A LBM em cartaz: “Bingo – O Rei das Manhãs”

3, 2, 1… NO AR!

Hoje, “Bingo – O Rei das Manhãs” está estreando no circuito nacional e nós viemos contar para vocês como o ratinho anda de palhaçada com esse filme há um bom tempo.

Da legendagem à acessibilidade, ele passou por nós em diferentes momentos. Mas antes de entrarmos nos detalhes de TAV, a gente precisa falar sobre esse filmão. O filme está sendo um baita sucesso de crítica e é uma obra-prima do Daniel Rezende, diretor debutante, porém muito experiente. Ele esteve envolvido como editor desde o início com o projeto de renovação do cinema nacional, em filmes como “Diários de Motocicleta”, “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite”. Achamos uma vídeo-crítica que resume muito bem o que pensamos sobre o filme:

Mas e aí, mouse? O que você tem a ver com isso?

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Tudo começou há cerca de um ano, quando um corte preliminar do Bingo chegou à LBM através da parceira de longa data Gullane Entretenimento para ser legendado em inglês. E assim foi feito. As legendas foram aprontadas e ficamos no aguardo da exibição do filme em algum festival. Essa é uma trajetória comum para filmes brasileiros; serem exibidos em festivais internacionais antes de estrearem por aqui. São várias versões diferentes que percorrem os circuitos internacionais até o corte final ser fechado e exibido nos nossos cinemas. Em entrevista ao site Adoro Cinema, no entanto, o diretor disse mesmo que não havia feito o filme pensando em festivais. ”Fiz esse filme pensando em fazer um grande filme, o melhor filme que eu pudesse fazer.” Ok, Mr. Rezende! Não há dúvidas de que o filme ganhará o mundo com a tradução do ratinho. Ficamos no aguardo!

Dá uma ligada quando nossas legendas estiverem famosas.

Mais recentemente, perto da sua estreia, o palhaço mais querido do Brasil pediu ajuda ao mouse para chegar a todos os públicos. O filme teve toda a sua acessibilidade feita com a gente, que curtiu muito essa honra e agora queremos dividir algumas curiosidades com vocês. A voz da audiodescrição, por exemplo, ficou por conta do parceiro Christiano Torreão, nosso diretor de audiodescrição, que adorava o palhaço e ficou amarradão de trabalhar com o filme. A audiodescrição, que ocorre nos silêncios, ganha força quando há muita ação sem falas. Dizem as más línguas que as cenas audiodescritas de oba-oba entre Bingo e a mulherada vai mexer com a imaginação da galera!

Torreão e seu buddy Augusto Madeira na pré-estreia no Rio. Augusto interpreta o cinegrafista e amigo de balada do Bingo.

Já para a janela de Libras, muita preparação foi necessária para a interpretação. Nossa intérprete maravilhouser se preparou muito e gastou um tempão criando novos sinais. Para quem não sabe, todas as pessoas são identificadas por um sinal específico em Libras. É possível soletrar o nome com o alfabeto manual, claro, mas um sinal identificador facilita muito e cria uma identidade bacana com a língua também. No filme, em especial, em que precisamos acompanhar a velocidade da fala, soletrar toma muito tempo e é mais difícil de acompanhar. Assim, as personagens principais ganham sinais. Olha como ficou o sinal do Bingo:

Felizmente, a Paloma tem o nariz parecido com o do Bingo, o que ajudou na interpretação do personagem.

É comum que os sinais que referenciam pessoas se apropriem de alguma característica física delas. Nesse sentido, o filme trouxe algo inusitado para nossa tradução em Libras. Durante boa parte da história, o palhaço Bingo interage com Sr. Olsen, um cara meio velho, meio chato, que é um gringo que veio ao Brasil supervisionar o início da franquia do programa no Brasil. Na nossa tradução, o personagem foi identificado por um sinal que fazia menção ao seus óculos, com a intérprete levando uma mão fazendo círculo vazado ao olho.

Mr. Walker, digo, Olsen.

Mas, como diria o Bingo, a vida não é mole, não. Em diversos momentos, o Bingo se dirige ao Sr. Olsen como Sr. Parker, Sr. Walker, e assim vai, cada vez com um sobrenome diferente, mostrando total descaso com quem ele é. Como levar isso para tradução em Libras? Achamos a solução fazendo variações do sinal original dos óculos, por vezes levando as duas mãos ao rosto, outras vezes fazendo os óculos meio tortos. Paloma disse que foi algo inédito para ela! Mas legal mesmo foi interpretar a Gretchen dançando a Conga, não foi, Paloma?

