Dia Nacional dos Surdos

Caros leitores e leitoras,

Hoje, em celebração ao Dia Nacional dos Surdos, trazemos uma programação toda especial! Pela primeira vez na história do blog, publicamos uma tradução livre de um artigo que adoramos, feita com o carinho costumeiro pela nossa tradutora Paula Barreto.

Trata-se de uma matéria do site The Guardian sobre como o uso das legendas descritivas, ou closed captions, vem aumentando e ajudando até mesmo pessoas não surdas a compreender melhor os conteúdos audiovisuais. O texto mergulha a fundo no uso das legendas descritivas em vários cenários, inclusive a criação de memes.

Mas, acima de tudo, a matéria dá voz à comunidade surda na sua luta pela normalização das legendas, para que surdos e não surdos estejam em pé de igualdade, seja ao escolher uma série na Netflix ou entrar numa sala de cinema. E nós assinamos embaixo!

Além de ler esse textão incrível, passe nas nossas redes sociais para acompanhar o que preparamos para esse dia tão importante!

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Luzes, câmera, caption! Por que as legendas não servem mais apenas para deficientes auditivos.

Uma grande quantidade de pessoas sem problema de audição está dando preferência a assistir conteúdos legendados. Por quê? Será que as legendas deveriam se tornar o padrão?

“Minha tia foi comida por vespas.” A palavra para vespa em inglês, wasp, é também a grafia da sarcástica expressão W.A.S.P. – branco, anglo-saxão e protestante.
O meme, retirado da série Sex Education, é uma imagem da conta de Twitter No Context.

“Legendas não são só para os surdos”, diz o tweet que foi o início de tudo. “Muitos amigos meus com audição perfeita também as usam. Se você não é surdo e ativa as legendas na Netflix e na TV e gostaria de vê-las no cinema também, dê um retweet para que elas se tornem a norma!”

O post recente de @deafgirly (Deafinitely Girly) acumulou rapidamente 75.000 likes e uma enxurrada de respostas. “Eu fiquei confusa inicialmente quando vi que o post tinha bombado”, disse a blogueira londrina de 30 anos, que prefere ser chamada pelo seu nome de usuário do Twitter. “Eu saí para almoçar com a minha mãe e não parou de chegar notificação no meu celular. Mas fiquei muito satisfeita com o apoio global de gente de todas as idades às legendas. Até as pessoas que não gostam de legendas no cinema disseram que as aturariam para que os surdos pudessem ir a mais exibições de filmes.” Uma mulher até contou para DG que ativa as legendas quando está muito chapada para ver suas séries favoritas.

Como o tweet e suas muitas respostas deixaram claro, não são apenas os surdos que contam com as legendas em 2019. O que já foi uma questão de acessibilidade e um alicerce das exibições em línguas estrangeiras está se tornando uma parte inevitável dos conteúdos audiovisuais. Em um artigo para o site americano The Outline publicado no início do ano, o jornalista Sean Neumann afirmou que a legenda salvou sua relação com “Game of Thrones” ao permitir que ele lesse e processasse grandes quantidades de informação a cada episódio (“Espera, quem é Lord Mormont mesmo? É a mesma pessoa que Ser Mormont?”).

Em outras mídias, memes de TV com falas legendadas viraram padrão nas redes sociais. Contas de Twitter No Context (Sem Contexto), que separam falas do roteiro de uma série do seu significado original, estão crescendo.

“Você acha que a Margot Robbie curte filosofia?”
Imagem da série The Good Place.

Muitas das respostas que DG recebeu eram de adolescentes e jovens na casa dos vinte e poucos anos dizendo que gostam de legendas porque assim podem fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo. Além disso, considerando que as séries de TV muitas vezes estão cheias de sons ambientes ininteligíveis (sendo a mais recente delas “The Virtues”, de Shane Meadows), não é de se espantar que as legendas estejam por toda parte.

