Audiodescrição na arte: Informação? Experiência?

Como nos relacionamos com a arte e com a experiência estética da arte? Som, imagem, texto, cultura, inferência. Isso tudo vem trançado. E o que a acessibilidade comunicacional, especificamente a audiodescrição, tem a ver com isso?

Nesse meu tempo como bacharel em Letras, e dentro dele o tempo como audiodescritora-roteirista, passei por várias questões, inquietações, propostas e missões! Isso tudo partiu de observação de vários formatos artísticos, estudo, prática e de ouvir a recepção do público. Pensando principalmente no audiovisual e no teatro, vou compartilhar um pouco dessas reflexões.

A Audiodescrição como fazer técnico e profissional

Se você está chegando e ainda não sabe quem é a Audiodescrição (AD para os íntimos ou necessitados de economia de caracteres) na fila do pão, aqui vai a bio dela: Audiodescrição é uma modalidade de tradução intersemiótica, pois traduz não entre línguas, mas entre linguagens. A linguagem de partida é a linguagem dos signos visuais. Tudo o que é imagético: cores, gestos, símbolos, feições. Existe uma divisão básica entre audiodescrição de imagens estáticas (o que não se move: foto, desenho, card, pôster) e audiodescrição de imagens dinâmicas (o que se move, seja gravado ou ao vivo: filme, série, peça de teatro). Em alguns contextos podemos ter híbridos, como uma aula em que existe o contexto geral que se move e as imagens estáticas de um slide.

Audiodescrição para quem?

O foco dessa técnica é criar acesso para quem apreende informações sem o uso da visão. Por isso é um dos recursos da acessibilidade comunicacional. A experiência de pessoas com deficiência visual (cegas ou com baixa visão) pauta a construção de uma AD, e por isso mesmo nós, audiodescritores-roteiristas, sempre trabalhamos em conjunto com um audiodescritor-consultor, que é uma pessoa com deficiência visual especializada na área. Mas há relatos que mostram que outros perfis se beneficiam dela. Por causa da característica básica da técnica, que é trazer as informações para as palavras, pessoas que têm mais facilidade para receber, se conectar ou manter atenção à informação verbalizada do que à não verbalizada podem acabar tendo na audiodescrição um apoio na construção do acesso. Trazer para o plano verbal e sonoro pode, em alguns casos, aproximar a informação de autistas, pessoas com TDAH, pessoas com deficiência intelectual. Ou alguém que assista a um filme sem ter muita inserção cultural no contexto dele e acabe captando mais nuances do que é apresentado através da verbalização.

E quando a Audiodescrição se encontra com a Arte?

Com base nisso tudo, como você deve imaginar, técnicas, diretrizes e recomendações foram se desenvolvendo para deixar essa modalidade de tradução funcional. E de fato, deixam. Mas quando experiência estética (estética aqui inclui imagem, som, texto, expressividade e significação) entra no jogo, temos que ter mais alguns tipos de cartas no nosso deck. E para isso, defendo a construção de uma audiodescrição que harmonize com a narrativa, que não seja nem intrusiva e nem isenta, aliando a voz discursiva (do roteiro), a intepretação vocal (da locução) e o ritmo (da mixagem do áudio).

Isso pode ser bem desafiador. Existe a reponsabilidade tradutória de definir o que terá destaque e o que será sacrificado em nome do ritmo. Pois audiodescrever é, como traduzir em geral, fazer escolhas. E essas escolhas direcionam o olhar do espectador de forma análoga à iluminação, que escolhe pontos e elementos para priorizar e definir o todo. Uma mesma cena em filmes diferentes pode receber audiodescrições diferentes, pois o foco de importância entre as várias coisas mostradas pode ser outro. Imagine: em uma cena de uma festa com 30 pessoas, é evidente que uma audiodescrição não poderia descrever em detalhes a aparência, as roupas e as atitudes das 30. Então entra a sensibilidade narrativa de entender o que é essencial ali e como transmitir isso. E é nesse como que moram as polêmicas. Mesmo com plena compreensão de que o público com deficiência visual não deve ser subestimado, e cada indivíduo tem seu próprio campo de interpretação, a máxima dos manuais “descreva o que você vê, não interprete” parece não dar conta da realidade da função de audiodescrever um filme. Mesmo que você não enfeite o pavão e não enverede para o qualitativo, descrevendo as coisas como “belas” ou “horrendas”, a escolha vocabular e o jeito de cadenciar as orações vai dar o tom do seu texto.