Conga, la conga, conga conga conga

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Por fim, só podemos dizer uma coisa: corram para o cinema para assistir ao filme, é imperdível. Como diz o Tiago Belotti no vídeo, “clássico nacional instantâneo”.

Semana que vem voltamos com a estreia e comentários de tradução e acessibilidade de “Como Nossos Pais”, mais um filme nacional chegando com o pé na porta.

Tchau, amiguinhos!

Meu, aqui em Sampa também teve pré-estreia, meu.

Refúgios Produtivos

Car@s leitor@s,

De autônomo para autônomo, pode me confessar: às vezes, você precisa sair de casa para trabalhar. Encontrar-se num ambiente que não é o de sempre, tomar um café diferentão ou simplesmente aquele que você tanto gosta, estar em meio a pessoas que não fazem parte da sua rotina. Pensando nessa necessidade, e para tornar essa experiência a melhor possível, nossa convidada Vanessa Bocchi escreveu um post MA-RA sobre os melhores cafés para se trabalhar em São Paulo, com foco na zona oeste e centro. Coisa mais linda saber onde há tomadas nesta metrópole 

Se você não é de Sumpaulo, não fique triste. Estamos buscando parceiros para para fazer outras edições regionais do post. Se você manja dos paranauês, escreva pra gente em ola@www.littlebrownmouse.com.br/toca-do-mouse.

Avante!

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Já ouvi de amigos várias vezes a pergunta “você gosta mesmo de café, não?” quando aviso que quero ir logo mais a alguma cafeteria. Sim, gosto muito de café, mas cafeterias hoje representam muito mais do que uma pausa para um cafezinho depois do almoço. Com cardápio rico em variedade de bebidas e comidinhas, ambientes bem planejados, aconchegantes e tech-friendly, os cafés paulistanos estão se revelando cada vez mais como verdadeiros espaços que suprem as necessidades tanto daqueles que querem se reunir para um bate-papo com outras pessoas, quanto para quem necessita destinar um tempo sozinho para focar no trabalho ou em projetos pessoais.

Pensando nesse segundo grupo, as cafeterias da cidade estão se adaptando gradativamente para oferecer a melhor estrutura necessária para transformar seus espaços em verdadeiros refúgios produtivos para aqueles que trabalham por conta própria, já que às vezes ficar em casa não é uma opção (alguém mais sofre com esse monstrinho chamado procrastinação?). Algumas cafeterias mudaram até a forma de cobrar por um café, cobrando agora pelo tempo de permanência, como é o caso da Lemni (mais sobre ela daqui a pouquinho).

Por mais que estejamos presenciando nos últimos anos uma efervescência no mercado de cafeterias na capital paulista, não são todas que atendem a um requisito mínimo para oferecer essa estrutura aos clientes. Por incrível que pareça, um wi-fi que funcione bem e até algo simples como presença de tomadas podem ser itens que não encontramos com facilidade em todas elas.

Por isso que ao longo dos últimos anos fui colecionando cafeterias que preenchem todos os requisitos básicos para se tornarem um espaço ideal de concentração fora de casa: conforto, wi-fi, tomadas, boa trilha sonora e sensação de tranquilidade não importando o número de pessoas que a frequentam.

Então divido abaixo com vocês meu top 10 de cafeterias paulistanas perfeitas para sentar com seu computador e deixar a produtividade fluir, sem ordem de preferência:

 

UM Coffee Co. (Bom Retiro)

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Como não amar um lugar que serve o café em xícaras de diversos tamanhos e cores?

Com ambiente clean e bem iluminado, a unidade do Bom Retiro da UM Coffee Co. conta com uma equipe bem preparada para te atender e te deixar à vontade.

📍R. Júlio Conceição, 553 – Bom Retiro, São Paulo

 

Béni Café

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Não deixe os inúmeros sabores de bolos e tortas fazerem você perder o foco.

Também localizada no Bom Retiro, essa espaçosa cafeteria oferece uma decoração que proporciona um aspecto bonito e aconchegante. A impressão que temos é de estar num espaço com vários ambientes diferentes (o cantinho do sofá com objetos vintage é o meu favorito).