Um estudo surpreendente de 2006 do Ofcom (o órgão regulador da mídia britânica) estimou que apenas 1,5 milhão dos 7,5 milhões de telespectadores britânicos adeptos das legendas têm deficiência auditiva. A estatística pode ser de 13 anos atrás, mas o órgão regulador diz: “Nossa percepção é de que o uso de legendas vem aumentando conforme o aumento do uso de aparelhos móveis e smart, já que cada vez mais pessoas estão assistindo a programas e vídeos enquanto se locomovem.”

Christina McDermott, que trabalha com redes sociais, explica essa mudança mais detalhadamente. “Não tem nada pior do que você estar sentada quietinha em um lugar e um conteúdo que viralizou e sua mãe botou no Facebook começar a tocar bem alto”, diz ela, acrescentando que as legendas podem fisgar pessoas desinteressadas. “Da perspectiva da indústria, estamos sempre procurando vídeos curtos que façam as pessoas parar de rolar a tela e parar o que estão fazendo para assistir até o final.” Ela diz ainda que até 85% dos vídeos do Facebook são assistidos sem áudio – portanto, com legendas.

“Quero me mover como uma chita.”
Uma viagem de volta ao cinema mudo. Imagem de Parks and Recreation.

Esse conceito de atrair a atenção dos espectadores usando texto em vez de elementos visuais levou a jornalista do “New York Times” Amanda Hess a apontar que “videomakers bombados na internet estão reutilizando as mesmas técnicas adotadas no cinema mudo de 100 anos atrás”.

Cada vez mais as pessoas assistem TV por influência das redes sociais, e a TV, por sua vez, as leva de volta a essas mesmas redes. O reality show “Love Island”, por exemplo, gera uma nova quantidade de influencers do Instagram a cada temporada. Enraizado nesse ciclo está uma cultura de memes que significa que quem é rápido o suficiente para postar a imagem de uma cena já com legenda pode se deparar com likes e retweets na casa dos cinco dígitos. E, claro, há as contas No Context, nas quais até os criadores de conteúdo estão se aventurando. O Twitter oficial da série “Sex Education”, da Netflix, é chamada “no context sex education” e posta apenas imagens do programa.

Mollie Goodfellow, escritora e criativa focada em redes sociais, acredita que ativar as legendas é “bem mais fácil do que criar as próprias legendas mentalmente”. Mas essa não é a única razão para ela assistir conteúdos com auxílio de texto. “Eu uso legendas desde que sou adolescente”, diz. “Não tenho nada diagnosticado (como TDAH), mas se tem muita coisa acontecendo no lugar em que estou, ou então se estou assistindo a um filme de ação barulhento, é mais fácil para mim ativar as legendas.”

[urinando energicamente]
Exagero de informação? Orange is the New Black.

Intrigantemente, parece que as legendas atraem principalmente crianças. Henry Warren é o cofundador da Tots, ou Turn on the Subtitles (Ativem as Legendas), uma campanha nova que solicita aos criadores de conteúdo que adicionem legendas nos programas voltados para crianças em idade escolar. Inspirado pela pesquisa feita pelo acadêmico indiano Brij Kothari, Warren e seu parceiro de negócios Oli Barrett decidiram ver se as redes de televisão prestariam atenção em dados que conectam o uso de legendas a um grande aumento no nível de alfabetização.

“A estatística (em estudos já existentes) parecia boa demais para ser verdade”, Warren me conta entre reuniões com grandes emissoras britânicas. “Então tentamos entender melhor e encontramos vários experimentos de rastreamento ocular diferentes que confirmavam os dados. Quando as crianças conseguem decodificar cinco palavras ou mais, elas realmente começam a acompanhar a leitura.”

Warren pensa no papel do Tots como uma conexão entre instituições acadêmicas, como a National Literacy Trust, e as grandes emissoras, a princípio com o objetivo de fazer com que as legendas se tornem um padrão em programas voltados para crianças de 6 a 10 anos. “Acho que vai chegar uma hora que nem vamos mais pensar nisso”, ele diz. “As legendas simplesmente estarão lá.”

