A LBM em cartaz: Junho, Julho e Agosto

Caríssim@s,

Não, não foi falta de vergonha na cara. Nosso post mensal com as estreias do mês desapareceu por dois meses, mas já foi encontrado. Ele passa bem e volta com muitas fofocas sobre a LBM nas telonas.

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JUNHO

O mês de junho teve muitas emoções. Feliz ou infelizmente, isso não se refletiu nas telonas, com apenas uma estreia lbmística nesse mês.

Clique aqui para ouvir a música-tema de “Raça” enquanto lê nossos comentários sobre a tradução do filme.

RAÇA

A estreia isolada do mês foi o filme sobre a vida de Jesse Owens, mais especificamente do período em que ele recebe uma bolsa universitária para treinar atletismo até a Olimpíada de Berlim, na qual ele bate recordes e deixa Hitler com cara de bunda (ponto para Owens). O filme obviamente tem um apelo muito maior para o público americano, por se tratar de um herói nacional. Mas com a Olimpíada do Rio, foi legal relembrar mitos de outrora e também perceber o quanto os Jogos estão permeados de política e questões sociais e como fica a visibilidade das pessoas no meio disso tudo. Para quem estiver interessado nesse tema, pode dar uma olhada no projeto Rio Visível, que trata do tema da visibilidade das pessoas locais durante os Jogos deste ano.

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Chupa, Hitler.

Mas vamos falar de tradução. “Raça” é um filme longo, mas que não tem uma enorme quantidade de diálogos. O processo correu tranquilo e a parte linguística não apresentou desafios específicos. Claro, a gente quase escreveu “tênis”, em vez de “sapatilha”, mas conseguimos nos corrigir a tempo. Como sempre falamos aqui, tratando-se de um filme de outra época, devemos tomar cuidado extra com termos anacrônicos. Nossa legenda preferida do filme foi : “Os chucrutes levaram uma invertida há 20 anos. Agora estão tentando se reerguer”.

 

JULHO

Julho deu um passo à frente e nos garantiu duas estreias nas telonas, bem diferentes uma da outra, para garantir férias ecléticas no cinema para o público.

A ÚLTIMA PREMONIÇÃO

O terror trazido pela PlayArte, distribuidora tradicional de sustos, conta a história de Evie e uma casa mal-assombrada. Como foi bem colocado pela crítica do Adoro Cinema, “A Última Premonição pertence ao subgênero do terror destinado a explorar os limites de mulheres frágeis, histéricas e possivelmente psicóticas, numa filiação clara a clássicos como O Bebê de Rosemary” (clique aqui para ler na íntegra).

Pobre Evie, ninguém acredita nela.

Como a maioria dos bons filmes de terror, nenhum desafio específico na tradução. Para a LBM, que traduz filmes de terror com frequência, o gênero terror, junto com as comédias, tem sido um território de exploração e experimentação na questão do rompimento com regras gramaticais muito rígidas que ainda imperam no cinema. Temos afrouxado bastante sobretudo nos imperativos e uso de pronomes, o que parece dar um respiro para a leitura das legendas e garantir mais naturalidade ao texto diagonal.

LIFE – UM RETRATO DE JAMES DEAN

A segunda estreia do mês, da Paris Filmes, foi um filme superbacaninha sobre James Dean. Ao contrário da maioria dos filmes biográficos, Life não conta a história do ídolo desde sua infância até morte. Ele foca no período em que Dean faz amizade com Dennis Stock, fotógrafo da Revista Life (daí o nome do filme). Dennis foi quem fez as famosas fotografias de James Dean pouco antes da sua morte num acidente de moto. A escolha desse momento “pouco ilustre” pode parecer estranha, mas revela detalhes importantes nas coisas simples e corriqueiras da vida de ambos os rapazes.

Eis a capa da edição que traz as fotos batidas por Dennis.

Bom filme de assistir e de traduzir. Recomendamos!

 

AGOSTO

Enfim, chegamos a agosto com filmes mais recentes.

 

NEGÓCIO DAS ARÁBIAS

Nossa primeira estreia, em parceira com a Mares Filmes, foi “Negócio das Arábias”, com Tom Hanks.

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Essa cara de perdido do Tom Hanks se repete muito durante o filme.

Um filme não muito falado, mas com falas muito precisas e carregadas de diversas intenções. “Negócio das Arábias” é bem o tipo de filme que parece fácil de traduzir, mas que pode dar muito errado se não levarmos em consideração as sutilezas e a importância que os diálogos trazem em conjunto com a imagem.