📍 R. Lubavitch, 79 – Bom Retiro, São Paulo – SP

 

Sofá Café (Atrium)

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Vista e local com aquela carinha de Pinterest (com direito até à espelho d’água).

Com outras unidades em São Paulo, a unidade Atrium do Sofá Café é a que possui o ambiente mais limpo e adaptado para computadores. Sua área externa oferece um ótimo local para trabalhar, com diversas tomadas, iluminação através de lâmpadas que dão um toque charmoso na sacada, com vista para a rua Artur de Azevedo.

📍 R. Artur de Azevedo, 514 – Pinheiros, São Paulo – SP

 

Latte’liê

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Na lousa, letreiros como “Coffee To The Future” e “Jurassic Coffee” deixam qualquer movie nerd em êxtase.

Localizado na Vila Pompeia, essa simpática cafeteria é a escolha perfeita para trabalhar ou estudar pela região, proporcionando um lugar pequeno e tranquilo para permanecer por bastante tempo. Sua decoração brinca com nomes da cultura pop e sua equipe está pronta para te oferecer um excelente atendimento.

📍 Rua Cotoxó, 569 – Perdizes, São Paulo – SP

 

Cafelito (Pinheiros)

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Geladeira com diversas opções de take-out food e uma hortinha super simpática também fazem parte do ambiente.

Com um deck invejável (ao sábados passarão a acontecer sessões de jazz à tarde, fica a dica de passeio!), o Cafelito da rua Francisco Leitão oferece diversos ambientes tanto para quem quer tomar um café reforçado ou almoçar, quanto para quem precisa realizar uma reunião de negócios.

📍 R. Francisco Leitão, 266 – Pinheiros, São Paulo – SP

 

Casinha Bistrô & Café

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Procurando decoração fofa, francesinha com pitada carioca da hostess? Então achou.

Lugar mais charmoso e acolhedor de São Paulo. Comandado pela querida Simone, ela diz que seu propósito é ser realmente isso: ter um lugar para receber pessoas e suas histórias. Sempre com alguma temática interessante (na semana de aniversário da Marilyn Monroe, ela espalhou fotos da atriz pelo espaço), ela também possui uma decoração de dar inveja a muitas casas por aí. Passe lá, fique à vontade, bata um papo com ela enquanto prova sua torrada de queijo com banana que beira a divindade.

📍 R. Sebastião Velho, 144 – Pinheiros, São Paulo – SP

 

Isso É Café (Beco do Batman e Mirante 9 de Julho)

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No Mirante, tem dias em que você pode emendar o trabalho com um happy hour ao som dos melhores DJs ou até com uma sessão de cinema ao ar livre. Precisa de mais?

Neste item, vou roubar no jogo e indicar as duas unidades do Isso É Café, ambas incríveis de maneiras diferentes. A vista do Mirante é um espetáculo à parte, enquanto o ambiente intimista da filial do Beco do Batman (que funciona junto ao um coworking) oferece todos os recursos para uma tarde produtiva ao redor dos grafites do beco.

Mirante 9 de Julho

📍  R. Carlos Comenale, s/n – Bela Vista, São Paulo – SP

Beco do Batman

📍  Travessa Alonso, 15 – Vila Madalena, São Paulo – SP

 

HM Food Café

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Tenha autocontrole e não acabe com toda a deliciosa água saborizada do balcão.

Com um ambiente moderno e minimalista, no HM Food Café você consegue trabalhar enquanto prova algum item do seu cardápio mais do que elogiado pelos frequentadores – a tostada de abacate é famosíssima – e lê a última edição do MECA Jornal.

📍  R. Ferreira de Araújo, 1056 – Pinheiros, São Paulo – SP

 

Cupping

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Mapas e explicações sobre o mundo cafeeiro nas paredes farão você sair do Cupping praticamente um expert em cafés.

Ir ao Cupping é garantia de que você encontrará tranquilidade, um bom wi-fi e (infinitas) tomadas para ficar à vontade enquanto toma uma das opções de café coado (aproveite o entusiasmo dos baristas que explicam com detalhes as diferenças entre todos os métodos).

📍  R. Wisard, 171 – Vila Madalena, São Paulo – SP

 

Veganeria Stuzzi

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Trabalhe duro e se presenteie com um sorvete da Stuzzi ao final da visita.

Lindo espaço na charmosa rua Harmonia, de frente para uma revistaria – o que dá um toque a mais a todo o charme. Diversas opções de comida e sobremesas veganas com uma trilha sonora que combina com o charme do lugar.

