A LBM em cartaz: Junho e uns quebrados

Querid@s leitores,

Após algum tempo de reclusão, o ratinho volta com seu boletim de estreias num dia mais do que oportuno: quinta-feira, o dia oficial de estreias nos cinemas! \o/

Voltamos também anunciando uma reestruturação no blog e com promessas políticas: postagens todas as quintas-feiras, honrando as estreias em tempo real ou, na ausência delas, falando sobre temas variados dedicados à tradução audiovisual. Pode ser? #pas

Então vamos ao que interessa pois temos o mês de junho inteiro e uns quebrados para discutir!

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JUNHO

O mês de junho trouxe quatro estreias bem legais da LBM nas telonas. Coisa rara de se acontecer, tivemos a estreia de dois argentinos e um documentário nacional – um verdadeiro sopro de ar fresco para quem está sempre mergulhado nas águas de Hollywood.

O mês começou com a estreia de “Inseparáveis”, da Paris Filmes, a comédia dramática que é a versão argentina do sucesso francês “Intocáveis”. Para esse job (sim, estamos tentando emplacar termos publicitários para glamourizar o mercado de tradução), pleno de putas madres e carajos, procuramos fazer um trabalho de equilíbrio da linguagem chula (❤) de forma a não deixá-la de fora e nem deixá-la pesar demais no texto. Afinal, estamos transformando a oralidade em texto escrito e isso traz nova configuração para o discurso. Uma vez que se incluem palavrões, já não podemos mais falar em censura como fator constrangedor, porém é importante que se considere a leitura do texto escrito em contraposição ao que se fala. Será que é tão confortável ler tantos palavrões quanto se escuta? Ou mesmo qualquer palavra que se repita muito? Nem o tradutor de “Rick and Morty” deu conta de escrever tantos Mortys na legenda quanto ele gostaria. Nossa simpatia!

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Se eu não guardo nem dinheiro, quem dirá guardar rancor… Não, espera, eu guardo dinheiro. MUITO DINHEIRO.

Seguindo a onda hermanística, na segunda semana partimos para a estreia de Neve Negra, também da Paris Filmes. Uma oooutra coisa bem diferente. O filme, que continua em cartaz, é um suspense pesadão que se passa basicamente na nevasca e traz flashbacks intensos. Além da legendagem, essa produção contou com legendas descritivas e audiodescrição do nosso ratinho, tornando o filme acessível. Os cinemas ainda estão se adequando para receber as versões acessíveis dos filmes, porém os materiais já estão sendo produzidos com acessibilidade para muito breve estarem amplamente disponíveis. Enquanto isso, há algumas sessões especiais para exibição desse material.

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Darín né, falar o quê?

Nessa mesma semana, “Nunca Me Sonharam” estreou com assinaturas do ratinho de cima a baixo. A parceira Maria Farinha Filmes nos confiou as versões em inglês e espanhol da produção, além da acessibilidade completa também. O documentário fala sobre educação pública e juventude brasileira, trazendo muitas visões de profissionais das áreas da Educação, Assistência Social e Saúde, além do depoimento de muitos alunos de escolas públicas. Percorrendo todo o território, o filme faz um quebra-cabeça de causas e consequências da situação da educação pública e do jovem no Brasil, criticando e inspirando mudança ao mesmo tempo. Uma lindeza <3

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Molecada de uma escola pública que manda superbem no Piauí dando depoimento <3

Poderíamos contar UMA INFINIDADE de coisas interessantes sobre as versões que preparamos de NMS, mas como não dá para abraçar o mundo, decidimos comentar a questão do título. A frase “nunca me sonharam”, que dá título ao filme, causa estranhamento. Lá pelo meio do documentário, entendemos de onde ela vem – a fala comovente de um aluno sobre seus pais e expectativas sobre o futuro. Não vamos transcrever o trecho aqui para não dar spoiler dessa parte tão crucial do filme, mas quem traduz ou se preocupa com como os títulos de filmes são traduzidos (100% da população), sabe o desafio que um título desses pode trazer.

