Audiodescrição na arte: Informação? Experiência?

Como nos relacionamos com a arte e com a experiência estética da arte? Som, imagem, texto, cultura, inferência. Isso tudo vem trançado. E o que a acessibilidade comunicacional, especificamente a audiodescrição, tem a ver com isso?

Nesse meu tempo como bacharel em Letras, e dentro dele o tempo como audiodescritora-roteirista, passei por várias questões, inquietações, propostas e missões! Isso tudo partiu de observação de vários formatos artísticos, estudo, prática e de ouvir a recepção do público. Pensando principalmente no audiovisual e no teatro, vou compartilhar um pouco dessas reflexões.

A Audiodescrição como fazer técnico e profissional

Se você está chegando e ainda não sabe quem é a Audiodescrição (AD para os íntimos ou necessitados de economia de caracteres) na fila do pão, aqui vai a bio dela: Audiodescrição é uma modalidade de tradução intersemiótica, pois traduz não entre línguas, mas entre linguagens. A linguagem de partida é a linguagem dos signos visuais. Tudo o que é imagético: cores, gestos, símbolos, feições. Existe uma divisão básica entre audiodescrição de imagens estáticas (o que não se move: foto, desenho, card, pôster) e audiodescrição de imagens dinâmicas (o que se move, seja gravado ou ao vivo: filme, série, peça de teatro). Em alguns contextos podemos ter híbridos, como uma aula em que existe o contexto geral que se move e as imagens estáticas de um slide.

Audiodescrição para quem?

O foco dessa técnica é criar acesso para quem apreende informações sem o uso da visão. Por isso é um dos recursos da acessibilidade comunicacional. A experiência de pessoas com deficiência visual (cegas ou com baixa visão) pauta a construção de uma AD, e por isso mesmo nós, audiodescritores-roteiristas, sempre trabalhamos em conjunto com um audiodescritor-consultor, que é uma pessoa com deficiência visual especializada na área. Mas há relatos que mostram que outros perfis se beneficiam dela. Por causa da característica básica da técnica, que é trazer as informações para as palavras, pessoas que têm mais facilidade para receber, se conectar ou manter atenção à informação verbalizada do que à não verbalizada podem acabar tendo na audiodescrição um apoio na construção do acesso. Trazer para o plano verbal e sonoro pode, em alguns casos, aproximar a informação de autistas, pessoas com TDAH, pessoas com deficiência intelectual. Ou alguém que assista a um filme sem ter muita inserção cultural no contexto dele e acabe captando mais nuances do que é apresentado através da verbalização.

E quando a Audiodescrição se encontra com a Arte?

Com base nisso tudo, como você deve imaginar, técnicas, diretrizes e recomendações foram se desenvolvendo para deixar essa modalidade de tradução funcional. E de fato, deixam. Mas quando experiência estética (estética aqui inclui imagem, som, texto, expressividade e significação) entra no jogo, temos que ter mais alguns tipos de cartas no nosso deck. E para isso, defendo a construção de uma audiodescrição que harmonize com a narrativa, que não seja nem intrusiva e nem isenta, aliando a voz discursiva (do roteiro), a intepretação vocal (da locução) e o ritmo (da mixagem do áudio).

Isso pode ser bem desafiador. Existe a reponsabilidade tradutória de definir o que terá destaque e o que será sacrificado em nome do ritmo. Pois audiodescrever é, como traduzir em geral, fazer escolhas. E essas escolhas direcionam o olhar do espectador de forma análoga à iluminação, que escolhe pontos e elementos para priorizar e definir o todo. Uma mesma cena em filmes diferentes pode receber audiodescrições diferentes, pois o foco de importância entre as várias coisas mostradas pode ser outro. Imagine: em uma cena de uma festa com 30 pessoas, é evidente que uma audiodescrição não poderia descrever em detalhes a aparência, as roupas e as atitudes das 30. Então entra a sensibilidade narrativa de entender o que é essencial ali e como transmitir isso. E é nesse como que moram as polêmicas. Mesmo com plena compreensão de que o público com deficiência visual não deve ser subestimado, e cada indivíduo tem seu próprio campo de interpretação, a máxima dos manuais “descreva o que você vê, não interprete” parece não dar conta da realidade da função de audiodescrever um filme. Mesmo que você não enfeite o pavão e não enverede para o qualitativo, descrevendo as coisas como “belas” ou “horrendas”, a escolha vocabular e o jeito de cadenciar as orações vai dar o tom do seu texto.

