A LBM em cartaz: “Suburbicon”

Car@s leitor@s,

“É só um chute, mas me deu a sensação de que, na opinião de Clooney, os Estados Unidos da época de Eisenhower tinham um problema com racismo. Caramba, quem poderia adivinhar?”

Moradores superbacanas de Suburbicon dando as boas-vindas à nova vizinha.

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A frase aí em cima é uma tradução livre de um trecho da crítica de Anthony Lane para a revista (maravilhosa) The New Yorker sobre o filme “Suburbicon – Bem-vindos ao Paraíso”. Clooney (George para as groupies) é o diretor da obra, que desengavetou esse roteiro dos Irmãos Coen, além de assiná-lo junto com eles. Pelo comentário de Lane, já sabemos que a temática está um pouco batida para o público americano. Porém, para nós por aqui, esse imbroglio racial estadunidense da década de 50 não é tão óbvio, e a mão dos Irmãos Coen torna tudo mais peculiar!

Para além de conexões óbvias com a gestão Trump e paralelos com eventos fascistoides recentes aqui no Brasil, aqui da parte da LBM nos chamou a atenção o fato de o filme conversar com um fenômeno real dos centros urbanos, que é o isolamento das pessoas em condomínios e bairros planejados. Numa versão ainda mais assustadora, vimos surgir cidades que são conglomerados de condomínios, como a nossa Alphaville aqui em São Paulo.

Em uma palestra para o Café Filosófico, o psicanalista Christian Dunker – que já amamos desde “Nunca Me Sonharam” – conta como essa tendência pela busca do isolamento entre iguais para escapar ao mal-estar social acaba agravando nossas neuroses individuais e sociais, já dando a dica de que esse escape causa mais problemas do que soluções. Em “Suburbicon”, a presença da nova  (e única) família negra no bairro traz à tona esse mal-estar dentre os que não toleram a diversidade, mostrando nos subsequentes atos violentos contra a família a real faceta da comunidade. Vale a pena tirar um tempinho para assistir aqui.

Ainda no tema, recomendamos o longa brasileiro “O Som ao Redor”, do diretor Eduardo Coutinho.

Mas voltando ao nosso paradisíaco Suburbicon, algo que parece ser unanimidade entre críticos e o público maior são as atuações. O elenco de peso conta com Julianne Moore, as incríveis crianças Noah Jupe e Tony Espinosa, além de Matt Damon num papel que, talvez pela primeira vez na história, é tão odioso que fica impossível torcer por ele. Para coroar, um brilhante Oscar Isaac sequestra o filme com apenas duas cenas (Academia, cadê o Oscar do Oscar?). Jeremy Jahns não resistiu aos talentos de Isaac e confundiu as coisas. Assista ao vídeo em inglês na íntegra aqui.

 

Por essa riqueza de discussões que o filme traz, com personagens interessantes e bem interpretados e legendagem da equipe liderada pelo roedor mais incrível do Brasil, recomendamos o filme como programa de fim de ano 😉 Em vez de ficar fazendo sala pro Tio do Pavê (todo mundo tem um!), vai esperar a ceia de Natal vendo “Suburbicon” no cinema!

A LBM em cartaz: “Perfeita é a Mãe 2”

Dezembrão chegou e a gente tá como? Estreando o primeiro filme natalino do ano!

A incrível tradição hollywoodiana de lançar filmes temáticos na época das festas de fim de ano se mantém e, nesta quinta, a estreia de semana vai para quem se amarra numa aventura de Natal. Exceto que, dessa vez, tem que se amarrar num palavrão também!

Pra quem ainda não pegou o espírito da coisa.

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“Perfeita é a Mãe 2” é a sequência da comédia que o ratinho legendou no ano passado. Para quem não assistiu, está lá na Netflix com a nossa tradução! O filme original foi uma boa comédia, que introduziu um grupo de jovens mães frustradas com a sobrecarga da jornada dupla entre casa e trabalho que decide tacar o ****-se e se divertir um pouco. A gente esperava uma sequência bacana, mas ficou surpreso com a qualidade do filme. Some às pressões da vida materna a pressão do Natal e da relação das mães com as suas próprias mães e XABLAU! Comédia histérica de engraçada.

Sim, essa cena existe. Sim, o filme é imperdível.