Como é? …alguns espectadores acharam The Virtues ininteligível.
Fotografia: Channel 4

Mas o que os surdos acham disso? Anna Gryszkiewicz, que tem 39 anos e mora em Östergötland, na Suécia, foi diagnosticada com perda auditiva neurossensorial aos 20 anos e começou a usar legendas. Ela vê o aumento do uso de legendas como uma evolução positiva. “Tem sido muito mais fácil achar ou solicitar legendas hoje em dia do que 15 anos atrás.” E acrescenta: “Os surdos vivem melhor atualmente.”

O avanço da tecnologia traz consigo preocupações sobre a qualidade das legendas. O YouTube muitas vezes usa legendas truncadas, feitas por máquinas. “Minha maior preocupação é confiar demais em tecnologias como as legendas automáticas”, diz Gryszkiewicz. “Sou engenheira e adoro tecnologia, mas não podemos nos esquecer dos aspectos sociais da perda de audição. Linguagem, comunicação e interações sociais são coisas complexas. As consequências da perda de audição ou da surdez não são o que as pessoas imaginam, e o impacto que isso tem na comunicação é muitas vezes subestimado.”

“Eu entendo que legendas de qualidade e outras ferramentas de acessibilidade são caras, e é justo usar tecnologia para reduzir custos, mas espero que levem a sério nossas opiniões quando tentamos explicar qual tipo de acessibilidade é útil e qual não é.”

Para acompanhar melhor, pessoas usam cada vez mais legendas em trens barulhentos.
Fotografia: David Gee/Alamy Stock Photo

Essa questão de alguns programas terem legenda e outros não, assim como o formato dessas legendas, é refinada por Jess Reid, da instituição beneficente Action on Hearing Loss. “O Ofcom afirma que um terço dos serviços on-demand não possui nenhum tipo de legenda”, ela diz. “Na última semana, recebemos reclamações devido ao fato do ‘Britain’s Got Talent’ ter legenda quando exibido na TV, mas não no serviço on-demand. E isso é apenas um exemplo. Recebemos frequentemente reclamações sobre programas de TV populares, de ‘Game of Thrones’ a ‘Love Island’, porque pessoas surdas e com perda de audição ainda não estão sendo levadas em conta.”

No entanto, os criadores de conteúdo têm suas objeções. Elliott Arndt, diretor de clipes musicais e curtas, tem oposições estéticas em relação às legendas. “Eu gosto de usá-las como elemento gráfico de uma produção, além da habitual ferramenta de informação”, diz ele. “Mas não é sempre que faço isso. Às vezes eu preferiria não ter que inserir legendas para manter a imagem limpa, mas a mensagem que estou tentando passar requer a presença delas. Nesse caso, tento torná-las parte do vídeo de uma maneira interessante, como, por exemplo, uma imagem que aparece para destacar certas palavras em momentos diferentes. Eu acho que para muita gente é difícil se sentir imerso na imagem se a pessoa tem que ficar lendo algo que ‘está na imagem’.”

Porém, como muitos outros, Arndt concorda que a popularização das legendas tem mais vantagens do que desvantagens, já que torna conteúdos audiovisuais mais acessíveis, compreensíveis e dinâmicos. “Tornar as legendas obrigatórias pode ser uma maneira interessante de incentivar as pessoas a criar um sistema novo”, ele diz. “Algo que não estrague a experiência visual, mas que seja adequado às necessidades de todos.”

Deafinitely Girly está totalmente otimista com as possibilidades. “Quanto mais pessoas usarem legendas, melhor”, diz ela. “Seria ótimo se fossem obrigatórias para todos os serviços de streaming e para pelo menos 50% das sessões de cinema.” Essa mudança permitiria que ela fosse ao cinema nos finais de semana assistir a lançamentos com o marido, que não tem nenhum grau de surdez. Além disso, isso significaria ter um padrão inclusivo, e não exclusivo.