Na versão em espanhol, a tradução foi literal – “Nunca Me Han Soñado”. É verdade que a frase fica ainda mais instigante em espanhol do que em português, parece ter menos sentido. Mas a aposta da equipe de pós-produção foi manter e intensificar o estranhamento da construção incomum que, admitamos, é um estranhamento bem poético.

Já na versão em inglês, uma tradução literal (algo como “They Never Dreamed Me” ou “I’ve Never Been Dreamed”) poderia levar o estranhamento a um extremo, sem inteligibilidade.  A escolha foi pela expressão “Not Even In a Wildest Dream”, pouco usada justamente por sua constituição gramatical um tanto estranha. Ela está intimamente associada a outra expressão bem mais comum, “wildest dreams”, que é o equivalente no português a expressões como “nem nos [meus] sonhos mais loucos”, “nem em um milhão de anos” e afins. Assim, não ficou tão explícito que os sonhos não são do locutor, como fica em “nunca me sonharam”, mas manteve-se toda a ideia de sonho e estranhamento gramatical, com um adicional dramático bem provocador e que combina muito bem com a situação apresentada pelo filme.

O documentário segue em cartaz e tem aumentado o número de locais e salas em que está disponível. Se ele não estiver em cartaz na sua cidade, não tem erro. A plataforma VIDEOCAMP disponibiliza o filme na íntegra gratuitamente para exibições em qualquer lugar do Brasil, basta entrar contato com eles. Lá você vai encontrar nossas legendas e também todo o material de acessibilidade, inclusive a janela de LIBRAS com a nossa talentosa e supersimpática intérprete Paloma Bueno Fernandes.

Não queria falar nada, mas a LBM tem a melhor intérprete do mercado.

 

 

Fechando o mês de estreias da LBM e mais uma parceria com a Paris Filmes, “Colossal” veio nos fazer dar umas risadas e ter a oportunidade de ver o filme de monstro mais inusitado do ano. Difícil saber se devemos amar ou odiar a criatura que simultaneamente é a Anne Hathaway e mata pessoas na Coreia às oito da manhã. Fica para vocês decidirem.

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Fans be like “Anne Hathaway, be my monster”

Os quebrados ficam por conta do filmão nacional “Joaquim”, que estreou em abril. Antes de estrear por aqui, o filme já havia passado pela LBM para ter suas legendas em inglês e alemão preparadas para o Festival de Berlim, onde foi o único representante brasileiro. A história desconstruída de Tiradentes agora está ganhando uma versão em espanhol para explorar novos cantos do mundo. Boa sorte, “Joaquim”!

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Já pensou em ver uma história em que Tiradentes não é exatamente um herói?

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Nos vemos semana que vem?

 

 

A LBM em cartaz: Janeiro, Fevereiro e Março

Caríssim@s leitor@s,

Long time no see! O ano começou em meio a muitas correrias e a gente ficou como? Atolado de coisas para fazer! O que foi, Tim?

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Tá bom! Só viemos aqui correndo contar o que aconteceu nos últimos três meses. Vamos logo? 🙂

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JANEIRO

Janeiro foi um mês tranquilo de estreias lbmísticas. Contamos com “Dominação” nas telonas, uma parceria com a PlayArte Pictures. Para quem gosta do gênero terror trabalhado nas possessões, o filme traz características interessantes, como o queixo do Aaron Eckhart o exorcista “terapeuta” que entra na mente das pessoas para expulsar os demônios que lá fizeram suas casinhas. Essa abordagem afasta a narrativa da linha religiosa que filmes sobre possessão costumam tomar. Uma perspectiva interessante!

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Por que é tudo tão difícil com esses demonhos, sem or?

FEVEREIRO

Passando para fevereiro, apenas muito <3 no coração. Nossas duas estreias em parceria com a Diamond Films foram nada menos do que Oscar material.