Alguns manuais de audiodescrição parecem feitos (com ótima intenção) com base em experiências pedagógicas, e não de arte, narrativa e entretenimento. E aí, quando a experiência artística entra em cena e você percebe que as soluções oferecidas por esses manuais soariam pedagógicas demais, anatômicas demais ou totalmente fora do ambiente lexical daquela obra, eles somem da sua frente como o Mestre dos Magos. E aí, coragem, roteirista. É a hora de usar todos os conhecimentos e habilidades que desenvolveu. Inclusive, mas não apenas, o que os manuais trouxeram. “Depende do contexto” são palavras que quem lida com tradução e audiodescrição poderia mandar grafitar na parede do lugar em que trabalha. Meu desafio tem sido nem pisar em ovos e nem viajar na maionese feita com os ovos nos quais estou tentando não pisar. Talvez fazer omelete seja uma boa. Mas não dá pra fazer omelete sem quebrar alguns… tá, parei.

A busca por uma AD nem intrusa nem isenta, e sim diegética

A busca pelo equilíbrio é um caminho que traz riscos, essa busca por não ser nem intrusa na narrativa nem isenta da narrativa. É possível ser direta, comunicativa e ter estilo com pequenas ousadias textuais, tomando liberdades com os pés no chão. Mas não existe deck infalível. Temos que saber combinar as cartas básicas, que dão conta quase sempre, segurando um jogo básico que cumpre sua função, e as cartas situacionais, aquelas que ganham o jogo quando usadas no momento certo, mas não seguram sozinhas (não tente montar um deck só com elas). Isso vale para as diretrizes básicas, para o banco de soluções audiodescritivas que a gente vai montando ao longo do tempo e para aquelas soluções específicas que têm tudo a ver com aquela cena e trazem um léxico autêntico para o texto.

Às vezes o estritamente descritivo não é diegeticamente interessante e vale a pena arriscar e lançar mão de um atalho comunicativo. Dois exemplos:

Estritamente descritivo: Uma criança de camiseta verde corre atrás de outras quatro crianças. A de camiseta verde toca o ombro de outra, de vestido vermelho, e esta começa a correr atrás das outras quatro.

Atalho comunicativo: Cinco crianças brincam de pega-pega.

Estritamente descritivo: Toca a bola com o peito do pé direito e a move para baixo do calcanhar. Posiciona a bola na parte lateral do pé. Corre e empurra a bola pelo campo, alternando-a entre a lateral interna e a lateral externa do pé direito enquanto mantém o pé esquerdo atrás.

Atalho comunicativo: Mantém a posse da bola.

Claro que, como sempre, depende do contexto. Mas percebe como, dependendo do tempo que você tem para inserir o segmento audiodescritivo no filme sem cobrir falas importantes, o atalho pode ser necessário, ou pelo menos ser mais dinâmico e proporcionar um ritmo mais interessante junto com os sons do filme, resultando em uma experiência artística mais afinada com o material?

Aumentando o Deck!

Isso tudo pode ser construído de diversas maneiras dependendo do projeto. A comunicação com a produção, por exemplo, pode dar à equipe de audiodescrição cartas que funcionam naquele material, através de respostas a perguntas, sugestões e divulgação conjunta, levando a AD para um lugar menos tímido dentro do projeto, menos tacanho, menos saindo da festa e se despedindo com “desculpa qualquer coisa” e mais “até a próxima, pode ficar com o resto do bolo salgado, que eu vou levar uns brigadeiros aqui na tupperware”.

Uma pintura tem as cores e os traços para compor uma experiência artística. Uma audiodescrição tem palavras, frases, entonação, pontuação vocal, ritmo em conjunto com o ambiente sonoro da obra. Esses recursos são maravilhosos, e se apropriando deles é possível ir para lugares mais poéticos, mais divertidos, mais formais ou informais.

Acredito que a AD brasileira ainda tem muitos caminhos para percorrer, e vamos construir pontes e sinalizar trilhas nos próximos anos. Bora andar!

Este texto foi escrito especialmente para o blog da LBM por Fernanda Brahemcha, Audiodescritora, Tradutora Audiovisual e amiga do ratinho.

Os Easter eggs em “Midsommar”

Caros quarentenados,

Neste domingo de Páscoa de isolamento, os ovos que trazemos são especiais! Você já ouvir falar em Easter eggs em obras audiovisuais?