“Minha surdez me deixa muito isolada às vezes”, diz DG. “Eu perco as piadas dos vídeos nas redes sociais, conteúdos viralizados não significam nada para mim e não posso acompanhar as notícias recentes de que todos estão falando no Twitter. Se as legendas fossem universais, isso mudaria completamente.”

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Os memes foram retirados da matéria original e traduzidos/explicados na legenda. Acesse o original aqui.

Por que a legenda não inclui todos os surdos?

Caros leitores e leitoras,

Nesta quinta, o papo é sério e reto: acessibilidade audiovisual para surdos e o que não sabemos sobre ela.

É comum haver questionamentos sobre por que a janela de Libras é necessária quando já há legendas descritivas. Não seria a leitura das falas a solução do problema de todos os surdos? Não, senhores.

Nossa parceira intérprete Paloma Bueno, em parceria com a também intérprete e tradutora Juliana Fernandes, escreveu esse incrível texto que trazemos abaixo, explicando as coisas que não sabemos sobre esse público que agora procuramos incluir no mundo audiovisual (postado originalmente no LinkedIn – link para o artigo original no texto).

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Muito além de uma obrigação legal, a acessibilidade (linguística, no caso) é um recurso que permite aos surdos ampla participação nos diversos espaços sociais, bem como o exercício da cidadania; é um direito e não um favor! Vez ou outra recebo questionamentos como “pra que a Libras, ou, por que a legenda em português não é suficiente? Como assim, surdo não sabe ler?”.

Nosso objetivo neste artigo nem de longe é esgotar o assunto, mas sim apresentar alguns dados no sentido de propor algumas reflexões sobre os entraves, o perigo e o erro em generalizar as necessidades.

Neste artigo, comentei especificamente sobre a insatisfação do público surdo na última propaganda eleitoral em 2016.

Alguns dados

Segundo o Censo IBGE (2010), o Brasil tem 10 milhões de surdos. Desses, 2,1 milhões têm muita dificuldade na comunicação em português escrito, pessoas com surdez profunda e usuárias da Libras – Língua brasileira de sinais.

Legislação

Já somamos décadas de lutas e leis que promovem a acessibilidade comunicacional. No entanto, a LBI – Lei Brasileira de Inclusão – é a mais recente.

A Ancine – Agência Nacional de Cinema – prevê a inclusão de recursos de acessibilidade no cinema para obras que utilizam recursos públicos. As propostas iniciais previam que até 2015 esses recursos seriam garantidos. O prazo da Ancine é que até novembro de 2018 as salas devem oferecer equipamentos para promover acessibilidades ao público de pessoas com deficiência. A câmara técnica ainda não decidiu a tecnologia-suporte a ser adotada nas salas de cinema.

Educação

No ensino público, não é novidade a grande problemática da má qualidade do ensino de línguas estrangeiras. Sabemos que é insatisfatória! E vários são os motivos, como a precária formação docente para ensino de segunda língua, por exemplo.

Lembro-me quando estava no primeiro ano do ensino fundamental aprendendo as sílabas e repetindo os escritos do quadro “bá-bé-bi-bó-bú…”, e que acredito que até os dias de hoje essa metodologia permanece, independentemente do público de alunado que a escola tem recebido! Perceba que o sistema ensina a escrita conectando-as com a pronúncia do português falado! Então eu os questiono: como os surdos aprendem a partir de uma abordagem auditiva? Obviamente que esse sistema de ensino não dá conta, nem de longe, de ensinar o português como segunda língua para os alunos surdos. É preciso considerar suas especificidades linguísticas a partir da lógica da modalidade de uma língua sinalizada e enquanto primeira língua para ensinar o português como segunda língua na modalidade escrita.

