A pandemia e o futuro do cinema

Caros quarentenados e quarentenadas,

A pandemia chegou causando maremoto, e o barco do cinema virou. Com as salas todas fechadas por tempo indeterminado, resta a todos nós da indústria discutir não só como sairmos dessa vivos, mas também melhores.

Com esse intuito, na última quarta, dia 1, aconteceu um webinário organizado pelo Portal do Exibidor, em que os especialistas de mercado Paulo Pereira (Desbrava) e Luiz Morau (Quanta), com mediação de Marcelo Lima (Tonks), compartilharam seus insights e opiniões sobre o momento que o cinema está passando por conta do COVID-19.

Como prestadores de serviços dessa indústria, nós aqui da LBM acompanhamos a discussão e trazemos hoje neste post um resumo do que consideramos mais interessante e relevante, além da nossa própria contribuição.

Não deixem de comentar; o momento pede comunicação e conexão mais do que nunca.

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Que experiência o cinema nos proporciona hoje, e qual experiência gostaríamos de ter no cinema daqui para frente? Esse foi o fio condutor do bate-papo que, em tom otimista, classificou o cenário pandêmico como uma oportunidade para a indústria. Sem muitos rodeios, os especialistas deixaram claro que os players do cinema que não entenderem que o momento é de disrupção — ainda que forçada — terão sérias dificuldades em sobreviver.

Seria simplesmente por conta de um gosto limitado do público que as salas de cinema há anos estão dominadas por blockbusters internacionais, preterindo conteúdos de pequeno e médio porte, documentários e filmes nacionais? A quantidade e variedade das produções consumidas nos streamings parecem mostram o contrário. A hora é de dar alguns passos para trás e repensar como o cinema vem se relacionando com o modo de vida das pessoas. Será que exibidores e distribuidoras têm estudado seu público adequadamente, fazendo uso da abundante quantidade de dados disponíveis sobre comportamento de consumo de conteúdos?

Tristezas e dificuldades à parte, a quarentena já provou que o mundo inteiro está ressignificando sua convivência social. Da mesma forma que há alguns anos a Netflix começou a revolucionar a forma como consumimos audiovisual, estamos vendo que é possível explorar todo tipo de contato remotamente, desde reuniões de trabalho até festas de aniversário por Skype. E isso dá aos eventos presenciais outra conotação, pois passamos a entender que não é preciso estarmos juntos para estarmos juntos. Então, para nos darmos ao trabalho de sair de casa, esperamos ter uma experiência relevante pela frente.

Há anos que a experiência que o cinema proporciona é aquela de assistir a um filme, geralmente inédito, numa tela gigante, comendo pipoca. E isso diz muito sobre o papel soberano que a programação tem sobre a manutenção dos cinemas: os filmes devem ser cada vez maiores, mais cheios de efeitos, mais celebrados (e mais escondidos a sete chaves). Mas com a quantidade de opções que temos, não só para o audiovisual, mas para nosso lazer como um todo, será que o investimento (alto) do ingresso está justificado?

A última vez que tive um momento mágico no cinema foi quando, em Los Angeles, fui ao Rooftop Cinema Club. Esse cinema, como sugere o nome, fica no rooftop entre duas torres comerciais; sua tela é a lateral de um dos prédios. A programação é de filmes icônicos; as cadeiras são de praia. São dados fones, cobertores quentinhos e a pipoca é refil por um preço razoável. O lugar é decorado sem exageros com temática cinematográfica, e a vista é de tirar o fôlego. Na ocasião, assisti a “Os Bons Companheiros”, um filme que poderia ter visto em casa, mas sem aquela experiência arrebatadora.

Sim, isso é um cinema!

Então, como os especialistas apontaram no webinário, as empresas devem aproveitar a impossibilidade de operar para fazer renovações e reformas, investir em inovação e tecnologia, voltar diferente. Mas é preciso fazer isso olhando para as pessoas: o espaço online e físico e a programação trazem mais possibilidades de público do que o óbvio que temos visto.

É hora de levar as escolas ao cinema para assistir a documentários transformadores; é hora de exibir conteúdos alternativos de qualidade para diversificar o público; é hora de tornar o espaço online e físico dos cinemas 100% acessível para as pessoas com deficiência, viabilizando a sua ida ao cinema, desde a escolha do filme no site até a compra do ingresso na bilheteria. Quem sabe assim todos os closed captions, as audiodescrições e janelas de Libras que temos produzidos nos últimos anos, que ficam lá nos DCPs sem uso, possam ser desfrutados por quem quer e precisa delas!

Por aqui, temos uma esperança: que os cinemas fiquem vazios por alguns meses para que estejam mais lotados do que nunca nos próximos anos.