 

PERFEITA É A MÃE

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Bad moms dando uma desopilada

A comédia estilo chuta-balde da Diamond Films chegou bombando na segunda semana de agosto. A tradutora principal do filme, nossa colaboradora Juliana Lacerda, escreveu um breve depoimento sobre a experiência de traduzir o filme:

“É sempre muito divertido e prazeroso participar de projetos como ‘Bad Moms’, uma dessas comédias que vale a pena ver e rever e que vai arrancar risadas todas as vezes. O elenco é maravilhoso e o roteiro é hilário, explorando o talento das atrizes muito bem. Sempre que conto às pessoas que traduzo legendas para filmes, muitos pensam que é uma maravilha e que passo o tempo todo rindo e me divertindo enquanto trabalho, e explico que não é bem assim. Mas devo dizer que desta vez foi o caso! Claro, como qualquer trabalho, teve seus desafios; adaptar uma piada aqui, abrir mão de algumas palavras ali, mas foi um filme que me deu liberdade para “brincar” com gírias e achar soluções legais para expressões idiomáticas. Espero que quem vá ao cinema curta o meu trabalho e, principalmente, o filme!”

Obrigada, Juliana. Com certeza todos curtiram muito 🙂

NERVE

E, enfim, na última semana do mês, uma das estreias mais aguardadas do ano: “Nerve – Um Jogo sem regras”.

A logística do filme foi um grande desafio para todos os envolvidos, em diversos aspectos. Para começar, criamos toda uma linguagem especial para o filme, tendo em vista o público jovem. Verbos como “stalkear” e frases como “Que vergonha alheia” podem ser achados nas legendas.

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Jogador deitado num trilho de trem básico

Mas para além dos aspectos linguísticos, o filme foi desafiador pela quantidade absurda de textos na tela. Ao contrário das famosas cartelas que costumamos encontrar em filmes aqui e ali, “Nerve” apresenta uma interação dos dispositivos tecnológicos, como celulares, computadores e tablets, com a tela. As mensagens dos dispositivos aparecem translúcidas como se a própria tela do cinema fosse o dispositivo. E aí, José? A distribuidora fez uma lista de cartelas que seriam nacionalizadas e nós prosseguimos com a criação de documentos paralelos ao arquivos de legenda que discriminavam todos os textos da tela, com indicações de entrada, saída, diálogos próximos e posicionamento. Esses documentos tiveram que ser recriados algumas vezes por conta de mudanças nas decisões do que seria nacionalizado ou não. Mas deu tudo certo e o filme está lindão em cartaz.

Para @s noss@s mais que querid@s leitor@s do blog, estamos disponibilizando oito ingressos para assistir “Nerve” que valem no Brasil todo. As quatro primeiras pessoas a escreverem para blog@www.littlebrownmouse.com.br/toca-do-mouse pedindo, levam. 🙂 Não esqueça de colocar seu endereço para a gente postar!

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É isso aí, rapeize. Em setembro voltamos com mais novidades e reflexões do ratinho!

Curiosidades sobre a legendagem na Alemanha e países europeus

Car@s,

É verdade que nosso blog anda meio parado (meio?). Os últimos meses foram de intensas mudanças para nós todos aqui da LBM, no plano pessoal e profissional, mas podemos afirmar com alívio que são todas mudanças para a melhor! Novos projetos se formando e o trabalho continua a mil.

Para retomarmos nossas postagens, convidamos a Ana Cecília, colaboradora da LBM da equipe do alemão, para nos contar um pouco mais sobre como funciona a legendagem na Alemanha e região. Um texto muito rico e informativo. Aproveitem!

 

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“As legendas interferem menos no conteúdo de um filme do que a dublagem. E os amantes

do cinema priorizam um prazer autêntico.”

Silke Nagel

 

CURIOSIDADES SOBRE A LEGENDAGEM NA ALEMANHA E PAÍSES EUROPEUS

 

Ao longo da história do cinema, duas formas de produção de filmes estrangeiros se tornaram populares: a dublagem e a legendagem. Na Europa, países com pequena extensão territorial (Holanda, Portugal, Grécia e Romênia, por exemplo) ou com mais de uma língua cedo demonstraram suas preferências culturais por filmes legendados. Enquanto isso, França, Itália, Alemanha e demais países de língua alemã adotaram principalmente a dublagem. Nos últimos anos, entretanto, tem havido uma crescente demanda pelas legendas, focada em públicos específicos.