O filme tem muitas piadas incríveis e já adiantamos que vai render uma edição especial de “Daredevilish Subtitling” só dele. Porém, para não dar spoilers e acabar com a brincadeira, resolvemos focar hoje num aspecto importante e não muito discutido da nossa área: a revisão. Um processo de revisão bem estabelecido é essencial para legendas de qualidade. Já percebeu quando um texto desce redondinho? Pode ter certeza de que ele tem a mão do revisor. Afinal, ele não está ali apenas para corrigir erros, mas para fazer que um texto atinja todo o seu potencial; em outras palavras: para transformar um bom texto num excelente texto.

Num filme com muitas piadas, trocadilhos e sacadas inteligentes como é o caso de “Perfeita é a Mãe 2”, a revisão tem o papel extra de dosar e tarimbar as escolhas do tradutor, validando o que ele entende como boas soluções. Sabemos que os tradutores costumam ser heróis anônimos, mas… e os revisores? São eles que salvam! Não à toa, eles também tem seu dia: 28/3. Aproveite as liquidações de começo de ano para comprar um presente bacana para quem salva sua pele!

Revisar exige um conjunto de habilidades que vão além de conhecimento linguístico. Como a Mitsue Siqueira e o Bruno Fontes apontaram em um texto para o blog Revisão Para Quê?, é necessário ter “discernimento para propor correções pertinentes, paciência para trabalhar textos de baixa qualidade e muito tato para enviar feedbacks, principalmente quando não são agradáveis”. Para tanto, experiência em revisão inclui não só revisar os textos de outrem, mas ter suas traduções revisadas e aprender com isso. Além disso, há cursos de especialização em revisão; você pode conferir uma lista deles feita também pelo blog Revisão Para Quê? clicando aqui.

Medo encontra a curiosidade mórbida enquanto aguardamos a revisão do nosso material.

Para esse nosso filme boca suja, contamos com um tradutor principal, uma revisora e um controle de qualidade.  Juliana Lopes é revisora de TAV com ampla experiência na TV a cabo e paciência de Jó com tradutores perfeccionistas. Ela colaborou recentemente com o ratinho e veio contar um pouco sobre a experiência de revisar “Perfeita é a Mãe 2”. Juliana não usa collant ou capa (usa?), mas é nossa heroína hoje.

Particularmente, sempre achei a revisão de legendas um trabalho divertidíssimo. Perfeita é a Mãe 2 é um daqueles filmes que consegue deixar a tarefa ainda mais divertida, a ponto de eu precisar dar pausas no vídeo para rir das piadas. Como moro no Porto, em Portugal, decidi checar a experiência de ver o filme no cinema com uma audiência portuguesa – e, é claro, com uma legenda portuguesa também. Apesar de terem sido mais conservadores na tradução dos palavrões, o que diminuiu o impacto e a graça de algumas cenas para mim, isso não impediu que o público gargalhasse, sem exageros, o filme praticamente todo.

Por falar em palavrões, confesso que a quantidade que encontrei nas legendas brasileiras me assustou à primeira vista (nada de puritanismo, é só mesmo o costume à censura das legendas para a TV). Passado o susto inicial, no entanto, comemorei. Levando em consideração que este filme fala sobre mulheres que estão cansadas de serem perfeitas para agradarem os outros, os palavrões e a decisão de traduzi-los na legenda funcionam como um dedo do meio para aqueles que ainda cobram determinados comportamentos das mulheres em geral. Não dá para imaginar a desbocada Carla ou sua mãe falando expressões suavizadas para agradar a moral e os bons costumes. Além disso, o estresse do Natal, com os presentes, as comidas, as decorações, as tradições e, acima de tudo, com a família, é o suficiente para Amy, Kiki e Carla – ou qualquer um de nós – mandarem tudo para a puta que pariu!”

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Para celebrar a estreia, estamos oferecendo para nossos leitores uma lembrança muito especial. Trata-se de um caderninho com ilustração do designer Renan Salotto, costurado à mão, trazendo o ratinho no papel da protagonista do filme, Amy.

