à acessibilidade, ele passou por nós em diferentes momentos. Mas antes de entrarmos nos detalhes de TAV, a gente precisa falar sobre esse filmão. O filme está sendo um baita sucesso de crítica e é uma obra-prima do Daniel Rezende, diretor debutante, porém muito experiente. Ele esteve envolvido como editor desde o início com o projeto de renovação do cinema nacional, em filmes como “Diários de Motocicleta”, “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite”. Achamos uma vídeo-crítica que resume muito bem o que pensamos sobre o filme:

Mas e aí, mouse? O que você tem a ver com isso?

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Tudo começou há cerca de um ano, quando um corte preliminar do Bingo chegou à LBM através da parceira de longa data Gullane Entretenimento para ser legendado em inglês. E assim foi feito. As legendas foram aprontadas e ficamos no aguardo da exibição do filme em algum festival. Essa é uma trajetória comum para filmes brasileiros; serem exibidos em festivais internacionais antes de estrearem por aqui. São várias versões diferentes que percorrem os circuitos internacionais até o corte final ser fechado e exibido nos nossos cinemas. Em entrevista ao site Adoro Cinema, no entanto, o diretor disse mesmo que não havia feito o filme pensando em festivais. ”Fiz esse filme pensando em fazer um grande filme, o melhor filme que eu pudesse fazer.” Ok, Mr. Rezende! Não há dúvidas de que o filme ganhará o mundo com a tradução do ratinho. Ficamos no aguardo!

Dá uma ligada quando nossas legendas estiverem famosas.

Mais recentemente, perto da sua estreia, o palhaço mais querido do Brasil pediu ajuda ao mouse para chegar a todos os públicos. O filme teve toda a sua acessibilidade feita com a gente, que curtiu muito essa honra e agora queremos dividir algumas curiosidades com vocês. A voz da audiodescrição, por exemplo, ficou por conta do parceiro Christiano Torreão, nosso diretor de audiodescrição, que adorava o palhaço e ficou amarradão de trabalhar com o filme. A audiodescrição, que ocorre nos silêncios, ganha força quando há muita ação sem falas. Dizem as más línguas que as cenas audiodescritas de oba-oba entre Bingo e a mulherada vai mexer com a imaginação da galera!

Torreão e seu buddy Augusto Madeira na pré-estreia no Rio. Augusto interpreta o cinegrafista e amigo de balada do Bingo.

Já para a janela de Libras, muita preparação foi necessária para a interpretação. Nossa intérprete maravilhouser se preparou muito e gastou um tempão criando novos sinais. Para quem não sabe, todas as pessoas são identificadas por um sinal específico em Libras. É possível soletrar o nome com o alfabeto manual, claro, mas um sinal identificador facilita muito e cria uma identidade bacana com a língua também. No filme, em especial, em que precisamos acompanhar a velocidade da fala, soletrar toma muito tempo e é mais difícil de acompanhar. Assim, as personagens principais ganham sinais. Olha como ficou o sinal do Bingo:

Felizmente, a Paloma tem o nariz parecido com o do Bingo, o que ajudou na interpretação do personagem.

É comum que os sinais que referenciam pessoas se apropriem de alguma característica física delas. Nesse sentido, o filme trouxe algo inusitado para nossa tradução em Libras. Durante boa parte da história, o palhaço Bingo interage com Sr. Olsen, um cara meio velho, meio chato, que é um gringo que veio ao Brasil supervisionar o início da franquia do programa no Brasil. Na nossa tradução, o personagem foi identificado por um sinal que fazia menção ao seus óculos, com a intérprete levando uma mão fazendo círculo vazado ao olho.

Mr. Walker, digo, Olsen.

Mas, como diria o Bingo, a vida não é mole, não. Em diversos momentos, o Bingo se dirige ao Sr. Olsen como Sr. Parker, Sr. Walker, e assim vai, cada vez com um sobrenome diferente, mostrando total descaso com quem ele é. Como levar isso para tradução em Libras? Achamos a solução fazendo variações do sinal original dos óculos, por vezes levando as duas mãos ao rosto, outras vezes fazendo os óculos meio tortos. Paloma disse que foi algo inédito para ela! Mas legal mesmo foi interpretar a Gretchen dançando a Conga, não foi, Paloma?

Conga, la conga, conga conga conga

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Por fim, só podemos dizer uma coisa: corram para o cinema para assistir ao filme, é imperdível. Como diz o Tiago Belotti no vídeo, “clássico nacional instantâneo”.

Semana que vem voltamos com a estreia e comentários de tradução e acessibilidade de “Como Nossos Pais”, mais um filme nacional chegando com o pé na porta.

Tchau, amiguinhos!

Meu, aqui em Sampa também teve pré-estreia, meu.

A LBM em cartaz: Junho e uns quebrados

Querid@s leitores,

Após algum tempo de reclusão, o ratinho volta com seu boletim de estreias num dia mais do que oportuno: quinta-feira, o dia oficial de estreias nos cinemas! \o/

Voltamos também anunciando uma reestruturação no blog e com promessas políticas: postagens todas as quintas-feiras, honrando as estreias em tempo real ou, na ausência delas, falando sobre temas variados dedicados à tradução audiovisual. Pode ser? #pas

Então vamos ao que interessa pois temos o mês de junho inteiro e uns quebrados para discutir!

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JUNHO

O mês de junho trouxe quatro estreias bem legais da LBM nas telonas. Coisa rara de se acontecer, tivemos a estreia de dois argentinos e um documentário nacional – um verdadeiro sopro de ar fresco para quem está sempre mergulhado nas águas de Hollywood.