Condição histórico-linguística dos surdos

A maioria dos sujeitos surdos na atualidade nasceram em famílias de pais ouvintes, em muitos casos também a surdez é descoberta tardiamente, fazendo com que cheguem na fase escolar SEM LÍNGUA. Como aprender português sem antes ter uma primeira língua de uso social? A língua que o torna sujeito neste mundo, desenvolve aspectos de sua subjetividade e tem capacidade de dar sentido às coisas. E, ao chegarem na escola, como acreditar que vão aprender o português com fluência?

Imagine como é até hoje o ensino para surdos: defasado. De abordagem oralista, pela concepção clínico patológica da surdez. Saiba que é bem pior que o ensino de inglês. Então já dá para imaginar qual é a realidade da leitura do português para os surdos como segunda língua? Não há dados objetivos ainda, mas frequentemente vemos notícias como: “surdos não têm intérpretes em sala de aula / demanda por intérpretes é maior do que quantidade de profissionais disponíveis no mercado/ surdo processa escola ou universidade por falta de acessibilidade“, e por aí vai.

Nos dias e condições atuais, ainda não é possível cobrar por algo que não foi oferecido durante o Ensino Básico. Por esses motivos apresentados, o surdo realmente precisa de ACESSIBILIDADE EM LIBRAS!

A importância e a limitação da legenda

A legenda cumpre com seu papel para uma minoritária parcela de surdos, mas não abrange todas as necessidades, faixas etárias e condições/histórico-linguísticas; portanto não atende a todos os cidadãos surdos.

Reflita ainda…

  • No caso das crianças ouvintes analfabetas: elas não dão conta de ler as legendas e apreciar um filme ao mesmo tempo. Vemos vários adultos ouvintes também que não conseguem acompanhar versões legendadas e preferem a versão dublada.
  • Cidadania: imagine quantos eleitores gostariam de votar consciente e quantos dão votos desinformados, já que não tiveram a oportunidade de conhecer os planos de governo propostos pelo candidato. Tudo isso por falta de acessibilidade.
  • E os noticiários? Saiba que os surdos pedem aos ouvintes para explicarem o que está acontecendo no mundo. Há blogs de revistas especializadas, como a Revista D+ Inclusão e a TV INES, que selecionam notícias relevantes e as traduzem para a comunidade surda semanalmente. Somos diariamente e durante 24 horas do nosso dia expostos à informações nesta era do conhecimento, então imagine para um sujeito surdo o que é estar alienado destas oportunidades a partir da privação linguística?
  • Uma sociedade verdadeiramente justa, humana e inclusiva também é aquela que leva em consideração as especificidades das necessidades, onde a alteridade, a equidade e a diversidade são fatores de alta relevância em favor das boas práticas sociais. Os grupos minoritários necessitam ter voz e escuta, pois são a partir deles que tais práticas serão beneficamente balizadas.

Sendo assim, quando falamos em acessibilidade comunicacional ou linguística para sujeitos surdos, é de extrema importância que todas as possíveis opções estejam presentes: legenda em português escrito, janela de libras e até as informações gráficas da audiodescrição, que ajudarão tanto no entendimento contextual de acontecimentos sonoros durante a exibição do material quanto na escolha das opções presentes para melhor acompanhamento e aproveitamento das informações publicadas.

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Tapão na cara da sociedade, hein? Obrigada Paloma e Juliana pelos esclarecimentos. Sigam as intérpretes no LinkedIn para acompanhar os textos e notícias do mundo da Libras:

https://www.linkedin.com/in/palomabuenolibras/

https://www.linkedin.com/in/julianafernandestils/

Quer saber mais sobre o trabalho que fazemos com acessibilidade audiovisual? Conheça os nossos serviços!

A LBM em cartaz: “Lino” e “2:22”

Fala, pessoal!
 