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Diva Natalie Portman no papel de Jackie. Trejeitos exagerados e modo de falar peculiar da primeira-dama foram magistralmente reproduzidos pela atriz.

Começamos na primeira semana com “Jackie”, esse recorte espetacular sobre a morte do presidente Kennedy da perspectiva da primeira-dama. O filme é de ritmo tranquilo e falas espaçadas. No entanto, escondia muitos momentos em que a pesquisa de contexto foi crucial. O tradutor principal do filme, João Artur, nos escreveu alguns parágrafos detalhando momentos do seu processo de tradução:

Dentre os vários desafios, talvez o maior deles tenha sido com a pesquisa, afinal o filme é muito preciso e, principalmente, detalhista do ponto de vista histórico. Há muitos momentos em que pessoas, locais e acontecimentos relacionados à família Kennedy são citados superficialmente, às vezes numa única fala, mas que precisei estar seguro do que estava sendo tratado antes de tomar escolhas tradutórias.

Deixo aqui dois exemplos:

Ao ser orientada para desembarcar pela traseira do avião para evitar a imprensa, Jackie Kennedy diz ao médico pessoal do ex-presidente que não o faria, pois isso seria uma conquista para a Birch Society, grupo da direita conservadora que antes da visita de John Kennedy a Dallas, onde o presidente foi morto, organizou protestos e espalhou mais de 5 mil cartazes do tipo “Procura-se” com a foto do presidente, com todo o tipo de acusação, inclusive de ser “frouxo” com os comunistas. Foi uma decisão simples, então, a de sempre mencionar o nome completo do grupo, John Birch Society, para contextualizá-lo melhor para o público.

Mais tarde, pouco antes do funeral do presidente, seu irmão, o senador Bob Kennedy, diz que a família parece estar “administrando uma pousada” ao receber tantos convidados para o velório/funeral. E, em meio a sobrenomes de expressão na sociedade americana da época e ofertas de hospedagem em residências de verão e afins, ouvimos que “And Truman is at Blair House”. Uma leitura menos atenta num primeiro momento, propiciou uma legenda como “E o Truman está na casa dos Blair” ou “E o Truman está na casa da família Blair”. Porém, ao prestar mais atenção na preposição “at”, resolvi fazer uma pesquisa mais aprofundada e confirmei minha suspeita. A Blair House é uma residência oficial do governo americano, como a Casa Branca, mais especificamente um palácio em Washington destinado a receber convidados do presidente. E a versão ficou “Truman está hospedado na Blair House.”

Obrigada, Johnny 🙂

Tocando o barco para a última semana do mês, a estreia de “Moonlight – Sob a luz do luar” emocionou todos nós da LBM e, com certeza, todos que tiveram o privilégio de assistir a esse filme indescritivelmente fantástico. O filme já estreou por aqui dono de um Oscar novinho de Melhor Filme; maior sucesso, impossível. Não vamos estragar dando spoilerzinhos. Diremos apenas: assistam.

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O arrepiante azul que perpassa todo o filme.

Temos, no entanto, muito a dizer sobre a tradução desse filme. Um projeto trabalhoso, que contou com muitas estratégias de tradução, e muita sensibilidade também. Um filme delicado para o tradutor, pois o sotaque e o linguajar utilizado pelas personagens dificulta o trabalho até mesmo do mais proficiente dos ouvintes de inglês, colocando as legendas em destaque. Hora de jogar na retaguarda? Nada disso; hora de ousar muito. Felizmente, recebemos muitos elogios por esse trabalho, incluindo esta declaração pública de uma colega de profissão:

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Estamos preparando um post especial apenas sobre o “Moonlight”, para que possamos compartilhar mais informações e gerar mais discussão. Enquanto isso, deixo vocês com nossa legenda preferida do filme:

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Ainda dá pra ver toda essa beleza nos cinemas, o filme ainda está em cartaz em algumas poucas salas em Sampa e no Rio.