Alguns manuais de audiodescrição parecem feitos (com ótima intenção) com base em experiências pedagógicas, e não de arte, narrativa e entretenimento. E aí, quando a experiência artística entra em cena e você percebe que as soluções oferecidas por esses manuais soariam pedagógicas demais, anatômicas demais ou totalmente fora do ambiente lexical daquela obra, eles somem da sua frente como o Mestre dos Magos. E aí, coragem, roteirista. É a hora de usar todos os conhecimentos e habilidades que desenvolveu. Inclusive, mas não apenas, o que os manuais trouxeram. “Depende do contexto” são palavras que quem lida com tradução e audiodescrição poderia mandar grafitar na parede do lugar em que trabalha. Meu desafio tem sido nem pisar em ovos e nem viajar na maionese feita com os ovos nos quais estou tentando não pisar. Talvez fazer omelete seja uma boa. Mas não dá pra fazer omelete sem quebrar alguns… tá, parei.

A busca por uma AD nem intrusa nem isenta, e sim diegética

A busca pelo equilíbrio é um caminho que traz riscos, essa busca por não ser nem intrusa na narrativa nem isenta da narrativa. É possível ser direta, comunicativa e ter estilo com pequenas ousadias textuais, tomando liberdades com os pés no chão. Mas não existe deck infalível. Temos que saber combinar as cartas básicas, que dão conta quase sempre, segurando um jogo básico que cumpre sua função, e as cartas situacionais, aquelas que ganham o jogo quando usadas no momento certo, mas não seguram sozinhas (não tente montar um deck só com elas). Isso vale para as diretrizes básicas, para o banco de soluções audiodescritivas que a gente vai montando ao longo do tempo e para aquelas soluções específicas que têm tudo a ver com aquela cena e trazem um léxico autêntico para o texto.

Às vezes o estritamente descritivo não é diegeticamente interessante e vale a pena arriscar e lançar mão de um atalho comunicativo. Dois exemplos:

Estritamente descritivo: Uma criança de camiseta verde corre atrás de outras quatro crianças. A de camiseta verde toca o ombro de outra, de vestido vermelho, e esta começa a correr atrás das outras quatro.

Atalho comunicativo: Cinco crianças brincam de pega-pega.

Estritamente descritivo: Toca a bola com o peito do pé direito e a move para baixo do calcanhar. Posiciona a bola na parte lateral do pé. Corre e empurra a bola pelo campo, alternando-a entre a lateral interna e a lateral externa do pé direito enquanto mantém o pé esquerdo atrás.

Atalho comunicativo: Mantém a posse da bola.

Claro que, como sempre, depende do contexto. Mas percebe como, dependendo do tempo que você tem para inserir o segmento audiodescritivo no filme sem cobrir falas importantes, o atalho pode ser necessário, ou pelo menos ser mais dinâmico e proporcionar um ritmo mais interessante junto com os sons do filme, resultando em uma experiência artística mais afinada com o material?

Aumentando o Deck!

Isso tudo pode ser construído de diversas maneiras dependendo do projeto. A comunicação com a produção, por exemplo, pode dar à equipe de audiodescrição cartas que funcionam naquele material, através de respostas a perguntas, sugestões e divulgação conjunta, levando a AD para um lugar menos tímido dentro do projeto, menos tacanho, menos saindo da festa e se despedindo com “desculpa qualquer coisa” e mais “até a próxima, pode ficar com o resto do bolo salgado, que eu vou levar uns brigadeiros aqui na tupperware”.