João Artur, gerente de projetos da LBM falando… sequestrei o blog esta semana e vou falar um pouco sobre Legendagem para Surdos e Ensurdecidos e os lançamentos da LBM esta semana, “Lino – Uma Aventura de Sete Vidas” e “2:22 – Encontro Marcado”, dois lançamentos bem distintos, nas exigências dos serviços, dos públicos-alvo e, claro, no processo de trabalho em si. Nas postagens mais recentes no blog, mencionamos a audiodescrição e a janela de Libras, duas das principais modalidades de acessibilidade audiovisual e sempre faltava ela, a legenda para surdos e ensurdecidos. Não falta mais! Espero que gostem do post e comentem. Vai ser um prazer interagir com vocês.
 
O processo de legendagem para surdos e ensurdecidos (“Ah, mas não é closed caption que fala?” Isso é papo para outro post, mas pode deixar que a gente volta para esclarecer esse babado terminológico-conceitual em outra oportunidade) pode parecer muito sem graça para a maioria das pessoas, afinal “é só transcrever as falas dos personagens”, alguns diriam. Mas é aí que muitos se enganam! Trago aqui dois fatos importantes para a gente iniciar a nossa conversa sobre legendagem para surdos e ensurdecidos (LSE):
 
1) ela deve comunicar de maneira objetiva e clara a fala dos personagens, otimizando o tempo de leitura. Por quê? O público-alvo primário, de surdos e ensurdecidos, tem o português como segunda língua (sendo a língua de sinais, Libras no Brasil, a primeira), o que faz com que a fluência dessas pessoas não seja tão boa quanto a de um ouvinte. Sendo assim, não é “só transcrever as falas dos personagens”. É preciso levar em conta o resumo e a adaptação dessas falas, sem descaracterizar, ou descaracterizando minimamente o conteúdo original. E vocês viram ali em cima que eu falei em público-alvo primário, né? Isso mesmo… é porque as legendas na mesma língua do conteúdo audiovisual servem ainda a outro público, o de estrangeiros que estão aprendendo uma segunda língua – afinal quem nunca deu um upgrade no inglês assistindo séries, hein?
 
2) desde a introdução do som no Cinema e a sua metamorfose numa arte audiovisual, o trabalho de músicos, técnicos e operadores de áudio e sonoplastas passou a ser parte fundamental da maneira como contamos histórias na sala escura. Duvida? É só ver o exemplo recente do cultuado diretor David Lynch que, na terceira temporada da aclamada série “Twin Peaks”, além de assinar o roteiro e atuar se encarregou pessoalmente da sonoplastia de todos os 18 episódios. Pouco trabalho, né? Ou seja, o burburinho que se iniciou quando o mal-encarado pediu leite no saloon, o marulho que Jack e Rose ouviram em cima da porta (a propósito, cabia mais um) o silêncio sepulcral ao mencionar o nome de “você-sabe-quem”, tudo isso é pensado com carinho e compõe a obra audiovisual. Podemos falar ainda das características que determinado ambiente imprime sobre a voz de um personagem, como eco e reverberação; de modulações propositais, afetações e idiossincrasias e mais uma pá de coisas, mas vamos aos lançamentos da semana. =0)
 

O próprio Lynch interpreta um personagem com audição limitada e usa aparelho de surdez!

Nesta semana de feriadão nacional, o ratinho teve o prazer de tornar acessível um filme para um público muitíssimo especial, o infantil. A animação brasileira “Lino – Uma Aventura de Sete Vidas”, do Estúdio StartAnima, distribuído pela Fox, estreia em mais de 400 salas simultaneamente com LSE e audiodescrição feita pelo ratinho. (É tanta sala que se você tropeçar pode cair numa! Então aproveita e assiste o filme.) O Estúdio StartAnima é um dos pioneiros da animação no Brasil, tendo completado 50 anos em 2016, e foi responsável por diversos comerciais antes de enveredar pelos longas-metragens. Vai dizer que você não lembra desta joia?