📍  Rua Harmonia, 506 – Sumarezinho, São Paulo – SP

 

Menção Honrosa: Lemni

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Saudade Lemni Pinheiros <3

Como Pinheirense (pessoa privilegiada que mora no bairro de Pinheiros), sofri ao saber que o Lemni estava de mudança para a Santa Cecília. Além de ter um espaço incrível, o sistema de pagar pelo tempo e se servir à vontade com as opções do dia no balcão é perfeito para quem passa horas com o computador ou em reuniões por lá. Ainda não conheço o novo Lemni, mas corrigirei isso assim que possível 😉

Novo endereço:

📍  Rua General Jardim, 43 – Vila Buarque, São Paulo – SP

 

Arte das fotos por Ivan M. Franco.

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Sobre a autora:

nessa

Vanessa Bocchi é formada em Rádio e Televisão pela Faculdade Cásper Líbero, onde desenvolveu e praticou sua paixão pelo Cinema através da escrita de roteiros e produção de curtas-metragens. Hoje atua como publicitária, adora um bom café coado na Hario e divide seu tempo de lazer entre o eixo Pinheiros (SP) – Ipanema (RJ).

A plataforma VIDEOCAMP

Amig@s leitor@s,

O post de hoje é dedicado à divulgação de uma plataforma que a LBM considera muito importante, e que achamos que todos merecem conhecer.

Estamos falando do VIDEOCAMP. A plataforma VIDEOCAMP se dedica a fazer exibições gratuitas (online ou offline) de conteúdos relevantes, de cunho social, de qualquer parte do mundo. Ela faz parcerias com muitas produtoras e distribuidoras. Nós aqui da LBM, em particular, descobrimos essa maravilha através da Maria Farinha Filmes que, mesmo quando seus filmes são lançados no cinema, também são simultaneamente colocados à disposição no VIDEOCAMP, para que quem não mora numa cidade onde o filme está em cartaz não deixe de ter acesso ao conteúdo.

Para saber como fazer uma exibição pública e gratuita, você pode assistir ao tutorial aqui. Educadores têm um login especial 🙂 Ao organizar sua exibição, você pode escolher o título e algumas especificidades, como legendas ou acessibilidade. O catálogo é vasto e engloba muitos temas importantes, como: infância, educação, cultura popular, mobilidade urbana, consumo de carne, prostituição, entre outros. Atualmente no VIDEOCAMP, estão disponíveis para exibição filmes incríveis nos quais o ratinho trabalhou. Fizemos um top três para vocês se inspirarem. Vamos lá?

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1) NUNCA ME SONHARAM

O documentário do Cacau Rodhen, produzido pela Maria Farinha Filmes, acabou de sair de cartaz, mas esteve no VIDEOCAMP desde o seu lançamento. Lá, você vai encontrar nossas legendas em inglês e espanhol, além de legendas descritivas e janela de Libras. Uma reflexão de primeira sobre o sonho da educação no Brasil esperando por você.

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2) O COMEÇO DA VIDA

Também da Maria Farinha, o documentário da Estela Renner sobre a primeira infância que ganhou o mundo está disponível na plataforma. Um bônus: além do longa, lá você também encontra a série de seis episódios temáticos. O ratinho assinou as legendas em português, inglês, espanhol, italiano, alemão e francês. Lembrando que o filme é falado em várias línguas, então nós por aqui também precisamos de legendas.

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3) MARIAS

Dessa vez da Primo Filmes, mais um documentário fera. Segundo a própria sinopse, o filme é “Uma jornada pelo feminino através das festas marianas da América Latina. A diretora Joana Mariani viajou pelo Brasil, Cuba, México, Peru e Nicarágua acompanhando as festas das padroeiras desses países, todas Nossas Senhoras, observando as semelhanças e diferenças entre suas culturas e buscando vozes com grandes histórias para contar. O resultado é um filme singular que demonstra que a figura de Maria é maior que qualquer religião”. Assista ao filme com legendas em português by LBM!

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Além do nosso top três, outros filmes imperdíveis com legendas do ratinho estão no aguardo de uma exibição sua. Veja alguns deles:

 

Que belo cardápio!

Dê uma fuçada lá e seja um exibidor na sua escola, local de trabalho, instituição ou onde quer que seja! E esteja preparado para aprender muito e se emocionar 🙂 Acesse: www.videocamp.com/pt

 

Ratinho acessível: O grande debute!