Uma pintura tem as cores e os traços para compor uma experiência artística. Uma audiodescrição tem palavras, frases, entonação, pontuação vocal, ritmo em conjunto com o ambiente sonoro da obra. Esses recursos são maravilhosos, e se apropriando deles é possível ir para lugares mais poéticos, mais divertidos, mais formais ou informais.

Acredito que a AD brasileira ainda tem muitos caminhos para percorrer, e vamos construir pontes e sinalizar trilhas nos próximos anos. Bora andar!

Este texto foi escrito especialmente para o blog da LBM por Fernanda Brahemcha, Audiodescritora, Tradutora Audiovisual e amiga do ratinho.

Guia de sobrevivência ao home office

Galera da quarentena,

Hoje nosso blog foi remotamente sequestrado por nosso novo tradutor e gerente de projetos, Guilherme Gama – ou só Gama, para os mais íntimos (saiba mais sobre nossa equipe clicando aqui)!

Deixo a introdução para ele, que já chegou trabalhado na relevância, dando informações valiosas para quem está tendo que encarar o home office de improviso nesses tempos aventurescos de coronavírus.

Vamos lá?

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Alô internautas e internautos de todo o Brasil e afora, e sejam bem-vindos ao nosso terceiro artigo da série A LBM, a pandemia e você. O assunto de hoje é home office (ou teletrabalho, ou “teletrampo”, como tenho lido em alguns círculos). Antes mesmo da COVID-19 tomar o mundo de sobressalto, a parcela da população que trabalha de casa já estava em alta no Brasil e agora, em tempos de crise de saúde pública e inúmeros apelos para que a população #FiqueEmCasa, não é de se espantar que um grande número de empresas peça para que seus colaboradores, bem, fiquem em casa.

Aqui na LBM, entretanto, home office não é nenhuma novidade. O ratinho já trabalha remotamente – cada um na sua toca – há muito tempo, sempre fazendo nossas entregas com a qualidade, a pontualidade e o carinho com que nossos clientes estão acostumados. E já que estamos nessa há algum tempo, agora ficamos como os Ewoks em “O Retorno de Jedi” acolhendo os recém-chegados e distribuindo colares. Pois é. Vocês agora são parte da tribo.

Sem mais delongas, aqui vão algumas dicas essenciais a quem quer mergulhar de cabeça no home office (pode descer a escadinha da piscina se preferir), em ordem de dificuldade:

1. Talvez conectar o computador à internet com um cabo de rede

Isso não é bem uma política da LBM. É mais uma recomendação minha para você que está lendo aqui, especialmente se precisar fazer muitas reuniões com vídeo.

Wi-Fi é uma tecnologia incrível, mas ainda tem suas limitações. Se as suas chamadas de vídeo estão parecendo mais aqueles depoimentos de imagem borrada dos noticiários policiais, talvez seja hora de instalar um cabo Ethernet. Dá pra comprar por metro na internet e é de fácil instalação (basta plugar uma ponta no seu roteador e outra no seu PC e voilà!). Quando seus colegas te perguntarem: “Uau! Como você faz para seu vídeo ficar com uma qualidade tão incrível?”, você pode quebrar a quarta parede e dar uma piscadela para a câmera, no melhor estilo de comerciais de TV dos anos 50.

“Dr. Strangelove, ou Como Eu Aprendi a Amar o Cabo Ethernet”

2. Centralizar toda a comunicação interna em um lugar só

Uma das inovações que fizeram o maior sucesso aqui dentro da LBM foi a adoção de uma plataforma de comunicação. Aqui a gente optou pelo Slack, mas existe um número grande de equivalentes no mercado (Hangouts Chat, Chanty, Microsoft Teams, Rocket.Chat etc.), para equipes de todos os tamanhos e com necessidades diferentes.

O conceito é simples: Em vez de ficar navegando um labirinto de e-mails, mensagens de WhatsApp, anexos e lembranças vagas de ligações telefônicas, toda a comunicação interna da equipe passa por um lugar só. A maior parte dessas plataformas permite criar canais públicos ou privados para projetos, conversas diretas e trocas de arquivos entre usuários, além de oferecer integrações com outra plataformas e serviços.