O mês começou com a estreia de “Inseparáveis”, da Paris Filmes, a comédia dramática que é a versão argentina do sucesso francês “Intocáveis”. Para esse job (sim, estamos tentando emplacar termos publicitários para glamourizar o mercado de tradução), pleno de putas madres e carajos, procuramos fazer um trabalho de equilíbrio da linguagem chula (❤) de forma a não deixá-la de fora e nem deixá-la pesar demais no texto. Afinal, estamos transformando a oralidade em texto escrito e isso traz nova configuração para o discurso. Uma vez que se incluem palavrões, já não podemos mais falar em censura como fator constrangedor, porém é importante que se considere a leitura do texto escrito em contraposição ao que se fala. Será que é tão confortável ler tantos palavrões quanto se escuta? Ou mesmo qualquer palavra que se repita muito? Nem o tradutor de “Rick and Morty” deu conta de escrever tantos Mortys na legenda quanto ele gostaria. Nossa simpatia!

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Se eu não guardo nem dinheiro, quem dirá guardar rancor… Não, espera, eu guardo dinheiro. MUITO DINHEIRO.

Seguindo a onda hermanística, na segunda semana partimos para a estreia de Neve Negra, também da Paris Filmes. Uma oooutra coisa bem diferente. O filme, que continua em cartaz, é um suspense pesadão que se passa basicamente na nevasca e traz flashbacks intensos. Além da legendagem, essa produção contou com legendas descritivas e audiodescrição do nosso ratinho, tornando o filme acessível. Os cinemas ainda estão se adequando para receber as versões acessíveis dos filmes, porém os materiais já estão sendo produzidos com acessibilidade para muito breve estarem amplamente disponíveis. Enquanto isso, há algumas sessões especiais para exibição desse material.

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Darín né, falar o quê?

Nessa mesma semana, “Nunca Me Sonharam” estreou com assinaturas do ratinho de cima a baixo. A parceira Maria Farinha Filmes nos confiou as versões em inglês e espanhol da produção, além da acessibilidade completa também. O documentário fala sobre educação pública e juventude brasileira, trazendo muitas visões de profissionais das áreas da Educação, Assistência Social e Saúde, além do depoimento de muitos alunos de escolas públicas. Percorrendo todo o território, o filme faz um quebra-cabeça de causas e consequências da situação da educação pública e do jovem no Brasil, criticando e inspirando mudança ao mesmo tempo. Uma lindeza <3

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Molecada de uma escola pública que manda superbem no Piauí dando depoimento <3

Poderíamos contar UMA INFINIDADE de coisas interessantes sobre as versões que preparamos de NMS, mas como não dá para abraçar o mundo, decidimos comentar a questão do título. A frase “nunca me sonharam”, que dá título ao filme, causa estranhamento. Lá pelo meio do documentário, entendemos de onde ela vem – a fala comovente de um aluno sobre seus pais e expectativas sobre o futuro. Não vamos transcrever o trecho aqui para não dar spoiler dessa parte tão crucial do filme, mas quem traduz ou se preocupa com como os títulos de filmes são traduzidos (100% da população), sabe o desafio que um título desses pode trazer.

Na versão em espanhol, a tradução foi literal – “Nunca Me Han Soñado”. É verdade que a frase fica ainda mais instigante em espanhol do que em português, parece ter menos sentido. Mas a aposta da equipe de pós-produção foi manter e intensificar o estranhamento da construção incomum que, admitamos, é um estranhamento bem poético.

Já na versão em inglês, uma tradução literal (algo como “They Never Dreamed Me” ou “I’ve Never Been Dreamed”) poderia levar o estranhamento a um extremo, sem inteligibilidade.  A escolha foi pela expressão “Not Even In a Wildest Dream”, pouco usada justamente por sua constituição gramatical um tanto estranha. Ela está intimamente associada a outra expressão bem mais comum, “wildest dreams”, que é o equivalente no português a expressões como “nem nos [meus] sonhos mais loucos”, “nem em um milhão de anos” e afins. Assim, não ficou tão explícito que os sonhos não são do locutor, como fica em “nunca me sonharam”, mas manteve-se toda a ideia de sonho e estranhamento gramatical, com um adicional dramático bem provocador e que combina muito bem com a situação apresentada pelo filme.

O documentário segue em cartaz e tem aumentado o número de locais e salas em que está disponível. Se ele não estiver em cartaz na sua cidade, não tem erro. A plataforma VIDEOCAMP disponibiliza o filme na íntegra gratuitamente para exibições em qualquer lugar do Brasil, basta entrar contato com eles. Lá você vai encontrar nossas legendas e também todo o material de acessibilidade, inclusive a janela de LIBRAS com a nossa talentosa e supersimpática intérprete Paloma Bueno Fernandes.

Não queria falar nada, mas a LBM tem a melhor intérprete do mercado.

 

 

Fechando o mês de estreias da LBM e mais uma parceria com a Paris Filmes, “Colossal” veio nos fazer dar umas risadas e ter a oportunidade de ver o filme de monstro mais inusitado do ano. Difícil saber se devemos amar ou odiar a criatura que simultaneamente é a Anne Hathaway e mata pessoas na Coreia às oito da manhã. Fica para vocês decidirem.

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Fans be like “Anne Hathaway, be my monster”

Os quebrados ficam por conta do filmão nacional “Joaquim”, que estreou em abril. Antes de estrear por aqui, o filme já havia passado pela LBM para ter suas legendas em inglês e alemão preparadas para o Festival de Berlim, onde foi o único representante brasileiro. A história desconstruída de Tiradentes agora está ganhando uma versão em espanhol para explorar novos cantos do mundo. Boa sorte, “Joaquim”!

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Já pensou em ver uma história em que Tiradentes não é exatamente um herói?

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Nos vemos semana que vem?