Agora com a mesma tecnologia de animação dos grandes estúdios americanos, Lino, um rapaz azarado que virou um gato enorme, precisava de legendas um pouco mais enxutas e adaptadas que o habitual para contar a sua história, com uma velocidade de leitura para que a criançada conseguisse acompanhar melhor sua jornada. Mas nosso capricho não parou por aí, óbvio! Além da preocupação em manter todas as legendas dentro de uma velocidade média de leitura confortável para a garotada, muitas das tradicionais descrições das legendas deram lugar a onomatopeias engraçadíssimas que ajudam a dar o tom do filme e são de facílima assimilação, afinal já estão presentes nos livros infantis e nos gibis que essa galera lê. E convenhamos… cof, cof, cof! – nossa, até tossi aqui – num filme em que os personagens soltam pum, não dá pra ficar fazendo cerimônia na descrição dos sons, né? Agora corre lá e curte esse filmão. Aproveita e leva o catarrento do seu sobrinho seu sobrinho lindo. Sério… Lino vai agradar baixinhos e altinhos, pode confiar.
 
E para completar essa semana de estreia dupla da LBM nos cinemas, o ratinho caprichou nas legendas de “2:22 – Encontro Marcado”, da Playarte. E se você também passou a última temporada de Game of Thrones se perguntando que diabos o Daario Naharis ficou fazendo em Meereen, talvez a gente possa te ajudar. Um filme! =0) Nesse thriller com uma pitada de elementos cósmicos protagonizado por Daario Michiel Huisman, uma série de eventos padronizados que se encerram diariamente às 14h22 chacoalha a vida de seu personagem, Dylan, um operador de voos que quase causa a colisão de dois aviões. Em um deles, porém, estava Sarah (Teresa Palmer), que não tem três dois dragões cuspindo fogo no cangote dele e está disposta a desvendar esse mistério para garantir que eles possam continuar juntos. <3
 

Dizem as más línguas que ele acompanhou o último episódio da temporada num telão lá em Meereen.

A LBM em cartaz: “Bingo – O Rei das Manhãs”

3, 2, 1… NO AR!

Hoje, “Bingo – O Rei das Manhãs” está estreando no circuito nacional e nós viemos contar para vocês como o ratinho anda de palhaçada com esse filme há um bom tempo.

Da legendagem à acessibilidade, ele passou por nós em diferentes momentos. Mas antes de entrarmos nos detalhes de TAV, a gente precisa falar sobre esse filmão. O filme está sendo um baita sucesso de crítica e é uma obra-prima do Daniel Rezende, diretor debutante, porém muito experiente. Ele esteve envolvido como editor desde o início com o projeto de renovação do cinema nacional, em filmes como “Diários de Motocicleta”, “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite”. Achamos uma vídeo-crítica que resume muito bem o que pensamos sobre o filme:

Mas e aí, mouse? O que você tem a ver com isso?

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Tudo começou há cerca de um ano, quando um corte preliminar do Bingo chegou à LBM através da parceira de longa data Gullane Entretenimento para ser legendado em inglês. E assim foi feito. As legendas foram aprontadas e ficamos no aguardo da exibição do filme em algum festival. Essa é uma trajetória comum para filmes brasileiros; serem exibidos em festivais internacionais antes de estrearem por aqui. São várias versões diferentes que percorrem os circuitos internacionais até o corte final ser fechado e exibido nos nossos cinemas. Em entrevista ao site Adoro Cinema, no entanto, o diretor disse mesmo que não havia feito o filme pensando em festivais. ”Fiz esse filme pensando em fazer um grande filme, o melhor filme que eu pudesse fazer.” Ok, Mr. Rezende! Não há dúvidas de que o filme ganhará o mundo com a tradução do ratinho. Ficamos no aguardo!

Dá uma ligada quando nossas legendas estiverem famosas.