Tudo isso diminui bastante a carga de e-mails (que ficam restritos à comunicação externa) e evita aquelas situações desagradáveis de ir buscar uma mensagem enviada em agosto do ano passado para descobrir qual o prazo combinado para a etapa X do job Y, e antes que você se dê conta, você está como o Jack Nicholson em “Questão de Honra” gritando “You can’t handle the truth!”

Não vai ser dessa vez, Tom Cruise de 1992: Basta procurar dentro do canal específico do projeto, e todas as informações estarão lá.

3. …mas ter um lugar para a equipe jogar conversa fora

Parte do que torna nosso trabalho tão especial são as excelentes relações com clientes e também entre membros da equipe. Home office é prático e conveniente, mas não tem hora do cafezinho e nem bate-papo no almoço. Nem happy hour. Nem quinta-feira de trazer cupcakes. Interessante como nossas atividades sociais todas giram em volta de comida e bebida.

De qualquer modo, um espaço para bate-papo geral, sem tocar em assuntos de trabalho, é importante para uma equipe que quase nunca tem contato presencial. O Slack tem, por padrão, um canal especificamente par isso, o #random, mas como nem todos os LBMers estão no Slack, resolvemos transferir o conceito para o WhatsApp, criando um grupo chamado… #random.

Pra ser justo, uns 90% da comunicação no grupo tem sido na forma de GIFs, vídeos e fotos de gatos, cachorros e outros bichanos que encontramos pela internet. Mas ao longo da semana, às vezes é tudo isso que precisamos para manter o astral lá em cima – especialmente numa época como essa.

Um dia normal no #random

4. Autocuidado

Pois é. Eu avisei que a lista seria em ordem de dificuldade. A peça mais importante do home office é a pessoa que o ocupa. E cada pessoa é um microcosmo que inclui personalidade, experiência de vida, relações pessoais e um sem-número de outras circunstâncias.

No meu caso específico, estou chegando perto dos 40 e, portanto, a adaptação ao home office passou por uma adequação do espaço de trabalho: cadeira, teclado e mouse ergonômicos, monitor de tamanho adequado e ajustado corretamente para não forçar a vista, fones de ouvido à altura do material que recebo.

Passou também por respeitar meus limites, saber que não vou resolver todos os problemas em um dia só, e que tirar uns 10 minutos em silêncio na sacada pode fazer uma baita diferença na produtividade do resto do dia.

E finalmente, passou por aprender a desligar a cabeça quando o dia ou a semana termina e dar atenção a todas as outras coisas, pessoas, bichos e plantinhas no parapeito da janela que precisam dela.

Mas isso sou eu. Você que está lendo pode ter circunstâncias totalmente diferentes, e minha mensagem final aqui é que, caso não tenha já feito isso, você encontre o que funciona para você e seu home office. E para as suas plantinhas.

Como o blog é de cinema, termino com uma cena que me marcou muito na infância, em “Indiana Jones e a Última Cruzada”, quando o arqueólogo-título cruza o último abismo que o separa do Cálice Sagrado que trará vida a seu velho pai. Sejamos como o Dr. Jones (o filho, não o pai): atravessemos o abismo um passo tranquilo de cada vez.

Indiana Jones e os Caçadores do Equilíbrio Vida Pessoal/Vida Profissional

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Os Easter eggs em “Midsommar”

Caros quarentenados,

Neste domingo de Páscoa de isolamento, os ovos que trazemos são especiais! Você já ouvir falar em Easter eggs em obras audiovisuais?

São daqueles que você precisa encontrar como numa gincana: objetos ou imagens que fazem referência à cultura pop, ou que podem antecipar a trama do filme de alguma forma. Hoje vamos compartilhar alguns Easter eggs do segundo tipo, os que o diretor Ari Aster deixou escancarado em seu filme “Midsommar – O Mal Não Espera a Noite, de 2019”. Espera, seriam então… Aster eggs?