São daqueles que você precisa encontrar como numa gincana: objetos ou imagens que fazem referência à cultura pop, ou que podem antecipar a trama do filme de alguma forma. Hoje vamos compartilhar alguns Easter eggs do segundo tipo, os que o diretor Ari Aster deixou escancarado em seu filme “Midsommar – O Mal Não Espera a Noite, de 2019”. Espera, seriam então… Aster eggs?

Como conhecemos tão bem esse filme? Fizemos a tradução, legendagem e acessibilidade para o cinema em 2019, em parceria com a Paris Filmes 😉

Nosso supervisor de pós-produção, especialista em roteiro e cinéfilo Ivan M. Franco descreve de forma bem-humorada todas surpresinhas que o filme traz para vocês (clique aqui para saber mais sobre a nossa equipe). Preparados?

***

“Midsommar” é um filme surpreendente. Quer dizer, mais ou menos. Mas logo mais eu me explico!

Ele começa nos mostrando o difícil momento que Dani, a protagonista, está vivendo: um grande drama familiar, acompanhado de um namoro que não parece ir muito bem. Em plena luz do dia, os eventos mais chocantes se densenrolam e vamos ficando embasbacados com o rumo que as coisas tomam. E nos perguntamos se fomos ingênuos de acreditar que aquilo tudo não estava por vir. E a resposta é que sim, fomos muito ingênuos. Spoiler alert: se você não assistiu ao filme, é melhor não continuar!

Se “Midsommar” fosse um Kinder Ovo, a surpresa estaria estampada na embalagem. Isso porque o filme todo está logo na primeira cena, na forma de uma pintura. A pintura é o grande Aster egg do fime. Ela dura aproximadamente vinte segundos e é separada pelas quatro estações, explicadas no filme como as quatro etapas da vida. Aqui já temos a narrativa em que Dani estará inserida: a separação entre ela e sua família, começando com a morte no inverno; e um recomeço da sua história, terminando com a vida no meio do verão.

O começo do filme é chocante… Mas fiquem tranquilos, porque só piora depois.

Seguindo na análise cronológica da pintura, vemos Dani conectada a seus pais por longos tubos. Os tubos antecipam a morte deles por asfixia junto da irmã com as mangueiras conectadas ao escapamento do carro no início do filme. Também temos uma caveira cortando o tubo que sai do umbigo de Dani, simbolizando a separação dela da família. O porque desse esqueletinho estar usando botas verdes, eu não sei. Mas está fofo.

A segunda parte mostra Pelle desenhando bem bonzinho, como se apenas observasse. Porém está do alto, revelando-o como alguém que tem controle das situações, tipo um títere. Nessa mesma parte, temos Christian consolando Dani pela morte de sua família, mas cruzando os dedos atrás das costas. Alguém com mais de seis anos conta pra ele que não funciona?

Olha a cara de anjo caído do Pelle.

Em seguida, o grupo de amigos de Christian: Josh, carregando livros e representando o culto; e Mark, com chapéu de bobo da corte (The Fool). É interessante notar que, quando Mark pergunta do que as crianças estão brincando, respondem para ele “esfola-bobo” (skin the fool) e, não muito mais tarde, Mark tem seu rosto arrancado. Pelle aparece guiando o grupo enquanto toca uma flauta. Ele é o Flautista Mágico do conto, que encanta e leva embora todas as crianças da cidade de Hamelin.

Essa terceira parte se passa na vila de Hårga, onde mulheres ostentam taças e caveiras. Talvez exista a chance de fazer escolhas certas ou erradas, determinando seu destino na vila. No caso do nosso grupo de amigos, quanto azar! No alto, temos o trono no qual Dani se sentará quando se tornar a Rainha de Maio, além do casal de idosos que saltam do penhasco. Aqui é importante ressaltar que os rostos dos idosos são os mesmo que dos pais de Dani, uma alusão às várias vezes em que Dani alucina ver sua família na vila. Temos também a primeira (mas não única) aparição do urso que será sacrificado e usado para colocar Christian dentro. Se tem gente que achava que a vila do Chaves era na verdade o inferno, não conheceu Hårga!

Reparem na meia por cima da calça de Josh, o bobo da corte.

A última parte da pintura mostra a dança em que Dani se torna a Rainha de Maio e pessoas sentadas à mesa para o ritual. Várias caveiras fofas também dançam aqui, representando os sacrifícios que serão feitos durante o festival, voluntários ou não. Mais para não.
A parte mais interessante aqui é o grande sol que aparece em oposição à caveira da primeira parte. Mas não é só isso: o filme termina com o rosto de Dani sorrindo, mesclado à construção amarela pegando fogo! Mais macabro que isso, só o sol dos Teletubbies!