Mais recentemente, perto da sua estreia, o palhaço mais querido do Brasil pediu ajuda ao mouse para chegar a todos os públicos. O filme teve toda a sua acessibilidade feita com a gente, que curtiu muito essa honra e agora queremos dividir algumas curiosidades com vocês. A voz da audiodescrição, por exemplo, ficou por conta do parceiro Christiano Torreão, nosso diretor de audiodescrição, que adorava o palhaço e ficou amarradão de trabalhar com o filme. A audiodescrição, que ocorre nos silêncios, ganha força quando há muita ação sem falas. Dizem as más línguas que as cenas audiodescritas de oba-oba entre Bingo e a mulherada vai mexer com a imaginação da galera!

Torreão e seu buddy Augusto Madeira na pré-estreia no Rio. Augusto interpreta o cinegrafista e amigo de balada do Bingo.

Já para a janela de Libras, muita preparação foi necessária para a interpretação. Nossa intérprete maravilhouser se preparou muito e gastou um tempão criando novos sinais. Para quem não sabe, todas as pessoas são identificadas por um sinal específico em Libras. É possível soletrar o nome com o alfabeto manual, claro, mas um sinal identificador facilita muito e cria uma identidade bacana com a língua também. No filme, em especial, em que precisamos acompanhar a velocidade da fala, soletrar toma muito tempo e é mais difícil de acompanhar. Assim, as personagens principais ganham sinais. Olha como ficou o sinal do Bingo:

Felizmente, a Paloma tem o nariz parecido com o do Bingo, o que ajudou na interpretação do personagem.

É comum que os sinais que referenciam pessoas se apropriem de alguma característica física delas. Nesse sentido, o filme trouxe algo inusitado para nossa tradução em Libras. Durante boa parte da história, o palhaço Bingo interage com Sr. Olsen, um cara meio velho, meio chato, que é um gringo que veio ao Brasil supervisionar o início da franquia do programa no Brasil. Na nossa tradução, o personagem foi identificado por um sinal que fazia menção ao seus óculos, com a intérprete levando uma mão fazendo círculo vazado ao olho.

Mr. Walker, digo, Olsen.

Mas, como diria o Bingo, a vida não é mole, não. Em diversos momentos, o Bingo se dirige ao Sr. Olsen como Sr. Parker, Sr. Walker, e assim vai, cada vez com um sobrenome diferente, mostrando total descaso com quem ele é. Como levar isso para tradução em Libras? Achamos a solução fazendo variações do sinal original dos óculos, por vezes levando as duas mãos ao rosto, outras vezes fazendo os óculos meio tortos. Paloma disse que foi algo inédito para ela! Mas legal mesmo foi interpretar a Gretchen dançando a Conga, não foi, Paloma?

Conga, la conga, conga conga conga

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Por fim, só podemos dizer uma coisa: corram para o cinema para assistir ao filme, é imperdível. Como diz o Tiago Belotti no vídeo, “clássico nacional instantâneo”.

Semana que vem voltamos com a estreia e comentários de tradução e acessibilidade de “Como Nossos Pais”, mais um filme nacional chegando com o pé na porta.

Tchau, amiguinhos!

Meu, aqui em Sampa também teve pré-estreia, meu.

Ratinho acessível: O grande debute!

Queridíssim@s amig@s da LBM,

O post de hoje é muito especial. Dando uma pausa no tradicional boletim de estreias e nas costumeiras discussões sobre temas de TAV, hoje trazemos o debute da nossa vinheta de acessibilidade!

A LBM vem prestando serviços de acessibilidade já há algum tempo com muita dedicação e parceiros de primeira. Hoje, vocês assistirão à interpretação de Libras da Paloma Bueno Fernandes, com voz de Christiano Torreão e montagem e edição de Ivan M. Franco. As legendas foi o Maluf ratinho que fez.

Sem mais delongas, a vinheta <3

http://https://youtu.be/0l93Vb_AAic

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Se você tem materiais audiovisuais que precisam de um delivery acessível, entre em contato conosco para saber sobre o nosso portfólio. Vamos acessibilizar esse Brasilzão!