Como conhecemos tão bem esse filme? Fizemos a tradução, legendagem e acessibilidade para o cinema em 2019, em parceria com a Paris Filmes 😉

Nosso supervisor de pós-produção, especialista em roteiro e cinéfilo Ivan M. Franco descreve de forma bem-humorada todas surpresinhas que o filme traz para vocês (clique aqui para saber mais sobre a nossa equipe). Preparados?

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“Midsommar” é um filme surpreendente. Quer dizer, mais ou menos. Mas logo mais eu me explico!

Ele começa nos mostrando o difícil momento que Dani, a protagonista, está vivendo: um grande drama familiar, acompanhado de um namoro que não parece ir muito bem. Em plena luz do dia, os eventos mais chocantes se densenrolam e vamos ficando embasbacados com o rumo que as coisas tomam. E nos perguntamos se fomos ingênuos de acreditar que aquilo tudo não estava por vir. E a resposta é que sim, fomos muito ingênuos. Spoiler alert: se você não assistiu ao filme, é melhor não continuar!

Se “Midsommar” fosse um Kinder Ovo, a surpresa estaria estampada na embalagem. Isso porque o filme todo está logo na primeira cena, na forma de uma pintura. A pintura é o grande Aster egg do fime. Ela dura aproximadamente vinte segundos e é separada pelas quatro estações, explicadas no filme como as quatro etapas da vida. Aqui já temos a narrativa em que Dani estará inserida: a separação entre ela e sua família, começando com a morte no inverno; e um recomeço da sua história, terminando com a vida no meio do verão.

O começo do filme é chocante… Mas fiquem tranquilos, porque só piora depois.

Seguindo na análise cronológica da pintura, vemos Dani conectada a seus pais por longos tubos. Os tubos antecipam a morte deles por asfixia junto da irmã com as mangueiras conectadas ao escapamento do carro no início do filme. Também temos uma caveira cortando o tubo que sai do umbigo de Dani, simbolizando a separação dela da família. O porque desse esqueletinho estar usando botas verdes, eu não sei. Mas está fofo.

A segunda parte mostra Pelle desenhando bem bonzinho, como se apenas observasse. Porém está do alto, revelando-o como alguém que tem controle das situações, tipo um títere. Nessa mesma parte, temos Christian consolando Dani pela morte de sua família, mas cruzando os dedos atrás das costas. Alguém com mais de seis anos conta pra ele que não funciona?

Olha a cara de anjo caído do Pelle.

Em seguida, o grupo de amigos de Christian: Josh, carregando livros e representando o culto; e Mark, com chapéu de bobo da corte (The Fool). É interessante notar que, quando Mark pergunta do que as crianças estão brincando, respondem para ele “esfola-bobo” (skin the fool) e, não muito mais tarde, Mark tem seu rosto arrancado. Pelle aparece guiando o grupo enquanto toca uma flauta. Ele é o Flautista Mágico do conto, que encanta e leva embora todas as crianças da cidade de Hamelin.

Essa terceira parte se passa na vila de Hårga, onde mulheres ostentam taças e caveiras. Talvez exista a chance de fazer escolhas certas ou erradas, determinando seu destino na vila. No caso do nosso grupo de amigos, quanto azar! No alto, temos o trono no qual Dani se sentará quando se tornar a Rainha de Maio, além do casal de idosos que saltam do penhasco. Aqui é importante ressaltar que os rostos dos idosos são os mesmo que dos pais de Dani, uma alusão às várias vezes em que Dani alucina ver sua família na vila. Temos também a primeira (mas não única) aparição do urso que será sacrificado e usado para colocar Christian dentro. Se tem gente que achava que a vila do Chaves era na verdade o inferno, não conheceu Hårga!

Reparem na meia por cima da calça de Josh, o bobo da corte.

A última parte da pintura mostra a dança em que Dani se torna a Rainha de Maio e pessoas sentadas à mesa para o ritual. Várias caveiras fofas também dançam aqui, representando os sacrifícios que serão feitos durante o festival, voluntários ou não. Mais para não.
A parte mais interessante aqui é o grande sol que aparece em oposição à caveira da primeira parte. Mas não é só isso: o filme termina com o rosto de Dani sorrindo, mesclado à construção amarela pegando fogo! Mais macabro que isso, só o sol dos Teletubbies!