Olha lá o dedinho do meio levantado, coisa mimosa <3

O sketchbook de “Perfeita é a Mãe” foi um dos muitos da série que fizemos ano passado com várias de nossas estreias para presentear clientes, colaboradores e amigos, e agora a última peça pode ser sua! O caderninho vem num lindo saquinho de algodão com a estampa do ratinho apresentando a “LBM e você em cartaz”. Para levar essa peça única para casa, basta compartilhar este texto no Face e mencionar nele o seu palavrão preferido! Pro ratinho saber, compartilhe direto da nossa página do Face, ok?

Até semana que vem!

A LBM em cartaz: “Patti Cake$”

Rapaziada, Johnny Boy na parada

Pra contar a história dessa mina bolada

Que de bolinho não tem nada

Lil B. Mauz, 2017

 

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Patti Cake$, quem é essa mina? 

Patricia Dombrowski mora com a mãe e a avó, e as três cortam um dobrado pra manter as contas em dia. A saúde debilitada da ácida porém carismática avó da moça, interpretada pela veterana Cathy Moriarty, e o comportamento errático da mãe, Barb (Bridget Everett), apenas tornam a vida da jovem ainda mais complicada. As contas se amontoam e um emprego já não é mais o suficiente. Será que sobra tempo para correr atrás do sonho de ser rapper e dar uma vida melhor para todo mundo? Essa grande pergunta move o filme, mas não sem alguns percalços e personagens adoráveis para nos guiar pelo caminho. O Ministério do Rap adverte: esse post fica muito mais legal quando lido com a trilha sonora INCRÍVEL do filme: Apple Music e iTunes e Spotify.

Essa semana vim falar de um filme que tem os dois pés na quebrada e o linguajar das minas e dos manos. Uma questão de agendas e uma intensa vivência em escolas públicas da capital do Rio de Janeiro me tornaram o mais apto à tarefa. Das várias reflexões que esse filme despertou em mim, destaquei uma bem relacionada à linguagem para compartilhar com vocês e aproveitei para relacionar minhas ideias a um post muito bacana de um colega. Espero que gostem.

 

As (várias) traduções de bitch

Se tem uma coisa que eu adoro num trabalho, é receber carta branca ou o mais perto possível disso, principalmente em obras desafiadoras e/ou naquelas que possuem algum compromisso com a oralidade em seus roteiros. Quem me conhece pessoalmente sabe do carinho que tenho por roteiros com diálogos bem escritos e com uma boa dose de naturalidade; refletida na legendagem, é claro. E “Patti Cake$”, distribuído pela RT Features, é um terreno fértil para isso: gírias aos baldes, tiradas divertidas, sacadas geniais e tudo ao som de batalhas de rap que exalam tensão; afinal, a intenção numa batalha dessas é, digamos… desmerecer o coleguinha. E ao longo de “Patti Cake$”, não só das batalhas, temos uma chuva de bitch! O filme foi traduzido no começo de setembro, a tempo para a pré-estreia no Festival do Rio, mas quiseram os astros que no dia 9 deste mês de novembro o professor John Whitlam, da pós-graduação em tradução da Estácio de Sá, publicasse um post que teve tudo a ver com a tradução desse filme.

Essa é pra quem não sabia que “bitch” tem várias traduções!

Foi muito curioso encontrar um eco tão forte das minhas reflexões no post de um colega. E para deixar isso claro vou citar alguns trechos do post do meu xará inglês. Ah, é claro que ler o post original vai ajudar sua compreensão, mas vamos lá:

 

  1. De forma resumida, Whitlam argumenta que em filmes, séries e realities traduzidos na TV brasileira (essa tá na nossa conta, hein, pessoal da TAV?) o termo bitch constantemente é traduzido como “vadia” ou “vagabunda”, ou seja, fazendo referência ao comportamento sexual da mulher, o que raramente é verdade nos dias de hoje.
  2. Com base nisso, o autor desenvolve um raciocínio muito interessante sobre a etimologia da palavra e seus possíveis usos, apresentando possíveis soluções mais adequadas para o termo. Mas vamos arregaçar as mangas e falar da Patricia Bolinho$ na prática!

 

Logo no começo do filme, um integrante de um grupo de rap com letras pra lá de machistas e agressivas quase atropela nossa heroína e solta um sonoro:

 

“A parada é GSM, vaca!”

 

GSM = Goon Squad Mob, um grupo de rap.