Bom, essa imagem fala por si própria!

Enfim, estes são os principais Aster eggs que encontramos referenciados na pintura que abre o filme. Não é a primeira vez que Ari faz isso em uma obra sua. Quem sabe na próxima vez a gente mostre os segredos escondidos em “Hereditário”? 😉

***
Bateu uma curiosidade? Saiba mais sobre nossos serviços de tradução, legendagem e acessibilidade.

Agora, se quiser saber em que outras produções trabalhamos, veja nosso portfólio!

A pandemia e o futuro do cinema

Caros quarentenados e quarentenadas,

A pandemia chegou causando maremoto, e o barco do cinema virou. Com as salas todas fechadas por tempo indeterminado, resta a todos nós da indústria discutir não só como sairmos dessa vivos, mas também melhores.

Com esse intuito, na última quarta, dia 1, aconteceu um webinário organizado pelo Portal do Exibidor, em que os especialistas de mercado Paulo Pereira (Desbrava) e Luiz Morau (Quanta), com mediação de Marcelo Lima (Tonks), compartilharam seus insights e opiniões sobre o momento que o cinema está passando por conta do COVID-19.

Como prestadores de serviços dessa indústria, nós aqui da LBM acompanhamos a discussão e trazemos hoje neste post um resumo do que consideramos mais interessante e relevante, além da nossa própria contribuição.

Não deixem de comentar; o momento pede comunicação e conexão mais do que nunca.

***

Que experiência o cinema nos proporciona hoje, e qual experiência gostaríamos de ter no cinema daqui para frente? Esse foi o fio condutor do bate-papo que, em tom otimista, classificou o cenário pandêmico como uma oportunidade para a indústria. Sem muitos rodeios, os especialistas deixaram claro que os players do cinema que não entenderem que o momento é de disrupção — ainda que forçada — terão sérias dificuldades em sobreviver.

Seria simplesmente por conta de um gosto limitado do público que as salas de cinema há anos estão dominadas por blockbusters internacionais, preterindo conteúdos de pequeno e médio porte, documentários e filmes nacionais? A quantidade e variedade das produções consumidas nos streamings parecem mostram o contrário. A hora é de dar alguns passos para trás e repensar como o cinema vem se relacionando com o modo de vida das pessoas. Será que exibidores e distribuidoras têm estudado seu público adequadamente, fazendo uso da abundante quantidade de dados disponíveis sobre comportamento de consumo de conteúdos?

Tristezas e dificuldades à parte, a quarentena já provou que o mundo inteiro está ressignificando sua convivência social. Da mesma forma que há alguns anos a Netflix começou a revolucionar a forma como consumimos audiovisual, estamos vendo que é possível explorar todo tipo de contato remotamente, desde reuniões de trabalho até festas de aniversário por Skype. E isso dá aos eventos presenciais outra conotação, pois passamos a entender que não é preciso estarmos juntos para estarmos juntos. Então, para nos darmos ao trabalho de sair de casa, esperamos ter uma experiência relevante pela frente.

Há anos que a experiência que o cinema proporciona é aquela de assistir a um filme, geralmente inédito, numa tela gigante, comendo pipoca. E isso diz muito sobre o papel soberano que a programação tem sobre a manutenção dos cinemas: os filmes devem ser cada vez maiores, mais cheios de efeitos, mais celebrados (e mais escondidos a sete chaves). Mas com a quantidade de opções que temos, não só para o audiovisual, mas para nosso lazer como um todo, será que o investimento (alto) do ingresso está justificado?

A última vez que tive um momento mágico no cinema foi quando, em Los Angeles, fui ao Rooftop Cinema Club. Esse cinema, como sugere o nome, fica no rooftop entre duas torres comerciais; sua tela é a lateral de um dos prédios. A programação é de filmes icônicos; as cadeiras são de praia. São dados fones, cobertores quentinhos e a pipoca é refil por um preço razoável. O lugar é decorado sem exageros com temática cinematográfica, e a vista é de tirar o fôlego. Na ocasião, assisti a “Os Bons Companheiros”, um filme que poderia ter visto em casa, mas sem aquela experiência arrebatadora.

Sim, isso é um cinema!

Então, como os especialistas apontaram no webinário, as empresas devem aproveitar a impossibilidade de operar para fazer renovações e reformas, investir em inovação e tecnologia, voltar diferente. Mas é preciso fazer isso olhando para as pessoas: o espaço online e físico e a programação trazem mais possibilidades de público do que o óbvio que temos visto.