Bom, essa imagem fala por si própria!

Enfim, estes são os principais Aster eggs que encontramos referenciados na pintura que abre o filme. Não é a primeira vez que Ari faz isso em uma obra sua. Quem sabe na próxima vez a gente mostre os segredos escondidos em “Hereditário”? 😉

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Agora, se quiser saber em que outras produções trabalhamos, veja nosso portfólio!

Por que a legenda não inclui todos os surdos?

Caros leitores e leitoras,

Nesta quinta, o papo é sério e reto: acessibilidade audiovisual para surdos e o que não sabemos sobre ela.

É comum haver questionamentos sobre por que a janela de Libras é necessária quando já há legendas descritivas. Não seria a leitura das falas a solução do problema de todos os surdos? Não, senhores.

Nossa parceira intérprete Paloma Bueno, em parceria com a também intérprete e tradutora Juliana Fernandes, escreveu esse incrível texto que trazemos abaixo, explicando as coisas que não sabemos sobre esse público que agora procuramos incluir no mundo audiovisual (postado originalmente no LinkedIn – link para o artigo original no texto).

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Muito além de uma obrigação legal, a acessibilidade (linguística, no caso) é um recurso que permite aos surdos ampla participação nos diversos espaços sociais, bem como o exercício da cidadania; é um direito e não um favor! Vez ou outra recebo questionamentos como “pra que a Libras, ou, por que a legenda em português não é suficiente? Como assim, surdo não sabe ler?”.

Nosso objetivo neste artigo nem de longe é esgotar o assunto, mas sim apresentar alguns dados no sentido de propor algumas reflexões sobre os entraves, o perigo e o erro em generalizar as necessidades.

Neste artigo, comentei especificamente sobre a insatisfação do público surdo na última propaganda eleitoral em 2016.

Alguns dados

Segundo o Censo IBGE (2010), o Brasil tem 10 milhões de surdos. Desses, 2,1 milhões têm muita dificuldade na comunicação em português escrito, pessoas com surdez profunda e usuárias da Libras – Língua brasileira de sinais.

Legislação

Já somamos décadas de lutas e leis que promovem a acessibilidade comunicacional. No entanto, a LBI – Lei Brasileira de Inclusão – é a mais recente.

A Ancine – Agência Nacional de Cinema – prevê a inclusão de recursos de acessibilidade no cinema para obras que utilizam recursos públicos. As propostas iniciais previam que até 2015 esses recursos seriam garantidos. O prazo da Ancine é que até novembro de 2018 as salas devem oferecer equipamentos para promover acessibilidades ao público de pessoas com deficiência. A câmara técnica ainda não decidiu a tecnologia-suporte a ser adotada nas salas de cinema.

Educação

No ensino público, não é novidade a grande problemática da má qualidade do ensino de línguas estrangeiras. Sabemos que é insatisfatória! E vários são os motivos, como a precária formação docente para ensino de segunda língua, por exemplo.

Lembro-me quando estava no primeiro ano do ensino fundamental aprendendo as sílabas e repetindo os escritos do quadro “bá-bé-bi-bó-bú…”, e que acredito que até os dias de hoje essa metodologia permanece, independentemente do público de alunado que a escola tem recebido! Perceba que o sistema ensina a escrita conectando-as com a pronúncia do português falado! Então eu os questiono: como os surdos aprendem a partir de uma abordagem auditiva? Obviamente que esse sistema de ensino não dá conta, nem de longe, de ensinar o português como segunda língua para os alunos surdos. É preciso considerar suas especificidades linguísticas a partir da lógica da modalidade de uma língua sinalizada e enquanto primeira língua para ensinar o português como segunda língua na modalidade escrita.