 

Esse é o exemplo clássico em que bitch pode ser traduzido por praticamente qualquer coisa negativa, como “escrota”, “vacilona” ou, se você estiver se sentindo mais conservador, “babaca”.

 

Mais tarde, numa batalha de rap, um dos integrantes do Goon Squad de descendência italiana, manda a letra já num contexto em que mostra desprezo por mulheres:

 

“ganho dinheiro que nem o De Niro

em seu carrão

 

vadias, cheguei,

quero calcinhas no chão”

 

Nenhuma surpresa aí, afinal é a tradução mais esperada para o termo. Mas como muito sagazmente John Whitlam apontou, as rappers feministas se apropriaram do termo e deram uma conotação positiva a ele, uma conotação de “poderosa”, e essa é que mais chama a atenção no filme. Afinal, Patti Cake$ é uma boss bitch, e ninguém a convence do contrário, nem a realidade contrastante com suas letras. Por isso ela diz para o espelho:

 

“Você é gata,

um mulherão da porra

Para mim, por mais que a gente se sinta vivido, “descolado”, culto e por dentro dos assuntos é sempre bom ter humildade e reconhecer a importância dos colegas de trabalho. Nesse filme, por exemplo, o olhar da Ligia foi essencial para chancelar as escolhas tradutórias e percepções sobre as personagens femininas. Na minha leitura, Patti Cake$, sua mãe Barb e avó, Nana, formam um núcleo de três gerações de mulheres fortes e que contam umas com as outras para superar as dificuldades impostas pela vida. Em última instância, “Patti Cake$” é uma história de sororidade e empoderamento, tanto que antes de encarar um grande desafio, nossa heroína diz:

 

“A oportunidade bate à minha porta,

eu chego de sola

 

um brinde à Patti, gatas

 

Vou me despedindo por aqui, mas espero voltar em breve com mais temas bacanas sobre tradução. Espero que esse post, ao expandir a discussão originalmente proposta por John Whitlam, contribua para outros tradutores e entusiastas da tradução. Você tem alguma crítica ou sugestão? Fala que eu te escuto! Eu tenho uma dica: assista “Patti Cake$”.

A LBM em cartaz: “Uma Razão Para Viver” e “Maria”

Car@s colegas,

Voltamos hoje com a programação normal de quinta-feira, depois do pequeno bug que nos fez perder a mão no calendário das últimas duas semanas! Procuramos da melhor forma nos redimir com um post no último domingo. Se você ainda não leu, clique aqui.

Anyways, vida que segue né, amoras? Esta semana, chegamos chegando com uma dobradinha nas estreias: um nacional e um internacional; um documentário e uma ficção; uma protagonista mulher e um protagonista homem. Affe, diz aí: é muita versatilidade, né não?

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Depois de um longo trajeto (o documentário concorreu no festival É Tudo Verdade, passou pelo Festival do Rio e pela Mostra de SP), o filme “Maria – Não se Esqueça que Eu Venho dos Trópicos” finalmente chega ao circuito cult nacional. A produção é uma visão geral sobre a carreira e vida pessoal da artista brasileira Maria Martins, pouco conhecida no próprio país, mas um expoente internacional no mundo das artes. Para simplificar, a mulher era um lacre sem fim. No começo do século passado, ela se divorciou de um homem poderoso, casou de novo, virou escultora, teve ateliê em NY, onde reunia a nata da arte mundial, tinha um casamento aberto e teve um romance com Marcel Duchamp, tendo sido uma grande influenciadora da arte dele (e não o contrário, valeu, críticos machistas do universo?). Assista ao trailer:

A obra de Maria Martins foi uma parte importante do nosso surrealismo, e se conectava com a sexualidade humana em vários níveis. Em sua crítica ao filme, Leonardo Ribeiro aponta: “Se valendo de um vasto acervo de imagens dos trabalhos, cartas, vídeos e fotografias particulares, o longa transmite com eficácia o olhar instigante e o desejo de subversão da protagonista, externado através da exploração do corpo humano (…).” Em tempos de reacionarismo quase medieval na nossa sociedade, em que a nudez e a relação orgânica com o corpo nu têm sido colocadas em foco como algo problemático, entrar em contato com a obra de Maria pode ser um sopro de ar fresco. Leia a crítica na íntegra aqui.

