Querid@s leitores,
Após algum tempo de reclusão, o ratinho volta com seu boletim de estreias num dia mais do que oportuno: quinta-feira, o dia oficial de estreias nos cinemas! \o/
Voltamos também anunciando uma reestruturação no blog e com promessas políticas: postagens todas as quintas-feiras, honrando as estreias em tempo real ou, na ausência delas, falando sobre temas variados dedicados à tradução audiovisual. Pode ser? #pas
Então vamos ao que interessa pois temos o mês de junho inteiro e uns quebrados para discutir!
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JUNHO
O mês de junho trouxe quatro estreias bem legais da LBM nas telonas. Coisa rara de se acontecer, tivemos a estreia de dois argentinos e um documentário nacional – um verdadeiro sopro de ar fresco para quem está sempre mergulhado nas águas de Hollywood.
O mês começou com a estreia de “Inseparáveis”, da Paris Filmes, a comédia dramática que é a versão argentina do sucesso francês “Intocáveis”. Para esse job (sim, estamos tentando emplacar termos publicitários para glamourizar o mercado de tradução), pleno de putas madres e carajos, procuramos fazer um trabalho de equilíbrio da linguagem chula (❤) de forma a não deixá-la de fora e nem deixá-la pesar demais no texto. Afinal, estamos transformando a oralidade em texto escrito e isso traz nova configuração para o discurso. Uma vez que se incluem palavrões, já não podemos mais falar em censura como fator constrangedor, porém é importante que se considere a leitura do texto escrito em contraposição ao que se fala. Será que é tão confortável ler tantos palavrões quanto se escuta? Ou mesmo qualquer palavra que se repita muito? Nem o tradutor de “Rick and Morty” deu conta de escrever tantos Mortys na legenda quanto ele gostaria. Nossa simpatia!
Seguindo a onda hermanística, na segunda semana partimos para a estreia de Neve Negra, também da Paris Filmes. Uma oooutra coisa bem diferente. O filme, que continua em cartaz, é um suspense pesadão que se passa basicamente na nevasca e traz flashbacks intensos. Além da legendagem, essa produção contou com legendas descritivas e audiodescrição do nosso ratinho, tornando o filme acessível. Os cinemas ainda estão se adequando para receber as versões acessíveis dos filmes, porém os materiais já estão sendo produzidos com acessibilidade para muito breve estarem amplamente disponíveis. Enquanto isso, há algumas sessões especiais para exibição desse material.
Nessa mesma semana, “Nunca Me Sonharam” estreou com assinaturas do ratinho de cima a baixo. A parceira Maria Farinha Filmes nos confiou as versões em inglês e espanhol da produção, além da acessibilidade completa também. O documentário fala sobre educação pública e juventude brasileira, trazendo muitas visões de profissionais das áreas da Educação, Assistência Social e Saúde, além do depoimento de muitos alunos de escolas públicas. Percorrendo todo o território, o filme faz um quebra-cabeça de causas e consequências da situação da educação pública e do jovem no Brasil, criticando e inspirando mudança ao mesmo tempo. Uma lindeza <3
Poderíamos contar UMA INFINIDADE de coisas interessantes sobre as versões que preparamos de NMS, mas como não dá para abraçar o mundo, decidimos comentar a questão do título. A frase “nunca me sonharam”, que dá título ao filme, causa estranhamento. Lá pelo meio do documentário, entendemos de onde ela vem – a fala comovente de um aluno sobre seus pais e expectativas sobre o futuro. Não vamos transcrever o trecho aqui para não dar spoiler dessa parte tão crucial do filme, mas quem traduz ou se preocupa com como os títulos de filmes são traduzidos (100% da população), sabe o desafio que um título desses pode trazer.
Na versão em espanhol, a tradução foi literal – “Nunca Me Han Soñado”. É verdade que a frase fica ainda mais instigante em espanhol do que em português, parece ter menos sentido. Mas a aposta da equipe de pós-produção foi manter e intensificar o estranhamento da construção incomum que, admitamos, é um estranhamento bem poético.
Já na versão em inglês, uma tradução literal (algo como “They Never Dreamed Me” ou “I’ve Never Been Dreamed”) poderia levar o estranhamento a um extremo, sem inteligibilidade. A escolha foi pela expressão “Not Even In a Wildest Dream”, pouco usada justamente por sua constituição gramatical um tanto estranha. Ela está intimamente associada a outra expressão bem mais comum, “wildest dreams”, que é o equivalente no português a expressões como “nem nos [meus] sonhos mais loucos”, “nem em um milhão de anos” e afins. Assim, não ficou tão explícito que os sonhos não são do locutor, como fica em “nunca me sonharam”, mas manteve-se toda a ideia de sonho e estranhamento gramatical, com um adicional dramático bem provocador e que combina muito bem com a situação apresentada pelo filme.
O documentário segue em cartaz e tem aumentado o número de locais e salas em que está disponível. Se ele não estiver em cartaz na sua cidade, não tem erro. A plataforma VIDEOCAMP disponibiliza o filme na íntegra gratuitamente para exibições em qualquer lugar do Brasil, basta entrar contato com eles. Lá você vai encontrar nossas legendas e também todo o material de acessibilidade, inclusive a janela de LIBRAS com a nossa talentosa e supersimpática intérprete Paloma Bueno Fernandes.
Fechando o mês de estreias da LBM e mais uma parceria com a Paris Filmes, “Colossal” veio nos fazer dar umas risadas e ter a oportunidade de ver o filme de monstro mais inusitado do ano. Difícil saber se devemos amar ou odiar a criatura que simultaneamente é a Anne Hathaway e mata pessoas na Coreia às oito da manhã. Fica para vocês decidirem.
Os quebrados ficam por conta do filmão nacional “Joaquim”, que estreou em abril. Antes de estrear por aqui, o filme já havia passado pela LBM para ter suas legendas em inglês e alemão preparadas para o Festival de Berlim, onde foi o único representante brasileiro. A história desconstruída de Tiradentes agora está ganhando uma versão em espanhol para explorar novos cantos do mundo. Boa sorte, “Joaquim”!
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Nos vemos semana que vem?