MARÇO

Seguindo na escadinha que está 2017, março veio com três estreias do ratinho. Começamos com “Personal Shopper”, nossa parceria com a chiquérrima Imovision. Esse drama meio apavorante, que nos deixou com a pulga atrás da orelha, chegou causando por onde passou e ganhou avaliação cinco estrelas de nada menos que The Guardian. Os adjetivos “captivating, bizarre, tense, fervently preposterous and almost unclassifiable” estão presentes na crítica da publicação (leia aqui). Vale a pena dar uma olhada nessas comprinhas, hein?

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Confesso que sou muito parcial a fotos em transporte público, são sempre as melhores.

Na mesma semana, “Versões de um Crime” foi para as telonas mostrar Keanu Reeves montado na elegância, de terno e muito cinismo. O suspense judicial se desenrola no tribunal, enquanto o ator, que interpreta um advogado um defesa, constrói seu caso sem saber todos os fatos, pois seu cliente se recusa a falar qualquer coisa a respeito. A tradução foi um baita trabalhão com todos os termos jurídicos e suas peculiaridades territoriais. Ao lidar com materiais internacionais que trazem conteúdo jurídico, é sempre MUITO importante consultar especialistas e material especializado para fazer as equivalências certas. No caso do nosso filme aqui, a LBM contou com a consultoria de dois advogados. Isso porque diferenças entre o direito brasileiro e o direito americano podem ocasionar uma série de besteiras na legenda, desde de termos traduzidos literalmente e neologismos mal-vindos (já vi uns “assassinatos de primeiro grau” por aí) até equívocos grosseiros na interpretação dos termos. Quem já teve que lidar com uma situação tradutória parecida sabe que a common law americana e a civil law brasileira são sistemas totalmente diferentes, cada qual seus termos e significados. Não se enganem, tradução é muito estudo!

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Garoto, desembucha.

“O Espaço Entre Nós”, da Diamond Films, fechou nosso primeiro trimestre. Seria o primeiro amor um sentimento extraterrestre? O filhote de ficção científica com romance adolescente traz essa metáfora em si e muitas reviravoltas. Para quem perdeu no cinema, o filme chega ao Netflix já já!

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Terra ou Marte? Fotografia capciosa!

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E agora? A gente volta ao trabalho! Logo logo tem mais 😉

A LBM em cartaz: Novembro, Dezembro e bye-bye 2016!

Car@s amig@s,

Hoje é o primeiro dia do ano, sim! Estamos em clima de festa, deixando para trás um ano de desafios, realizações e crescimento e celebrando a chegada de um ano que promete mil maravilhas para quem é orelhudo e anda pela floresta.

Trazemos hoje a retrospectiva de lançamentos dos últimos dois meses, desejando a todos os nossos leitores um 2017 cheio de filmes incríveis com legendas abençoadas 🙂

Vamos lá?

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NOVEMBRO

Duas estreias em novembro, uma nacional e outra, internacional. Na primeira semana, a PlayArte Pictures abriu o mês em parceria com o mouse trazendo às telas “Mundos Opostos”, esse filme lindíssimo sobre histórias de amor em tempos de crise política e social na Grécia. O filme é um chamariz para a questão dos refugiados, que vem ganhando a merecida atenção por aqui, mas ainda é muito pouco perto do que precisa ser.

Uma das iniciativas super bacanas que temos por aqui que contempla a questão dos refugiados é o Abraço Cultural. A organização capacita refugiados para dar aulas de idiomas de forma muito séria, gerando renda e inclusão social para essas pessoas que tanto precisam. Os cursos têm um preço muito convidativo e quem faz recomenda muito. O projeto, que começou com 5 turmas há alguns anos, já conta com mais de 40, além de workshops e outras atividades. O programa é praticamente todo feito por voluntários, então você pode ajudar doando seus talentos também. Para saber mais, clique aqui.