Queridíssim@s amig@s da LBM,

O post de hoje é muito especial. Dando uma pausa no tradicional boletim de estreias e nas costumeiras discussões sobre temas de TAV, hoje trazemos o debute da nossa vinheta de acessibilidade!

A LBM vem prestando serviços de acessibilidade já há algum tempo com muita dedicação e parceiros de primeira. Hoje, vocês assistirão à interpretação de Libras da Paloma Bueno Fernandes, com voz de Christiano Torreão e montagem e edição de Ivan M. Franco. As legendas foi o Maluf ratinho que fez.

Sem mais delongas, a vinheta <3

http://https://youtu.be/0l93Vb_AAic

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Se você tem materiais audiovisuais que precisam de um delivery acessível, entre em contato conosco para saber sobre o nosso portfólio. Vamos acessibilizar esse Brasilzão!

Cinema para tradutores de AV: Os elementos cinematográficos

Car@ tradutor@,

Se você é tradutor de AV, com certeza já interagiu com alguém que babou no seu ofício: “Nossa, que trabalho maneiro!”. Verdade que encontramos dificuldades e percalços pelo caminho, mas nossa profissão é de fato muito maneira. O principal motivo pelo qual se demonstra tanto interesse e admiração pelo que fazemos é que manipulamos muitos materiais audiovisuais. “Você trabalha assistindo a vários filmes e séries!”. Mais uma vez, verdade seja dita, muitas vezes legendamos materiais que não causariam muita inveja na galera, mas trabalho é trabalho e nem tudo são flores.

Mas pendendo para o lado realmente interessante, que é assistir a muitos filmes e séries, você já parou para se perguntar, como tradutor de AV, o quanto você entende de cinema e o quanto o seu conhecimento da área influi no seu trabalho? Ou mesmo como curioso, já pensou em como o seu entendimento dos elementos cinematográficos te ajuda a entender uma produção audiovisual e se relacionar com ela? Interessar-se por cinema é o pré-requisito mais importante para ser tradutor audiovisual, mas se considerarmos a TAV uma etapa da pós-produção do filme, o que ela de fato é, entender de cinema se torna condição sine qua non para atingir um nível de qualidade elevado na tradução.

Pensando nisso, resolvemos trazer para você uma série de posts que vai ajudar a todos a entender mais sobre cinema e transportar isso para os nossos trabalhos com TAV e nossas vidas de espectador também. Em colaboração com o editor e finalizador da m.art.ucci Ivan M. Franco, trazemos nesta quinta a primeira edição da série. Vamos lá?

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Quando imaginamos um diálogo qualquer entre duas pessoas, utilizamos artifícios comuns e já estruturados nas formas narrativas conhecidas: podemos imaginar esse diálogo escrito como em romances, separado por travessões entre cada personagem; talvez com balões mostrando quem diz cada fala num quadrinho. Em um filme, provavelmente nós faríamos como um diretor: as pessoas envolvidas não ficam completamente de frente uma para a outra, mas um tanto perpendicular, para que a câmera possa enquadrá-las e captar um número maior de gestos e expressões.

No cinema, essa maneira de apresentar um diálogo já é considerada como clássica, o enquadramento comumente usado para situar pessoas e diálogos em um determinado ambiente de forma eficiente. Após estabelecer a posição das personagens dentro daquele local, podemos trocar os pontos de vista e acrescentar novos elementos e camadas ao diálogo.  Isso pode ser feito de inúmeras maneiras: um enquadramento baixo virado para cima pode causar a impressão de superioridade de uma personagem sobre a outra; um enquadramento muito fechado nos olhos pode demonstrar surpresa (ou basta contratar o Marlon Teixeira); algumas perspectivas podem ser completamente subjetivas, através do uso de pontos de vista peculiares, seja de animais ou até de objetos inanimados. Tudo isso ainda é considerado clássico.

Quem quiser ter acesso ao precioso material completo de expressões faciais, pode acessar a matéria do BuzzFeed em https://www.buzzfeed.com/raphaelevangelista/e-impossivel-ficar-indiferente-as-sete-caras-do-cinema?utm_term=.ctvzxgeG6#.gn5VDJna7
Expressão de surpresa by Marlon Teixeira. Quem quiser ter acesso ao precioso material completo de expressões faciais, pode acessar a matéria do BuzzFeed aqui.