“O Impossível”. Qualquer associação a corpos nus e sexualidade NÃO É MERA COINCIDÊNCIA.

A produção é falada em português e inglês, e ganhou legendas by LBM nas duas línguas para ser exibido internacionalmente e agora por aqui, em salas selecionadas.

Hoje também, a Diamond Films traz para as telonas “Uma Razão Para Viver”. O drama no estilo cinematográfico britânico num estilo mais clássico foi dirigido por Andy Serkis, responsável pela caracterização de personagens épicos como a criatura Gollum (“O Senhor dos Anéis”) e o macaco César (“Planeta dos Macacos”). É no mínimo surpreendente que alguém associado a criações tão futuristas tenha dado início à sua carreira de diretor com um filme tão conservador, ainda retratando a trajetória de um homem que fica tetraplégico por causa da polio. Ou seja: zero movimento! 😨

O fato obviamente não passou despercebido por nenhum crítico. Dessa vez, no entanto, preferimos focar na reação do coração. Trouxemos para vocês o vídeo do canal The Reel Rejects, com o pessoal reagindo ao trailer em tempo real e fazendo comentários interessantes sobre Andrew Garfield! Sem spoilers, em inglês.

Aqui para os lados do ratinho, a novidade ficou por conta da assinatura: pela primeira vez, um colaborador nosso pôde assinar sua tradução junto ao crédito da LBM. A estreia da nova política nos deixa muito contentes e esperamos que traga satisfação e bons frutos para nossos colaboradores também! Para marcar a ocasião, convidamos a tradutora do filme, Samantha Silveira, para dividir conosco um pouco da experiência dela:

O filme tem um pano de fundo histórico, da época em que o Quênia era uma colônia britânica, mas o foco é a história pessoal do casal central. Apesar da gravidade da doença, os personagens são bem-humorados. Isso ajudou na tradução! Claro que, por ser um filme de época, foi preciso tomar cuidado com o registro, mas a linguagem dos diálogos era irreverente. A parte mais complicada foi a terminologia relativa ao cuidado médico, mas não era um jargão maçante que pesava no filme. Além disso, a fotografia é linda, e isso trazia leveza pra um tema tão complicado.

Parece que alguém gostou do filme!

Sempre bom renovar as esperanças com uma história de superação!

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Assim acaba mais uma edição do LBM em cartaz! Gostou ou amou? Deixe seus comentários e até semana que vem 😉

 

A LBM em cartaz: “A Noiva” e “Um Perfil Para Dois”

E, com vocês, ele. O único, incomparável e indispensável gerente de projetos da LBM: Johnny.

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Semana passada o ratinho não deu as caras aqui, mas como vocês já sabem, isso só acontece quando ele está muito atarefado, aka trabalhando pra caramba, e não sobra um tempo digno pro blog. Mas não tem problema, hoje a gente se redime! Vamos falar de “A Noiva”, esse terrorzão medonho que estreou semana passada, no Dia de Finados (Paris Filmes, we see what you did you there, OK?), e “Um Perfil para Dois”, o romance francês que tem um pé na comédia e outro no drama, a receita perfeita pra deixar qualquer trama bem interessante. Duvida? Vem comigo! Tá na hora de falar de dois trabalhos bem diferentes e que foram feitos em momentos beeeem diferentes também.

Vai com calma, J!

“Um Perfil Para Dois” é um filme muito agradável, com uma narrativa bem construída e uma boa pedida para os menos habituados com o cinema francês fugirem dos blockbusters americanos… por que, né? Nem tudo é filme de herói. Vale a pena “arriscar” ver algo diferente de vez em quando! Não vou me alongar na trama do filme, mas posso dizer que quem assistiu gostou  e recomenda. Leia aqui a crítica da Bianca Zasso para o Papo de Cinema para saber um pouco mais.

Por incrível que pareça, o ratinho já trabalhou em “Um Perfil Para Dois” há alguns meses, afinal a película fez parte da programação do Festival Varilux, que ocorreu de 7 a 21 de junho em diversas cidades do país. Perdeu esse festivalzão lindo? Não chora! Ano que vem tem mais! Fica ligado no site e ativa todas as notificações possíveis.

Quando foi a última vez que você viu um filme francês? Amelie Poulain não conta!