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Os futuros amantes tendo uma conversa em very awkward English.

Na semana seguinte, o aguardado “O Vendedor de Sonhos”, baseado no best-seller homônimo de Augusto Cury, estreou nas telonas. Ninguém poderia saber indo ao cinema, mas a LBM caprichou numa versão legendada em inglês do filme para que fosse exibido em festivais internacionais antes mesmo da sua estreia por aqui. Esperamos que faça muito sucesso mundo afora com as nossas legendas!

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DEZEMBRO

Em dezembro, mais uma dobradinha nacional + internacional. Ambas estreias do dia 17, o drama de guerra “Um Estado de Liberdade” e o documentário “Marias” contaram com legendas by LBM.

“Um Estado de Liberdade”, distribuído pela Paris Filmes, conta a história de um grupo de rebeldes contra a Confederação durante a Guerra Civil Americana. Além de um recorte histórico interessante, o filme lida com a questão racial por um ângulo judicial que não costumamos ver. No tocante à tradução, procuramos diferenciar as falas dos senhores e escravos, sem causar muito estranhamento na medida do possível. Usamos, por exemplo, os termos “sinhô” e “sinhá”. O personagem principal Newton (Matthew McConaughey) ficava ali no meio termo entre os dois linguajares, outro motivo pelo qual foi importante fazer a diferenciação estratégica das variedades.

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McConaughey não vai te perdoar, confederado.

Do lado tupiniquim, “Marias” finalmente chegou às telas depois de um tempão em produção e de ter rodado festivais mundo afora. Já tínhamos divulgado o filme aqui no blog, na ocasião da exibição dele ano passado no Festival do Rio. Tivemos o prazer de trabalhar bem próximos da diretora Joana Mariani, que define o filme como a obra da sua vida. O doc foi gravado em diversos lugares da América Latina e traz discussões e insights sobre as Marias que temos por aqui e o que significa ser Maria sob vários aspectos. É um show de poesia e nós recomendamos! Da nossa parte, as legendas em português, espanhol e inglês foram feitas com muita dedicação e carinho.

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Eis o cartaz. Que fotografia, hein?

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Janeiro começa com tudo. A LBM, além das costumeiras legendagens, vem trazendo novidades incríveis, como dublagem e acessibilidade. Vamos contar tudo para vocês em breve. Nos aguardem 🙂

Curiosidades sobre a legendagem na Alemanha e países europeus

Car@s,

É verdade que nosso blog anda meio parado (meio?). Os últimos meses foram de intensas mudanças para nós todos aqui da LBM, no plano pessoal e profissional, mas podemos afirmar com alívio que são todas mudanças para a melhor! Novos projetos se formando e o trabalho continua a mil.

Para retomarmos nossas postagens, convidamos a Ana Cecília, colaboradora da LBM da equipe do alemão, para nos contar um pouco mais sobre como funciona a legendagem na Alemanha e região. Um texto muito rico e informativo. Aproveitem!

 

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“As legendas interferem menos no conteúdo de um filme do que a dublagem. E os amantes

do cinema priorizam um prazer autêntico.”

Silke Nagel

 

CURIOSIDADES SOBRE A LEGENDAGEM NA ALEMANHA E PAÍSES EUROPEUS

 

Ao longo da história do cinema, duas formas de produção de filmes estrangeiros se tornaram populares: a dublagem e a legendagem. Na Europa, países com pequena extensão territorial (Holanda, Portugal, Grécia e Romênia, por exemplo) ou com mais de uma língua cedo demonstraram suas preferências culturais por filmes legendados. Enquanto isso, França, Itália, Alemanha e demais países de língua alemã adotaram principalmente a dublagem. Nos últimos anos, entretanto, tem havido uma crescente demanda pelas legendas, focada em públicos específicos.

As primeiras legendas do cinema eram exibidas entre as imagens dos antigos filmes mudos. A partir da década de 30 do século XX, passaram a ser integradas nas imagens, sendo atualmente queimadas com laser, o que permite grande precisão e melhor legibilidade.