É hora de levar as escolas ao cinema para assistir a documentários transformadores; é hora de exibir conteúdos alternativos de qualidade para diversificar o público; é hora de tornar o espaço online e físico dos cinemas 100% acessível para as pessoas com deficiência, viabilizando a sua ida ao cinema, desde a escolha do filme no site até a compra do ingresso na bilheteria. Quem sabe assim todos os closed captions, as audiodescrições e janelas de Libras que temos produzidos nos últimos anos, que ficam lá nos DCPs sem uso, possam ser desfrutados por quem quer e precisa delas!

Por aqui, temos uma esperança: que os cinemas fiquem vazios por alguns meses para que estejam mais lotados do que nunca nos próximos anos.

A LBM em cartaz: “Morto Não Fala” e “Greta”

Caros amantes do cinema nacional,

Hoje estamos aqui de verde, amarelo e bandeira arco-íris para comentar duas produções nacionais que estreiam nas telonas com uma mãozinha (ou patinha?) do ratinho.

Em tempos sombrios para o audiovisual brasileiro, é um prazer imenso constatar que estamos com gás total em produções incrivelmente relevantes, avançando nossa indústria. E melhor ainda é poder fazer parte do processo!

Bora conhecer essa dupla?

***

MORTO NÃO FALA

O primeiro longa de Dennison Carvalho já foi exibido em cerca de 40 festivais pelo mundo com o título internacional de “The Nightshifter”, chegando ao Brasil hoje. Com aprovação média de 92% no Rotten Tomatoes e considerado pela revista New York como um dos melhores filmes de terror de 2019 (ao lado de “Nós”, de Jordan Peele), a produção traz promessa e expectativa em relação à aceitação do público brasileiro.

Um toque de arte no pôster no filme macabro.

A obra conta a história de um médico-legista que trabalha durante a noite no IML paulistano e tem dons mediúnicos de conversar com os recém-mortos que passam por seus cuidados. O projeto começou como um seriado da Globo, mas acabou se tornando um longa no meio do caminho – o que se provou uma ótima decisão estratégica, visto que o filme já levou 5 prêmios pelo mundo. Dentre eles, um merecido prêmio de efeitos especiais, pela caracterização dos personagens feitos em esculturas idênticas aos atores para retratar os corpos sem vida, com seus rostos sendo animados digitalmente.

A acessibilidade do filme foi feita toda by LBM em parceria com a Casa de Cinema de Porto Alegre, com bastante atenção ao uso das músicas e efeitos sonoros trazidos pelas cenas. Tratando-se de um filme de terror, a trilha assume um papel de destaque na narrativa, expressando emoções chave. Em todos os seguimentos da acessibilidade, foi um desafio escolher como indicar esses sons variados para manter o suspense das cenas. É importante descrever com cuidado, acompanhando os sinais gradativos dados pela narrativa!

Essas legendas não faltaram no closed caption do filme!

***

GRETA

Tratando com naturalidade de temas bastante densos, “Greta” chega hoje aos cinemas com direção de Armando Praça. Sua trajetória, no entanto, já inclui o troféu Mucuripe por melhor longa-metragem, melhor direção e melhor ator para Marco Nanini, sendo o grande vencedor do Cine Ceará.

O roteiro de “Greta” passou por laboratório para chegar à sua forma final. Fernanda Leme, nossa colaboradora, formada em Cinema e especialista em roteiros, conta mais sobre:
“O Laboratório Novas Histórias é um projeto idealizado e organizado por Carla Esmeralda, e faz parte do Programa Sesc e Senac São Paulo de Desenvolvimento de Roteiros para o aperfeiçoamento do ofício do roteirista no Brasil.
É de extrema importância a iniciativa desses laboratórios, pois dá a oportunidade de novos roteiristas entrarem em contato com aqueles que já estão no mercado de trabalho, discutir e evoluir ainda mais os roteiros inscritos, para que um dia se tornem filmes.
Do Laboratório Novas Histórias saíram grandes filmes, como: “Que Horas Ela Volta?”, “As Duas Irenes”, “As Boas Maneiras”, “Boa Sorte”, entre outros.
Por muito tempo no Brasil, o roteiro era o ponto fraco do Cinema, mas dessas diversas iniciativas, e com o aumento de cursos, especializações e bibliografias e a valorização de sua importância, atualmente esse ramo tem se aperfeiçoado. Afinal, não podemos negar que o roteiro é a alma do filme! ‘Greta’ participou do laboratório em 2012. É um filme íntimo e singelo, mas que usa do escrachado dos bares populares ao cuidado dos hospitais para narrar sua história específica de amor. “

Lindo pôster do drama.