Condição histórico-linguística dos surdos

A maioria dos sujeitos surdos na atualidade nasceram em famílias de pais ouvintes, em muitos casos também a surdez é descoberta tardiamente, fazendo com que cheguem na fase escolar SEM LÍNGUA. Como aprender português sem antes ter uma primeira língua de uso social? A língua que o torna sujeito neste mundo, desenvolve aspectos de sua subjetividade e tem capacidade de dar sentido às coisas. E, ao chegarem na escola, como acreditar que vão aprender o português com fluência?

Imagine como é até hoje o ensino para surdos: defasado. De abordagem oralista, pela concepção clínico patológica da surdez. Saiba que é bem pior que o ensino de inglês. Então já dá para imaginar qual é a realidade da leitura do português para os surdos como segunda língua? Não há dados objetivos ainda, mas frequentemente vemos notícias como: “surdos não têm intérpretes em sala de aula / demanda por intérpretes é maior do que quantidade de profissionais disponíveis no mercado/ surdo processa escola ou universidade por falta de acessibilidade“, e por aí vai.

Nos dias e condições atuais, ainda não é possível cobrar por algo que não foi oferecido durante o Ensino Básico. Por esses motivos apresentados, o surdo realmente precisa de ACESSIBILIDADE EM LIBRAS!

A importância e a limitação da legenda

A legenda cumpre com seu papel para uma minoritária parcela de surdos, mas não abrange todas as necessidades, faixas etárias e condições/histórico-linguísticas; portanto não atende a todos os cidadãos surdos.

Reflita ainda…

  • No caso das crianças ouvintes analfabetas: elas não dão conta de ler as legendas e apreciar um filme ao mesmo tempo. Vemos vários adultos ouvintes também que não conseguem acompanhar versões legendadas e preferem a versão dublada.
  • Cidadania: imagine quantos eleitores gostariam de votar consciente e quantos dão votos desinformados, já que não tiveram a oportunidade de conhecer os planos de governo propostos pelo candidato. Tudo isso por falta de acessibilidade.
  • E os noticiários? Saiba que os surdos pedem aos ouvintes para explicarem o que está acontecendo no mundo. Há blogs de revistas especializadas, como a Revista D+ Inclusão e a TV INES, que selecionam notícias relevantes e as traduzem para a comunidade surda semanalmente. Somos diariamente e durante 24 horas do nosso dia expostos à informações nesta era do conhecimento, então imagine para um sujeito surdo o que é estar alienado destas oportunidades a partir da privação linguística?
  • Uma sociedade verdadeiramente justa, humana e inclusiva também é aquela que leva em consideração as especificidades das necessidades, onde a alteridade, a equidade e a diversidade são fatores de alta relevância em favor das boas práticas sociais. Os grupos minoritários necessitam ter voz e escuta, pois são a partir deles que tais práticas serão beneficamente balizadas.

Sendo assim, quando falamos em acessibilidade comunicacional ou linguística para sujeitos surdos, é de extrema importância que todas as possíveis opções estejam presentes: legenda em português escrito, janela de libras e até as informações gráficas da audiodescrição, que ajudarão tanto no entendimento contextual de acontecimentos sonoros durante a exibição do material quanto na escolha das opções presentes para melhor acompanhamento e aproveitamento das informações publicadas.

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Tapão na cara da sociedade, hein? Obrigada Paloma e Juliana pelos esclarecimentos. Sigam as intérpretes no LinkedIn para acompanhar os textos e notícias do mundo da Libras:

https://www.linkedin.com/in/palomabuenolibras/

https://www.linkedin.com/in/julianafernandestils/

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O controle de qualidade na legendagem

Caríssmos e caríssimas,

Nesta quinta-feira ensolarada, trazemos um tópico que levamos muito a sério aqui na LBM: o controle de qualidade, vulgo CQ. Aquele que não é uma revisão, mas também não é menos importante do que ela. Aquele que amarra o texto e dá consistência, deixa com cara de coisa bem feita. Mas onde vive e de que se alimenta o CQ?

Nossa meticulosa profissional de controle de qualidade, Paula Barreto, une seu amor por CQ ao seu amor por Bernardinho para descrever a saga da padronização (saiba mais sobre a nossa equipe!).