Starwars
Espera aí…

Na Alemanha, após a chegada do partido nazista ao poder em 1933, as produções cinematográficas eram usadas como instrumento de manipulação a serviço da ideologia totalitária. A chamada “tradução cultural” modificava diálogos originais, que eram dublados conforme indicado pelo partido nazista. Depois da guerra, entre as décadas de 1950 e 1960, o conteúdo dos filmes continuou sendo manipulado, agora para agradar os espectadores e atender aos gostos do público. Um exemplo famoso foram as “mutilações” feitas no filme Casablanca, produção norte-americana, onde as cenas com nazistas foram retiradas e substituídas por uma história de espionagem.

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Referência da foto do filme Casablanca: *By Bill Gold – http://www.impawards.com/1942/casablanca.html, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=25315862

A partir dos anos 80, com a chegada ao mercado do aparelho de vídeo cassete e posteriormente do DVD, o público começou a perceber as alterações grotescas inseridas nas produções e passou a demandar mais respeito pela fidelidade ao original. A nova tecnologia inibiu a alteração deliberada do conteúdo do filme pela dublagem e diminuiu a possibilidade dos cortes de trechos do original.

Atualmente, enquanto a dublagem continua sendo a opção principal do público do mainstream alemão, as legendas conquistam importantes nichos específicos de mercado. Há uma crescente demanda por legendagem, que se intensificou nos últimos anos, buscando atender principalmente às exigências dos mercados específicos de produção de DVDs e dos canais digitais de televisão por assinatura. Tais canais costumam ter um público mais restrito e produções com financiamentos mais baixos, tornando a legendagem a opção ideal, com custos menores.

Silke Nagel, autora do livro Audiovisuelle Übersetzung: Filmuntertitelung in Deutschland, Portugal um Tschechien (Tradução Audiovisual: Legendagem de filmes na Alemanha, Portugal e República Tcheca) e profissional de legendagem, cita os grupos específicos que optam pelos filmes legendados. Os cinéfilos fazem jus ao famoso ditado alemão “A voz de uma pessoa é seu segundo rosto” e preferem os filmes em sua versão original, com legendas, pois querem ouvir o som do idioma estrangeiro e das vozes verdadeiras dos atores. Na Alemanha, os filmes legendados são exibidos para os “amantes do cinema” em salas alternativas e também podem ser encontrados em DVD.

Há também associações de deficientes auditivos que lutam pela regulamentação do uso de legendas no país, através de leis que garantam o acesso irrestrito às informações na televisão. Outro grupo que prefere as legendas é o dos estudantes de línguas estrangeiras, que buscam filmes e programas para treinarem seus conhecimentos. Assistindo às produções no idioma original podem ampliar o vocabulário, memorizar as estruturas idiomáticas e exercitar a compreensão auditiva. Uma pesquisa da Comissão Europeia sobre os europeus e seus idiomas confirma que, embora 56% da população prefira filmes dublados, os cidadãos de países que costumam legendar seus filmes são ‟mais bem treinados em diversos idiomas”.

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Ana Cecilia Montenegro Bayreuther é tradutora e revisora de textos e legendas, pós-graduada em tradução de inglês e professora de português como língua estrangeira na Alemanha, onde reside. Formada em Direito pela PUC/RJ, adora livros, artes e cinema. Prefere filmes originais com legendas, claro.

 

Referências:

Antweiler, Kathrin. Geschichte der Untertitelung. Disponível em: <http://www.fask.uni-mainz.de/cafl/doku/multimedia/untertitelung/Untertitelung-Inhalt.html#Inhalt >

Deneger, Jana. Legendagem de filmes: a voz como segundo rosto. Goethe-Institut e. V., Online-Redaktion. Disponível em: <http://www.goethe.de/ins/br/lp/kul/dub/flm/pt6456940.htm>.