Aqui na LBM, pudemos legendar com carinho a tradução para o inglês enviada por nosso parceiro, a Carnaval Filmes, para que o filme brilhe mundão afora. Boa sorte, Greta!

***

Este post foi escrito com a ajuda do nosso estagiário, Douglas Guizani! #ValorizeoEstagiário

A LBM em cartaz: “Depois do Casamento” e “Midsommar”

Opa! Que bom ver você por aqui 🙂

Estamos de volta nesta quinta ensolarada do capeta para contar sobre nossas estreias da semana. Preparados?

***

DEPOIS DO CASAMENTO

Distribuído aqui no Brasil pela nossa querida Diamond Films, o longa estrelado por Michelle Williams e Julianne Moore é um remake do filme dinamarquês de 2006 com o mesmo nome. Nossa colaboradora Paula Barreto, que trabalhou no filme, conta mais sobre:

“Tudo começa quando Isabel (Michelle Williams) tem que viajar aos Estados Unidos em busca de doações para o orfanato que gerencia na Índia. Em Nova York, ela conhece Theresa (Julianne Moore), uma mulher bem-sucedida dona de sua própria empresa que está considerando se deve ou não doar uma grande quantia para ajudar o orfanato. Surpreendentemente, Isabel é convidada para ir ao casamento da filha de Theresa, e sua vida dá uma guinada de 360 graus depois do evento.

Extraímos uma legenda que mostra o grau de determinação envolvido.

Depois do Casamento é um filme sensível e delicado, mas não se engane: ele também trata de assuntos seríssimos, como maternidade, abandono, luto e amor ao próximo. É impossível não se emocionar com a perseverança e persistência de Isabel, apesar de ser uma mulher austera, ao tentar conseguir fundos para o orfanato que tanto ama. Ela tem uma ligação forte com as crianças órfãs, que são sua família, e, além de batalhar para dar a elas uma vida melhor, trata todas com muito amor e carinho. Theresa, apesar de ter seus momentos de severidade, também tem muito amor para dar: é uma mãe exemplar para a filha adulta e os dois filhos criança, além de ser uma esposa amorosa e companheira. São duas mulheres fortes, batalhadoras, bem-sucedidas e, acima de tudo, muito ligadas à família. Nós bem sabemos que não existe apenas uma configuração de família, e o ratinho aposta que você vai se identificar muito com a matriarca das duas famílias!

Para quem quer se emocionar no escurinho do cinema, esse filme é uma ótima pedida! Compre uma pipoca e um refri, se aconchegue na poltrona, leve um lencinho para enxugar as lágrimas e bom filme!”

Tamo junto, Michelle.

MIDSOMMAR – O MAL NÃO ESPERA A NOITE

Nossa segunda estreia do dia é o surpreendente terror diurno de Ari Aster, distribuído pela Paris Filmes. Quem acompanha o portfólio da LBM sabe que, ano passado, legendamos Hereditário, o filme de estreia do diretor que foi intensamente aclamado pela crítica.

O filme mostra a viagem de um grupo de jovens americanos à Suécia, onde testemunharão as festividades do solstício de verão pela primeira vez. Antes mesmo do embarque, as tensões já estão acumuladas entre alguns dos participantes e, chegando ao destino, os acontecimentos parecem contribuir para os conflitos. A noite praticamente não dá as caras durante todo o filme, os desdobramentos sinistros vão acontecendo à luz do dia e, bem… A gente fica confuso!

Esse gif resume bem o filme!

Não queremos dar spoilers, mas recomendamos fortemente uma ida ao cinema. Para tanto, deixamos aqui uma legenda… intrigante:

A produção também contou com acessibilidade completa do ratinho. Em conversa exclusiva com o mouse, Fernanda Leme, da nossa equipe de audiodescrição, comentou que a montagem se utiliza muito de planos abertos, o que significa que muitas coisas estão ocorrendo ao mesmo tempo. Assim sendo, é mais difícil selecionar qual informação é a prioritária para o espectador. Numa nota mais pessoal, ela recomenda muita atenção aos detalhes da obra, pois ela traz pistas constantes nos adereços e artes que, com sutileza, contam histórias também!

***