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Você já parou para pensar em todos os processos pelo qual a legenda de um conteúdo passa antes de ser exibida? Se sim, você provavelmente pensou nos processos de tradução e revisão, talvez de leitura. Mas, na maioria dos casos, existe um outro processo bastante importante, ainda que não seja muito discutido e que poucas pessoas tenham consciência da sua existência: o controle de qualidade.

Então comecemos pelo básico: o que é o controle de qualidade? Onde ele se encaixa no processo de legendagem? Como é feito? Hoje, no Globo Repórter. Como muitas coisas no universo da tradução audiovisual, esse processo pode variar muito dependendo da empresa e do cliente, então não existem regras definitivas nem uma maneira correta de se fazer o CQ. Cada empresa pode abordar esse processo de maneira diferente, e nem todas incluem o controle de qualidade em seu fluxo de trabalho. Como trabalhei desde 2012 com controle de qualidade em produtoras que atendem principalmente aos grandes canais e serviços de TV, a perspectiva que vou oferecer aqui é de como essas empresas lidam com esse processo.

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Bom, o controle de qualidade nada mais é que uma etapa final depois do arquivo de legendas já ter passado pelo tradutor e revisor e, às vezes, pela leitura. Esse processo pode ser considerado como um pente-fino do arquivo, uma última revisão antes da legenda ser entregue ao cliente. “Mas para que fazer uma segunda revisão?”, você pode se perguntar. Afinal, se depois que a tradução foi feita o arquivo já passou pelas mãos de um revisor, qual é a importância desse processo final? Teoricamente, o controle de qualidade serve mais ao propósito de adequar o arquivo aos padrões do cliente – padrões esses que tradutores e revisores nem sempre estão por dentro. Normalmente quem faz o controle de qualidade são estagiários e funcionários que, diferentemente do tradutor, revisor e leitor, trabalham dentro da empresa. Isso significa que esses profissionais têm um entendimento maior sobre os  padrões e gostos do cliente, já que além de estarem dentro da empresa e ver como as coisas funcionam, eles também recebem e-mails com feedback, correções, preferências, manuais atualizados e afins. Sem mencionar que podem sempre contar com profissionais capazes dentro da empresa para tirar dúvidas, discutir opções de tradução e até enviar e-mails ao cliente para esclarecer o que quer que seja. Dessa forma, as pessoas que trabalham com o controle de qualidade entendem melhor sobre os padrões e preferências do cliente, e assim essa etapa se faz necessária para entregar um arquivo de alta qualidade.

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O trabalho do setor do controle de qualidade envolve também avaliar se um arquivo está todo dentro das diretrizes do cliente. Isso pode envolver muitas coisas: preferências linguísticas, dos and don’ts, inclusão do título ou não, tradução de artes/cartelas ou não, tradução de músicas ou não etc. Além disso, é responsabilidade do CQ tratar de aspectos mais técnicos, como cor da fonte, mudança de cor para legendas de cartela ou arte, arquivo de pós-produção, código de deslocamento da legenda, inserção de tarja, como prosseguir quando há legendas queimadas no vídeo, pausa correta entre as legendas e afins. Esse trabalho mais técnico geralmente não é feito pelo tradutor nem revisor, sendo responsabilidade apenas dos profissionais que trabalham no controle de qualidade. Então, além dessa parte obrigatória e mais técnica, o CQ serve também, como dito antes, para fazer uma segunda e última revisão do arquivo, ou seja, deixá-lo o melhor possível para a entrega final para o cliente. Dessa forma, o trabalho do controle de qualidade conserta erros que ainda passaram pelo revisor e muitas vezes melhora a qualidade do texto.

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Esse processo pode não estar presente em todas as empresas e fluxos de trabalho, mas sua importância não deve deixar de ser notada. É uma etapa a mais que garante uma melhor qualidade do serviço, o que, no fim das contas, pode fazer toda a diferença na relação entre o cliente e a empresa. Por essas razões, além do fato de eu ter trabalhado muito tempo com isso e realmente gostado do trabalho, eu digo:

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O ratinho dá sua bênção: padronizai-vos.

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