Jacob, Alex. Die Geschichte der Film Synchronisation in Deutschland. Sprechersprecher. Disponível em: <http://www.sprechersprecher.de/blog/die-geschichte-der-film-synchronisation-in-deutschland>.

Staud, Sophie. Audiovisuelle Translations. Disponível em: <https://prezi.com/orahvpbzmtmg/audiovisuelle-translations/>.

Daredevilish Subtitling II

Querid@s,

Voltamos saltitantes para mais uma edição de Daredevilish Subtitling, espaço dedicado a dar visibilidade a soluções ousadas de legendagem. Se você não leu a primeira edição ou quer relembrar, clique aqui.

Nesta edição trazemos novamente três exemplos. Desta vez, no entanto,  além de um exemplo lbmístico, apresentamos ousadias de uma tradutora de cinema diva misteriosa e também de um querido colaborador. Preparad@s?

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Exemplo ousado #1

Para reafirmar a ousadia do ratinho, trazemos uma solução do filme “Um Amor a Cada Esquina”. O filme foi traduzido para os cinemas em parceria com a Mares Filmes no segundo semestre do ano passado, tendo sido uma comédia de sucesso. Apesar de não ter nada a ver com ele, lembra um pouco os moldes cômicos do Woody Allen.

A protagonista narra para uma entrevistadora durante o filme a história inusitada de como foi de garota de programa a atriz estelar. Falando sobre sua infância, surge algo curioso sobre “colas em bastão” (glue stick) ou algo parecido com isso:

E a narrativa segue. Muitas piadinhas para lá e para cá e, de repente, descobrimos que o nome de acompanhante da protagonista é “Glow Stick”!

Sim, Clô Pritt. O nome segue se repetindo filme afora, como em seguimentos como este:

O que vocês teriam feito?

 

Exemplo ousado #2

Nosso amado colaborador, gerente e amigo João Artur nos enviou um exemplo que nos fez rir muito. Em sua tradução do filme “Deu a Louca na Chapeuzinho 2”, ele teve que fazer uma certa ginástica achando soluções. Segundo ele, as personagens do filme tinham um lance com confeitaria e surgiam jogos de palavras. Vamos dar uma olhada numa dessas situações:

Genial! Ele nos contou que “pirou na batatinha” era outra opção talvez mais acessível, pois nem todos conhecem o bolo cuca. Mas resolveu ousar para manter o jogo de palavras minimamente açucarado. Arrasou.

Exemplo ousadíssimo #3

Para fechar com chave de ouro, trazemos um exemplo ma-ra-vi-lho-so e ousado-põe-ousado-nisso. A autora é a tradutora para cinema Marina Fragano Baird, que também traduziu franquias de peso como “Harry Potter” e “Senhor dos Anéis”, sendo uma personalidade bastante discreta, mas cultuada no meio. Outro detalhe biográfico relevante de sua biografia é que ela é minha tia.

Há algum tempo, fui ao cinema assistir “Amante a Domicílio”, cumprindo com meu dever de fã obsessiva do Woody Allen. Coincidentemente, a trama também envolve prostituição light, mas dessa vez se trata de um gigolô por acaso, que vira o queridinho de algumas mulheres ricas e deslumbrantes da cidade. Em conversa pré-ação, Sophia Vergara conta para ele algumas coisas que ela gosta de fazer:

Esse é um dos casos em que ler a legenda tem muito mais graça do que ouvir e entender o original. Segundo minha tia, nem seus filhos conheciam o termo – confirmando total ousadia.

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Chegamos ao fim desta edição com o coração cheio de ousadia renovada para os próximos trabalhos. Por favor, não deixem de nos enviar seus exemplos ousados, contamos com a colaboração de tod@s! Podemos ajudar na legendagem do vídeo se isso for um problema 🙂 Escrevam para blog@www.littlebrownmouse.com.br/toca-do-mouse

Até a próxima!