Esses recursos narrativos vêm de um planejamento anterior e passam, de maneira resumida, pelo roteiro, direção de fotografia, direção de atores e edição. Mas resumir dessa forma é desconsiderar cada outro elemento que acompanha uma narrativa audiovisual: deixamos de citar as cores usadas, caso sejam usadas cores; a produção de arte e todo seu figurino ficam negligenciados; o próprio trabalho dos atores fica em segundo plano.  Queremos dizer que cada profissional ou artista responsável por algum elemento da narrativa precisa considerar os outros elementos para que a obra possa expressar ao máximo o que o autor pretende. Se por alguma razão o filme for preto e branco, não fará muito sentido o diretor de arte trabalhar com milhares de cores diferentes. O cinema é uma arte feita por muitos autores, por mais que seja idealizada por apenas uma pessoa.

Ao chegar à tradução audiovisual, é a nossa vez de considerar o máximo de elementos em cena para fazer o nosso trabalho. Apenas escutar a fala e olhar brevemente para a cena, desconsiderando as sutilezas que marcam aquele momento pode, em menor escala, tirar da beleza que um diálogo traduzido com sensibilidade cinematográfica poderia adicionar à cena; ou, em maior escala, causar discrepâncias e tornar grosseira a TAV. Dar atenção ao enquadramento permite que as falas traduzidas acompanhem a intensidade desejada pela cena. De forma semelhante, a luz e cor apresentadas pela produção dizem muito sobre o que se quer comunicar ao espectador, bem como as palavras escolhidas na tradução. Assim, se luz e iluminação são relevantes para o filme, devem ser para a tradução também.

O filme vencedor do Oscar deste ano “Moonlight – Sob a Luz do Luar”, legendado pela LBM, dá vida à dura vivência do protagonista Chiron, menino negro, pobre, mãe dependente química, que se descobre homossexual, acaba espancado, vai preso e se torna traficante de drogas. Diante dessa sinopse, o tradutor poderia facilmente adotar uma linguagem igualmente dura todo o tempo, que refletisse a realidade ali ilustrada. As cores do filme, no entanto, vêm nos dizer o oposto: ao dividir o filme em três capítulos, cada qual com um tratamento de cor diferente, a produção se afasta de um registro realista e documental para criar uma atmosfera onírica, em que o espectador não só é testemunha dos duros eventos vividos por Chiron, mas também pode mergulhar na sua vida emocional.

Em outubro do ano passado, o IndieWire publicou um artigo extremamente detalhado sobre esse aspecto do filme, com imagens inéditas que comparavam cenas do filme extraídas diretamente da câmera e suas versões pós tratamento (leia o texto em inglês na íntegra aqui). Na imagem abaixo do ator Mahershala Ali, vemos que a alta saturação deixa o visual muito mais quente, trazendo mais textura ao tom de pele. Não coincidentemente, o primeiro capítulo do filme traz diálogos de reflexão sobre a cor de pele negra dos personagens e considerações sobre a luz do luar cubano, contrastando com a paisagem californiana. Confirmando essas relações, o colorista do filme Alex Bickel disse que “foi seu trabalho desenvolver paletas que proporcionassem o impacto emocional desejado pelos criadores do filme”.

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E o impossível aconteceu: não é que conseguiram melhorar a cara do Mahershala Ali?

O diálogo entre a TAV e esse movimento estético, trazido pelos elementos cinematográficos da luz e do tratamento de cor, se dá numa trama muito delicada de legendas que mistura registros formais e informais, gírias e linguagem poética, expressando ao mesmo tempo profundidade e sensibilidade, num contexto em que seria difícil de desvincular o conteúdo do filme a visões clichês de questões sociais sem a ajuda dessa tensão visual. Um filme como “Moonlight”, preenchido de silêncios brilhantes e às vezes até devastadores, determina esse cuidado com as legendas para que a experiência proposta pela obra não fique prejudicada. O resultado é uma narrativa que nunca viola a nossa suspensão da descrença e permite que todas as suas camadas sejam absorvidas e contempladas pelo espectador. O diálogo perfeito entre artistas e público.

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Ivan M. Franco é formado em cinema pelo curso de Imagem e Som da UFSCar, especializado em roteiro e direção, trabalhando há mais de 10 anos com montagem e finalização de obras audiovisuais. Também se dedica a experimentações artísticas com fotografia, vídeo e música.