As primeiras legendas do cinema eram exibidas entre as imagens dos antigos filmes mudos. A partir da década de 30 do século XX, passaram a ser integradas nas imagens, sendo atualmente queimadas com laser, o que permite grande precisão e melhor legibilidade.

Starwars
Espera aí…

Na Alemanha, após a chegada do partido nazista ao poder em 1933, as produções cinematográficas eram usadas como instrumento de manipulação a serviço da ideologia totalitária. A chamada “tradução cultural” modificava diálogos originais, que eram dublados conforme indicado pelo partido nazista. Depois da guerra, entre as décadas de 1950 e 1960, o conteúdo dos filmes continuou sendo manipulado, agora para agradar os espectadores e atender aos gostos do público. Um exemplo famoso foram as “mutilações” feitas no filme Casablanca, produção norte-americana, onde as cenas com nazistas foram retiradas e substituídas por uma história de espionagem.

CasablancaPoster-Gold
Referência da foto do filme Casablanca: *By Bill Gold – http://www.impawards.com/1942/casablanca.html, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=25315862

A partir dos anos 80, com a chegada ao mercado do aparelho de vídeo cassete e posteriormente do DVD, o público começou a perceber as alterações grotescas inseridas nas produções e passou a demandar mais respeito pela fidelidade ao original. A nova tecnologia inibiu a alteração deliberada do conteúdo do filme pela dublagem e diminuiu a possibilidade dos cortes de trechos do original.

Atualmente, enquanto a dublagem continua sendo a opção principal do público do mainstream alemão, as legendas conquistam importantes nichos específicos de mercado. Há uma crescente demanda por legendagem, que se intensificou nos últimos anos, buscando atender principalmente às exigências dos mercados específicos de produção de DVDs e dos canais digitais de televisão por assinatura. Tais canais costumam ter um público mais restrito e produções com financiamentos mais baixos, tornando a legendagem a opção ideal, com custos menores.

Silke Nagel, autora do livro Audiovisuelle Übersetzung: Filmuntertitelung in Deutschland, Portugal um Tschechien (Tradução Audiovisual: Legendagem de filmes na Alemanha, Portugal e República Tcheca) e profissional de legendagem, cita os grupos específicos que optam pelos filmes legendados. Os cinéfilos fazem jus ao famoso ditado alemão “A voz de uma pessoa é seu segundo rosto” e preferem os filmes em sua versão original, com legendas, pois querem ouvir o som do idioma estrangeiro e das vozes verdadeiras dos atores. Na Alemanha, os filmes legendados são exibidos para os “amantes do cinema” em salas alternativas e também podem ser encontrados em DVD.

Há também associações de deficientes auditivos que lutam pela regulamentação do uso de legendas no país, através de leis que garantam o acesso irrestrito às informações na televisão. Outro grupo que prefere as legendas é o dos estudantes de línguas estrangeiras, que buscam filmes e programas para treinarem seus conhecimentos. Assistindo às produções no idioma original podem ampliar o vocabulário, memorizar as estruturas idiomáticas e exercitar a compreensão auditiva. Uma pesquisa da Comissão Europeia sobre os europeus e seus idiomas confirma que, embora 56% da população prefira filmes dublados, os cidadãos de países que costumam legendar seus filmes são ‟mais bem treinados em diversos idiomas”.

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Ana Cecilia Montenegro Bayreuther é tradutora e revisora de textos e legendas, pós-graduada em tradução de inglês e professora de português como língua estrangeira na Alemanha, onde reside. Formada em Direito pela PUC/RJ, adora livros, artes e cinema. Prefere filmes originais com legendas, claro.

 

Referências:

Antweiler, Kathrin. Geschichte der Untertitelung. Disponível em: <http://www.fask.uni-mainz.de/cafl/doku/multimedia/untertitelung/Untertitelung-Inhalt.html#Inhalt >

Deneger, Jana. Legendagem de filmes: a voz como segundo rosto. Goethe-Institut e. V., Online-Redaktion. Disponível em: <http://www.goethe.de/ins/br/lp/kul/dub/flm/pt6456940.htm>.

Jacob, Alex. Die Geschichte der Film Synchronisation in Deutschland. Sprechersprecher. Disponível em: <http://www.sprechersprecher.de/blog/die-geschichte-der-film-synchronisation-in-deutschland>.

Staud, Sophie. Audiovisuelle Translations. Disponível em: <https://prezi.com/orahvpbzmtmg/audiovisuelle-translations/>.