O ratinho fez barba, cabelo e bigode e cuidou tanto da legendagem quanto da acessibilidade de “Um Perfil Para Dois”, e duas coisas chamaram a atenção da nossa equipe dessa vez. A leitura de diálogos e a preparação para a interpretação de Libras. “Um Perfil…” não conta com cópias dubladas nos cinemas, isso significa que, para tornar o filme completamente acessível ao público com deficiência visual, gravamos além da audiodescrição, a leitura dos diálogos, ou seja, um profissional que não pode ser o mesmo audiodescritor do filme, lê os diálogos dos personagens ao longo do filme.

Não decepcione o Pierre e vá ver o filme nas telonas antes que ele saia de cartaz.

Muita gente pode achar estranho ter uma única voz responsável pelas falas de todos os personagens, mas acreditem, é questão de costume e, com uma boa mixagem, fica bacana. O que está se convencionando chamar de leitura de diálogos aqui, na verdade, nada mais é do que o bom e velho voice-over, que desde sempre é a modalidade de tradução preferida de alguns países do leste europeu como a Polônia. Confiram aqui a Julia Roberts e o Hugh Grant trocando uma ideia com a mesma voz. Depois de alguns minutos, já estou curtindo o filme. Sem entender lhufas, é claro! kk

Em seguida, partimos para a janela de Libras, que foi um desafio à parte. Nos dias que antecederam a gravação, eu e a Paloma Bueno, nossa incansável e dedicadíssima intérprete, seguimos o protocolo para esse tipo de filme: uma decupagem simples do roteiro, com todo tipo de anotação pertinente para a interpretação. Paloma dá a letra sobre o processo:

Num primeiro momento, durante o estudo da obra, trabalhamos com base no arquivo de legenda em português, claro! Nosso gerente Johnny estava presente, esclarecendo e dando dicas do francês que não tenho, contribuindo com a tradução para a Libras.

Os três principais desafios foram: primeiro, decidir as expressões equivalentes para a Libras, considerando que isso não é tão explícito nos falantes do francês; a expressividade não é entonada se comparada ao português. O segundo foi decidir quando e como fazer indicações da trilha sonora, que acabamos indicando como “música”, e sons ambiente como “som de sirene de ambulância”; esse último relevante para a compreensão do contexto [ação-reação] em cena. Já o terceiro e não menos importante foi diferenciar “voz em off” quando uma imagem aparece. Decidimos por redução articulatória, uma forma equivalente para fazer narração discreta sem aparição de falante.

Ufa! Não parou por aí… na decupagem, identificados os personagens, partimos para a criação dos sinais com base na característica física mais marcante e permanente no decorrer do filme. Por fim, tivemos a alegria de compartilhar esse processo na XXXVI Semana do Tradutor/II Simpósio Internacional de Tradução e II Encontro do Setembro Azul em Campos do Jordão – Surdez e Acessibilidade.

Nem tudo é romance no Rio Sena e aventuras em Libras na vida do ratinho! Às vezes, ele se mete numa história de amor pra lá de macabra nos recônditos sombrios da Rússia. Em “A Noiva”, um fotógrafo descobre uma forma de perpetuar a presença de sua falecida esposa ao seu lado. (Terapia pra quê, migo?) Só que coisa boa não podia sair dessa situação, convenhamos. Mas meus posts são spoiler free, então paro por aqui.

A grande curiosidade de “A Noiva” ficou por conta de o filme, uma produção original russa, ter sido lançado no Brasil com o áudio dublado em inglês, o que fez muita gente torcer o nariz  e se perguntar: “Por que não deixar o áudio original?”. Além disso, optamos por manter os nomes dos personagens como no original, sem adaptações, da mesma forma que a dublagem americana fez. Tal adaptação seria motivada, principalmente, pelo nome do casal protagonista: Ele = Vanya e Ela = Nastya, o que poderia causar uma confusão para o espectador, mas resolvemos honrar a tradição de Tchekhov e esperamos que ele esteja orgulhoso da gente.

Calma, ninguém tá tentando matar a noiva, não. Ela já está morta!

Tem um comentário bacana? Uma curiosidade? Fala com o ratinho nos comentários ou no Facebook.. Ele adora trocar ideia. Até a próxima!